Causou estranheza entre advogados que defendem diretores e executivos da Americanas a divulgação de um fato relevante com um relatório que demonstra “os esforços da diretoria anterior para ocultar do conselho de administração e do mercado em geral a real situação de resultado e patrimonial da companhia”.

A estranheza se deve a três fatores. O primeiro é de que o relatório é preliminar. Portanto, ainda não está concluído. O segundo é a data que o fato relevante foi divulgado: no mesmo dia em que o CEO da varejista, Leonardo Coelho Pereira, iria depor na CPI da Americanas. E por isentar o conselho de administração e o trio de acionistas de referência, Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, antes de a investigação ter sido concluída.

No começo da noite, na CPI, Pereira usou as informações do documento divulgado no fato de relevante como base de seu depoimento aos parlamentares.

"Essas evidências trazidas ao senhores e às senhoras hoje, elas não mais me permitem, como diretor- presidente que estou desde 15 de fevereiro, tratar como inconsistências contábeis", afirmou. Pereira acrescentou que "os documentos que têm hoje" não indicam participação de conselheiros ou acionistas.

O relatório foi feito por assessores jurídicos que não foram identificados no fato relevante e admite pela primeira vez que a as “inconsistências contábeis” foram uma fraude, citando nominalmente nomes da antiga diretoria. A base da fraude seriam contratos inflados de verba de publicidade e de incentivos comerciais.

Entre os nomes citados pelo documento estão o ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, os ex-diretores Anna Saicali, José Timótheo de Barros e Márcio Cruz Meirelles, e os ex-executivos Fábio Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes.

Os assessores econômicos que teriam produzido o documento usado por Pereira são os escritórios de advocacia BMA e Vilardi Advogados, que teriam sido contratados pela Americanas para o caso, segundo uma reportagem do Valor Econômico.