Maior gestora global do mercado de ETFs, a BlackRock projeta um crescimento acelerado na adoção desse tipo de investimento no Brasil. No País, a classe representa 0,57% da indústria de fundos, com um volume de R$ 57,33 bilhões. Globalmente, a gestora americana administra cerca de US$ 5 trilhões em ETFs.

A confiança na evolução da demanda fez a BlackRock ampliar sua oferta local e romper um hiato de 11 anos sem estruturar produtos próprios no Brasil. Na segunda-feira, 15 de setembro, a gestora listou na B3 29 ETFs de sua base global por meio de BDRs, elevando sua grade para 181 produtos no mercado brasileiro.

Dos novos fundos, 28 são de renda variável – 19 deles focados em países específicos, como Itália, Holanda, Filipinas, Emirados Árabes e Israel – e um de renda fixa.

“Dá para esse mercado pelo menos triplicar no Brasil, talvez quadruplicar, nos próximos cinco anos”, afirma Cristiano Castro, diretor de desenvolvimento de negócios da BlackRock Brasil, em entrevista ao NeoFeed.

“Tentamos buscar os instrumentos mais líquidos para trazer ao mercado brasileiro, garantindo uma boa experiência para o cliente na entrada e na saída”, complementa.

Atualmente, há 298 ETFs listados em forma de BDRs e cerca de 140 com listagem local. Apesar da diversidade de estratégias, apenas 640 mil investidores brasileiros possuem ETFs em carteira, pouco mais de 10% dos 6,11 milhões que investem em ações na B3.

O investidor também começará a ver uma outra mudança sutil: a mudança de nomenclatura. Os BDRs de ETFs passam a se chamar "ETFs globais" enquanto os listados diretamente na B3, de "ETFs locais" - mesmo que tenham exposição internacional.

“Tem bastante espaço para essa indústria crescer, justamente por essa eficiência e menor custo”, diz Thalita Forne, superintendente de produtos de equities da B3.

O modelo comissionado para o fee based (percentual da carteira do cliente) nas assessorias de investimento terá peso direto no sucesso dos ETFs. A expectativa é que esse maior alinhamento de interesses favoreça os ETFs, por não pagarem rebate e apresentarem custos mais baixos para os investidores.

“O mercado brasileiro tem 5% nesse modelo de assessoria. Não acho um absurdo esse número ir para 20% ou 25% do mercado em cinco anos. Isso é uma premissa até conservadora. Então, esse negócio deveria decolar”, diz Castro.

Nos Estados Unidos, segundo ele, o modelo fee based corresponde a 65% das assessorias de investimento. O executivo avalia que o mercado de ETFs no Brasil vive um momento de inflexão, impulsionado por mudanças regulatórias que aumentaram a transparência na estrutura de custos das assessorias. No Brasil, já existem casas com quase 15% dos clientes no modelo fee based.

Incentivo à formação

A BlackRock tem atuado ao lado da B3 na construção de conteúdos e iniciativas para formação do mercado, incluindo parcerias para capacitação de assessores financeiros e desenvolvimento de trilhas educacionais com a Ancord.

Segundo Forne, a bolsa tem implementado medidas para incentivar os assessores a recomendarem ETFs aos seus clientes. Entre as ações estão a inclusão de módulos obrigatórios sobre ETFs nas certificações de assessores e a criação de uma categoria específica na premiação da Associação Brasileira de Agentes Autônomos (BAE) voltada aos profissionais que mais ofertam o produto.

A B3 também lançará um programa de incentivo financeiro às corretoras, com remuneração adicional proporcional ao crescimento do volume negociado em ETFs por seus clientes. “Tudo isso busca colocar o ETF de forma mais presente no canal de distribuição”, afirma Forne.

O executivo da BlackRock observa que esse ainda é um mercado em construção e, embora veja potencial, a gestora tem adotado cautela no lançamento de ETFs locais. Apesar disso, o executivo acredita que ainda não é o momento para um ETF brasileiro de renda fixa, mesmo com o avanço recente da categoria em captação.

“Acreditamos que o mercado de ETF de renda fixa vai crescer, e estamos nos preparando para, em algum momento, entrar. Só que isso demanda uma maturação do mercado”, diz Castro.

Segundo ele, ainda há pouco entendimento, por parte do investidor brasileiro, sobre o funcionamento da marcação a mercado na renda fixa – o que pode gerar confusão em relação à volatilidade natural desses ETFs.

O histórico do mercado local, fortemente baseado em ativos pós-fixados e na estratégia de “carregar até o vencimento”, dificulta a aceitação de produtos com oscilações diárias de preço.