Nos dias atuais, todo mundo quer ser fintech. Não seria diferente com o Méliuz, que vendeu ao mercado, desde o seu IPO, em novembro de 2020, uma história que contemplava a integração dos serviços financeiros aos de shopping, através de sua plataforma de cashback e cupons de descontos.

Nesta segunda-feira, 31 de janeiro, o Méliuz está dando seu primeiro passo nessa direção ao anunciar uma nova versão de seu aplicativo que incluirá uma conta digital, um novo cartão de crédito próprio e investimentos em bitcoin, conforme havia antecipado o NeoFeed.

“Fico incomodado quando dizem que vai ser mais uma conta digital, mais um banco digital”, diz Salmen, ao NeoFeed. “No nosso caso, os serviços financeiros vão ajudar a cumprir nossa missão que é ajudar as lojas parceiras a vender mais.”

O novo aplicativo estará disponível inicialmente para apenas parte da base do Méliuz, que atingiu 22,4 milhões de usuários cadastrados no quarto trimestre de 2021, segundo uma prévia do resultado operacional divulgada pela empresa. O número de clientes ativos somou 9,4 milhões no período.

Até o fim de fevereiro – ou no máximo até início de março – a estimativa é de que toda a base possa começar a usar os serviços financeiros. Semanalmente, novos recursos vão ser adicionados ao cliente. “Vamos ter empréstimo pessoal, seguros e, na parte de cripto, vamos trazer mais moedas”, diz Salmen.

Salmen não faz estimativa de quantos dos usuários do Méliuz vão aderir a nova conta digital – a migração não é automática e precisa de autorização do consumidor.

A infraestrutura tecnológica é da Acesso Bank, dona do serviço Bankly, um bank as a service. A companhia foi comprada em maio de 2021 pelo Méliuz em uma transação estimada na época em R$ 324 milhões, que envolvia apenas troca de ações. Como o negócio ainda não foi aprovado pelo Banco Central, o Méliuz está usando a infraestrutura da empresa como um cliente.

A chegada do novo aplicativo do Méliuz marca também a estreia do cartão de crédito próprio da companhia, com bandeira Mastercard. No período de pré-cadastramento, 700 mil pessoas fizeram o pedido para o cartão. A companhia não divulga o número de pedidos que foram aprovados.

Antes, o Méliuz contava com uma parceria com o Banco Pan que teve 7 milhões de cartões de crédito solicitados (dado do terceiro trimestre de 2021). Neste período, o cartão cobranded teve um volume total de pagamentos (TPV) de R$ 914 milhões. Em 12 meses, o TPV atingiu R$ 2,8 bilhões.

Com o cartão próprio, o Méliuz passa a ter novas receitas. “Antes, éramos apenas um distribuidor do cartão”, afirma Salmen. “Agora, passamos a ter receita relacionada ao cartão de crédito.”

O Banco Pan, por sua vez, comprou a Mosaico, dona do sites de comparação de preços Buscapé, Zoom e Bondfaro, que havia entrado em cashback e cupons de desconto, em um sinal de que a competição na área do comércio eletrônico ia ficar mais concorrida.

Questionado se, com a chegada do novo aplicativo, as ações do Méliuz podem se recuperar, Salmen diz que, com o lançamento, começa a colher o que plantou no IPO e no follow on – nesta oferta, em julho do ano passado, a companhia captou R$ 1,16 bilhão, em uma operação que foi ancorada pelas gestoras Constellation e Brasil Capital e contou também com a participação do fundo soberano de Cingapura (GIC) e Verde.

“O preço das ações é uma tradução de quanto estamos fazendo esse negócio funcionar internamente”, diz o empreendedor. “Teremos um ambiente mais completo e uma receita média por usuário maior.”

Desde o pico, em 23 de julho de 2021, pouco depois do follow on, os papéis já caíram 75%. Mesmo assim, em comparação ao IPO, em novembro de 2020, sobem 94,6%. O Méliuz vale R$ 2,3 bilhões.