A queda de dois aviões 737 MAX em um curto espaço de tempo, entre o final de 2018 e início de 2019, chocaram o mundo e levaram a Boeing a enfrentar a pior crise de sua história. Com 346 vítimas fatais, a fabricante americana viu a quarta geração da família Boeing 737 ter suas operações interrompidas por cerca de 20 meses.
Apesar de ter feito os consertos necessários no 737 MAX, que voltou a operar completamente em novembro de 2020, o episódio marcou para sempre a Boeing, que enfrenta até hoje as consequências.
O mais recente desenvolvimento do caso foi revelado nesta quinta-feira, dia 22 de setembro, com o anúncio de que a empresa fechou um acordo para pagar uma multa de US$ 200 milhões à SEC.
Segundo a autarquia, equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no Brasil, o valor foi despendido para encerrar o processo em que a Boeing era acusada de enganar investidores a respeito da segurança da aeronave e de seu sistema de controle automatizado de estabilização, o MCAS.
O CEO da Boeing na ocasião, Dennis Muilenburg, também fechou um acordo com a SEC a respeito desse episódio, concordando em pagar uma multa de US$ 1 milhão. Os valores serão destinados a um fundo a ser estabelecido para reparar investidores que foram prejudicados pelo caso.
Segundo a SEC, após a primeira queda, do 737 MAX operado pela companhia aérea Lion Air, na Indonésia, em outubro de 2019, a Boeing e Muilenburg sabiam que o MCAS tinha problemas. Mesmo assim, eles declaram ao público que a aeronave era “tão segura quanto qualquer outra que já voou nos céus”.
E quando o avião da Ethiopian Airlines caiu na Etiópia em março de 2019, a empresa e o executivo voltaram a divulgar informações falsas, quando disseram que não havia qualquer questão envolvendo a certificação do MCAS.
“A Boeing e seu antigo CEO Dennis Muilenburg falharam na sua obrigação mais básica”, diz, em nota, o presidente da SEC, Gary Gensler. “Eles enganaram os investidores ao oferecerem garantias a respeito da segurança do 737 MAX, apesar de saberem das sérias questões de segurança.”
As investigações dos dois acidentes revelaram uma série de falhas nos processos de desenvolvimento e produção da Boeing e do 737 MAX, além de terem arranhado a imagem da Agência Nacional de Aviação Civil dos Estados Unidos (FAA, na sigla em inglês), acusada de displicência no processo de certificação da aeronave.
O 737 MAX era a principal aposta da Boeing para competir com a Airbus, mas o caso colocou em xeque a reputação da companhia, afetando seriamente seus resultados. A situação ganhou contornos ainda mais dramáticos com a chegada da pandemia.
Com o mundo proibindo voos com o modelo, e a brusca queda das encomendas em função da Covid-19, a Boeing fechou 2020 com um prejuízo de US$ 11,9 bilhões, enquanto em 2019 a perda atingiu US$ 636 milhões.
A crise desencadeada pelos problemas com o 737 MAX foi, inclusive, apontada como um dos motivos para a Boeing encerrar as negociações com a Embraer para formar uma joint venture na área de aviação comercial.
As ações da Boeing fecharam o pregão de hoje com queda de 3,20%, a US$ 138,71, acumulando queda de 31,5% no ano. O valor de mercado da companhia atualmente é de US$ 82,3 bilhões. Em março de 2019, na época do segundo acidente, a Boeing estava avaliada em US$ 238,7 bilhões.