Na terça-feira, 27 de fevereiro, a BRF seguiu um trajeto semelhante ao que já havia cumprido em agosto do ano passado, quando divulgou seu desempenho no segundo trimestre e viu suas ações liderarem as altas na B3.

Já na manhã da divulgação do resultado, os papéis da empresa abriram o dia mais uma vez no topo desse pódio, com uma valorização de mais de 4,5%. Há uma diferença, porém, entre esse novo script e aquele protagonizado há seis meses, quando a companhia divulgou um prejuízo trimestral de R$ 1,33 bilhão.

Desta vez, o grupo reportou um lucro líquido de R$ 754 milhões entre outubro e dezembro de 2023, revertendo a perda de R$ 956 milhões em igual período, um ano antes. E, em um recorte mais amplo, registrou seu primeiro lucro trimestral após sete balanços consecutivos no vermelho.

O marco em questão é reforçado por outros números do período. E, na soma desses indicadores com as perspectivas para 2024, a BRF enxerga um cenário mais otimista para mostrar que está, de fato, virando a chave no exemplo mais recente dentro do seu amplo histórico de reestruturações.

“O BRF+, nosso programa de eficiência, avançou em 2023, somando mais de R$ 2,2 bilhões em capturas no ano”, afirmou Miguel Gularte, CEO da BRF, em conferência com analistas para tratar dos resultados do quarto trimestre e do ano de 2023.

“Nós já temos um desenho do BRF+ 2.0, que vai repercutir ao longo deste ano”, acrescentou. “E, com a melhora dessas iniciativas, aliada a uma conjuntura mais favorável, de grãos, custos e preços internacionais, a expectativa é dar sequência a esse desempenho em 2024.”

A partir da combinação do BRF+, que engloba uma série de ações, da produção à estratégia comercial, com fatores como a queda na cotação dos insumos e a recuperação dos preços no exterior, a BRF já está executando os próximos passos do programa, cuja primeira versão foi lançada no fim de 2022.

“O BRF+ é um esforço contínuo e que já tem uma maturidade de um ano e um trimestre”, observou Gularte. “E ele se retroalimenta. Se, por exemplo, temos um determinado local onde a mortalidade de frangos e suínos é menor, nós buscamos os indicadores e replicamos em outras operações.”

O CEO ressaltou que esse viés, que ele chama de “benchmarking interno”, já está sendo colocado em prática em diversas frentes e em todas as áreas do grupo – dos fornecedores à indústria até a logística e às estratégias comerciais e de precificação dos produtos.

A comparação entre os números de 2022 e 2023 ajuda a materializar parte dos avanços viabilizados pelo programa. O índice de conversão alimentar, por exemplo, que mede a relação entre a ração consumida e a carne produzida, recuou 2,5%, em frangos, e 1,4%, em suínos.

A mortalidade de frangos e suínos, por sua vez, caiu 1,8% nessa mesma base. Já o custo médio por quilo (CPV) recuou 7,5% no mercado doméstico, para R$ 9,39, enquanto nas operações do exterior, o mesmo indicador mostrou uma redução de 4,3%, para R$ 9,91.

“No quarto trimestre, o CPV no Brasil foi 5% menor em relação à média de todo o ano”, afirmou Fábio Mariano, CFO da BRF, acrescentando outros dados para reforçar a tendência de um cenário mais positivo para 2024. “E, na operação internacional, foi 8% menor do que a média do ano.”

Com um capex previsto para o ano na faixa de R$ 2,8 bilhões a R$ 3 bilhões, em linha com o montante investido em 2023, os executivos negaram que o foco em 2024 será priorizar a rentabilidade em detrimento da abertura para uma expansão de volumes, sugerida por esse contexto mais otimista.

“Quando se tem novos destinos comerciais, com as 66 novas habilitações que fizemos em 2023, é possível combinar aumento de volume e manutenção da rentabilidade”, disse Gularte. “Estamos entrando em 2024 muito bem encaixados, o que nos permite capitalizar essas oportunidades.”

Mariano acrescentou que, dado o volume de investimentos feitos pela BRF na expansão de sua capacidade produtiva na pandemia, especialmente em processados, é possível atender a esse aumento esperado com um volume de recursos até mesmo inferior aos R$ 3 bilhões alocados no ano passado.

“Ainda temos ociosidade nas linhas e temos capacidade de expandir os volumes com um investimento bastante marginal”, observou. “E entendemos que o ambiente, hoje, é muito mais favorável do que aquele que navegamos em três trimestres do ano passado.”

Outras marcas

Apesar do primeiro lucro trimestral desde o fim de 2021, a BRF ainda tem o desafio de consolidar esse mesmo desempenho no balanço anual. Em 2023, a empresa registrou um prejuízo líquido de R$ 1,86 bilhão, uma redução de 40,5% na comparação com a perda divulgada em 2022, de R$ 3,09 bilhões.

No quarto trimestre, a receita líquida da companhia recuou 2,3%, para R$ 14,4 bilhões. Enquanto, em todo o ano de 2023, essa mesma linha apresentou uma ligeira queda, de 0,4%, fechando o período em R$ 53,6 bilhões.

Já o Ebitda ajustado trimestral foi de R$ 1,9 bilhão, o que representou uma alta de 76,3%. Em 2023, o crescimento ficou em 14,8%, para R$ 4,7 bilhões. Já a margem Ebitda ajustada evoluiu de 7,3% para 13,2% sobre o quarto trimestre de 2022, e de 7,6% para 8,8% no ano consolidado.

Além do lucro, o balanço do trimestre trouxe outras marcas. De outubro a dezembro, a BRF registrou uma geração de caixa de R$ 613 bilhões, contra um consumo de caixa de R$ 67 milhões, um ano antes. A cifra representou seu melhor indicador nessa linha em um trimestre nos últimos três anos.

Em contrapartida, levando-se em conta o desempenho de 2023, a empresa seguiu consumindo caixa, com um total de R$ 1,1 bilhão. O montante mostrou, porém, uma redução frente aos R$ 3,9 bilhões divulgados em 2022.

Em outro indicador, a BRF encerrou o ano passado com uma dívida líquida de R$ 9,4 bilhões, contra R$ 14,5 bilhões em 2022. Já a alavancagem, medida pela relação dívida líquida/Ebitda ajustado, saiu de 3,55 vezes, um ano antes, para 2,01 vezes, o melhor patamar em sete anos.

Por volta das 12h35, as ações da BRF estavam sendo negociadas com alta de 7,21%, cotadas em R$ 15,02, dando à empresa o posto de segunda maior alta na B3, atrás apenas do GPA. No ano, os papéis da companhia, avaliada em R$ 25,1 bilhões, registram uma valorização de 8,7%.