Incertezas comerciais e preços menos atrativos após anos de valorização têm reforçado a busca de investidores por oportunidades fora do mercado americano – cenário em que o Brasil tem emergido como alternativa.
De acordo com números prévios da B3, os estrangeiros acumulavam saldo positivo de R$ 10,1 bilhões em maio (até o dia 22). O montante representa quase todo o fluxo de capital externo para a bolsa até abril, que somava R$ 10,9 bilhões. No ano, o ingresso total já chega a R$ 21 bilhões.
“A maior entrada de estrangeiros na bolsa está sendo em maio. O início do mês ainda foi marcado pela aversão ao risco com o tarifaço, e não havia um vetor doméstico claro. Agora, há expectativa de queda na taxa de juros, o que tem beneficiado empresas do setor doméstico”, diz Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura.
Segundo pesquisa recente do Bank of America com gestores de fundos, o otimismo com a bolsa brasileira está no maior nível da série histórica – assim como o Ibovespa. Na semana passada, o principal índice da B3 ultrapassou os 140 mil pontos pela primeira vez, recuando depois para a casa dos 138 mil com as realizações de lucros. Ainda assim, metade do mercado acredita que o Ibovespa encerrará o ano acima dos 140 mil pontos – o que abriria espaço para novos recordes.
Esse cenário positivo acompanha os dados do Banco Central divulgados na segunda-feira, 26 de maio, que revelaram a entrada de US$ 5,5 bilhões em investimento estrangeiro direto (IED) no País em abril, um aumento de 41% em relação ao mesmo período do ano passado.
O resultado foi impulsionado pelo crescimento da participação em capital, que somou US$ 6,6 bilhões. Já as operações intercompanhias – que incluem amortizações de matriz – ficaram negativas em US$ 1,1 bilhão.
Apesar da expectativa já otimista para os dados de IED, os números vieram acima do esperado, superando o consenso de mercado, que projetava US$ 4,9 bilhões para abril. No acumulado de janeiro a abril, o ingresso soma US$ 27,3 bilhões. Em 12 meses, o IED equivale a 3,19% do PIB.
Com investimento direto no exterior ficando em US$ 1,2 bilhão, o IED líquido encerrou o mês de abril em US$ 4,3 bilhões, alta de 58% na comparação anual.
“O IED continua bastante robusto, apesar de toda a cautela com o cenário externo, o que é surpreendente. A confiança do investidor estrangeiro em investir nessa modalidade permanece”, afirma Borsoi.
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O economista destaca, no entanto, que esse tipo de investimento está ligado ao longo prazo, voltado à capacidade produtiva, e não inclui compras de ações ou títulos da dívida.
“São investimentos de mais longo prazo. Pode refletir os leilões de infraestrutura, com o capital externo sendo internalizado, ou investimentos na indústria automotiva, como a nova fábrica da BYD na Bahia, por exemplo”, diz o economista.
Nos investimentos estrangeiros em carteira, contabilizados separadamente pelo BC, o saldo foi positivo em R$ 509 milhões, revertendo as saídas dos meses anteriores. O principal ingresso ocorreu no mercado de títulos de dívida, com entrada de R$ 1,95 bilhão. Em ações e fundos de investimento, porém, houve saída de R$ 1,44 bilhão – sendo R$ 803 milhões em ações.