Desde que a Waymo, subsidiária da Alphabet (Google), começou a colocar veículos autônomos em circulação nos Estados Unidos, em 2020 - inicialmente em Phoenix, no Arizona -, oferecendo o primeiro serviço comercial de robotáxis totalmente sem motorista humano, os americanos ficaram obcecados com eventuais problemas de segurança ou até mesmo pequenos deslizes com a novidade.

E se havia alguma reclamação, a maioria se concentrava no excesso de zelo do motorista virtual - seja obrigatoriamente dando passagem a outro veículo, muitas vezes andando devagar demais e sempre evitando risco mínimo que fosse a pedestres e outros carros que passassem por perto. O caso clássico era do carro da Waymo ficar parado atrás de um caminhão estacionado em fila dupla na rua, esperando a retirada da carga e saída, para não ultrapassar a faixa dupla amarela, o que é proibido.

Depois de a Waymo expandir o serviço de robotáxis para Los Angeles, San Francisco e Austin, acumulando mais de 161 milhões de quilômetros rodados até junho de 2025, a reclamação mudou.

Como aquele motorista legal que segue as regras, mas está cansado de ser explorado, os carros da Waymo passam a impressão de estarem priorizando suas próprias necessidades, ficando impacientes com o trânsito e abraçando a ideia de que, quando se trata de dirigir na cidade, a gentileza não compensa - é cada carro por si.

Os relatos de pequenas infrações envolvendo os carros autônomos têm se multiplicado nas redes sociais. Nada grave, que coloque em risco a vida (humana) à sua volta, como o relato de uma passageira reclamando que o robotáxi da Waymo parece estar “incorporando” os vícios de motoristas da Uber. "Você diz 'me busque neste endereço' e eles param e ficam esperando do outro lado da rua”, lamenta.

Numa quinta-feira recente em Austin, um Waymo parado num cruzamento de quatro vias acelerou junto com o carro ao lado para não ter que esperar a sua vez. Segundos depois, o mesmo carro decidiu que sinalizar a mudança de faixa não era necessário. Um vídeo postado em redes sociais mostrou um carro da Waymo com passageiro dentro passando a poucos metros de um homem que a polícia havia ordenado que saísse do veículo e se deitasse no chão antes de prendê-lo.

Resignada, a Waymo usou por um bom tempo uma justificativa-padrão para todos os deslizes: o problema é sempre resolvido posteriormente com "uma atualização de software". Mais recentemente, com o aumento de reclamações com algumas barbeiragens em grandes cidades, a empresa passou a deixar claro que os carros autônomos estão se adaptando à selva do trânsito.

“A Waymo tem se esforçado para tornar seus carros confiantes e assertivos", diz Chris Ludwick, diretor  de gerenciamento de produtos da Waymo. "Isso foi realmente necessário para que pudéssemos expandir o serviço em San Francisco, principalmente devido ao grande fluxo de veículos na cidade." Ludwick vai além e assegura que atualizações regulares de software garantem que os Waymos não se tornem um incômodo ou causem caos.

“O motorista foi projetado para respeitar as regras de trânsito”, emenda Ludwick. “No entanto, às vezes esse é um assunto complexo e as regras de trânsito podem até entrar em conflito entre si.” Ele cita o exemplo de que não se deve cruzar uma faixa dupla amarela, mas também não se deve obstruir o trânsito.

“Então, se você ficar preso atrás de um caminhão de entregas parado, o motorista o contornaria mesmo que isso significasse cruzar a faixa dupla”, prossegue, lembrando que, agora, “o robotáxi da Waymo também sabe disso”.

“Fina” de pedestre

Outros exemplos de “assimilação” de manobras marotas no trânsito chamaram a atenção. Um homem caminhando para a academia se viu em uma faixa de pedestres em frente a um veículo da Waymo. Assim que ultrapassou a frente do carro, este começou a acelerar, tirando “fina” da potencial vítima de atropelamento.

A Waymo alega que, quando se depara com eventos incomuns, aprende com eles para aprimorar a segurança viária, lembrando que, em comparação com um motorista humano médio na mesma distância nas cidades onde opera, os carros autônomos da empresa tiveram cerca de 90% menos acidentes com ferimentos graves ou morte.

Um caso recente, porém, mostrou outra “evolução”. Uma dupla de policiais em patrulha na cidade de San Bruno, na Califórnia, parou um Waymo depois de vê-lo fazer uma conversão proibida. Quando um policial se aproximou do lado do motorista, a janela do carro abaixou e a voz de um operador da Waymo pediu desculpas pelo alto-falante, prometendo verificar a falha do software.

Como, na Califórnia, a polícia não pode multar um carro sem motorista, o veículo da Waymo parece ter assimilado a regra oculta número um do trânsito – cometer infração sem ser penalizado.