Quando decidiu investir para renovar a sua frota, em 2021, no auge da pandemia, a Movida deu preferência à aquisição de carros de maior valor agregado, entre eles, os utilitários esportivos (SUV, na sigla em inglês). 

Entre os motivos por trás dessa decisão estava a demanda dos consumidores por automóveis mais confortáveis e modernos no momento da locação. Além do fato de as montadoras terem investido mais na produção de carros com maior valor agregado, enquanto sofriam com a falta de peças para produzir uma maior variedade de veículos. 

Só que o mundo mudou. Com o cenário de juros altos, a retomada da produção de automóveis e a volta do trabalho presencial, os carros 1.0 começaram a ganhar espaço no mercado e na preferência do consumidor. E a Movida, diante dessa situação, pretende investir mais em carros populares para reforçar a sua frota.

“A gente deve ter uma mudança do mix de carros”, diz Renato Franklin, CEO da Movida, ao NeoFeed. “Não é uma transformação gigante, será gradativa. A gente enxerga que, ao longo de 2023, vamos comprar carros mais baratos.”

A frota total da companhia alcançou 213 mil veículos no terceiro trimestre, um crescimento de 26,4% em relação ao mesmo período do ano passado, com um relativo equilíbrio entre SUVs e carros populares. Franklin não diz quanto os veículos 1.0 representarão daqui para frente.

A alta da Selic, atualmente em 13,75% ao ano, explica o incentivo por automóveis mais baratos. Quando a taxa de juros foi levada a patamares historicamente baixos na época da pandemia, a diferença de preço de aluguel entre um SUV e um carro pequeno ficou menor, considerando que os juros são proporcionais aos preços dos automóveis. 

Isso estimulou os consumidores a pagarem a diferença, que caiu para níveis bem baixos, e locarem um veículo mais caro. O aperto monetário conduzido pelo Banco Central pôs um freio nessa tendência. 

“A diferença entre o preço de alugar um SUV e um popular aumentou, então mais consumidores estão optando por alugar um carro mais barato”, diz Franklin. 

Na pandemia, a compra de SUVs serviu também para atender a demanda de pessoas que estavam viajando mais de carro, em distâncias maiores, e que buscavam mais conforto. Agora, de acordo com Franklin, a volta aos escritórios e a retomada das viagens aéreas também vem desestimulando o aluguel de carros mais caros. 

Além disso, houve o retorno das viagens corporativas, que normalmente duram poucos dias e nas quais as empresas tendem a liberar valores menores para aluguel de automóveis. “Isso tudo acaba gerando uma demanda maior por carros 1.0 quando a gente olha para frente”, diz Franklin.

A retomada da indústria automobilística, muito afetada pela quebra das cadeias de fornecimento, também é um fator que influencia na decisão da Movida. Com os juros elevados, que também prejudicam suas vendas, as montadoras também estão ajustando uma parte da produção para carros mais baratos.

“Antes não tinha tanta disponibilidade”, diz Franklin. “O mix começou a melhorar a partir de outubro, permitindo comprar um pouco mais de carro 1.0.” Esse aumento de oferta, inclusive, já teve consequências sobre os resultados do terceiro trimestre da Movida. O custo de depreciação da divisão de aluguel de carros aumentou 310%, em base anual, com a companhia ajustando as premissas de preço de venda dos automóveis. 

Segundo Franklin, a indústria automotiva está mais agressiva, querendo vender mais volume, oferecendo grandes descontos nas compras de 2023 para locadoras e o varejo. A situação afeta o mercado de seminovos, com a companhia podendo ser obrigada a dar desconto na venda de carros antigos. 

“Se eu vou dar um desconto adicional, muda minha projeção de venda, e aí eu faço isso antecipadamente na minha depreciação, para preservar a margem de seminovos lá na frente”, diz.

Franklin diz ainda que o foco em veículos mais baratos para seminovos não terá impactos sobre os resultados da unidade. Segundo o executivo, o nível de vendas permanecerá elevado, porque são carros mais fáceis de comercializar. 

“A receita de seminovos total não cai, porque como a frota vai crescer, você acaba vendendo muito mais volume”, diz. No terceiro trimestre, foram vendidas mais de 20 mil unidades, com preço médio acima de R$ 70 mil.

Entre julho e setembro, a Movida registrou um lucro líquido de R$ 93,7 milhões, queda de 64% em relação ao mesmo intervalo de 2021, prejudicado pelo efeito da alta dos juros sobre a linha financeira do balanço. 

A receita cresceu 66,1%, para R$ 2,6 bilhões, enquanto o Ebitda subiu 51%, para R$ 925,3 milhões. As ações da companhia fecharam o pregão desta segunda-feira, dia 7 de novembro, com queda de 4,65%, a R$ 13,52. No ano, elas acumulam queda de 14,3%, levando o valor de mercado para R$ 4,8 bilhões.