Divulgado na quinta-feira, o resultado da Cyrela trouxe números considerados fortes e robustos pelos analistas. Entre outros adjetivos e dados, a incorporadora mais que dobrou seu volume de lançamentos em relação ao primeiro trimestre e reportou um lucro líquido de R$ 279 milhões, alta anual de 85%.

Com o balanço positivo e um cenário macro com indicativos de melhora, especialmente em linhas que impactam diretamente o setor, como a queda da taxa de juros, não seria surpresa se a empresa estivesse disposta a pisar no acelerador. No entanto, ao que tudo indica, a preferência é por manter os pés no chão.

“O cenário acabou sendo um pouco melhor do que o esperado, mas o Brasil é muito instável e daqui a pouco piora de novo”, disse Raphael Horn, copresidente da Cyrela, a analistas nesta sexta-feira. “Ninguém vive de euforia e não tem mágica. É trabalhar duro e torcer para que o macro não atrapalhe.”

Essa visão foi a tônica de boa parte da conferência sobre o resultado do segundo trimestre. Passando, por exemplo, sobre os questionamentos acerca de uma possível ampliação no volume de lançamentos no portfólio do grupo, dado o contexto, a princípio, mais animador.

Entre abril e junho, a companhia fez 17 lançamentos, contra 13, há um ano. O Valor Geral de Vendas (VGV) desses projetos somou R$ 3,5 bilhões, alta de 51%. As entregas, por sua vez, ficaram em R$ 1,2 bilhão, um avanço de 51%.

No trimestre, as vendas contratadas foram de R$ 2,9 bilhões, uma expansão anual de 54%, enquanto as vendas sobre a oferta, que indicam a velocidade de vendas, saíram de 43,2% para 48,1%. Já o estoque ficou em R$ 9,7 bilhões, um crescimento de 12% sobre o indicador do primeiro trimestre de 2023.

“Não estamos pensando em acelerar porque vendemos bem esse trimestre. Não é assim que funciona”, observou. “Somos compradores de terrenos. Estamos montando a grade de 2024 e 2025 de acordo com o que gostamos. O Brasil é um país difícil. Então, a gente não se anima nem desanima muito.”

O tom mais cauteloso também se estendeu ao início da queda da taxa básica de juros e aos questionamentos sobre os reflexos na ponta dos compradores de imóveis. Ao ressaltar que o mercado, em geral, está mais animado, Horn contrapôs com um olhar, em suas palavras, mais realista.

“Não esperamos nenhuma melhora. Se não piorar, está ok”, afirmou. “Obviamente, se os bancos baixarem a taxa de financiamento, para o cliente melhora. Mas não acredito que isso será no curto prazo.”

Na avaliação de Horn, essa percepção também pode ser aplicada em relação a uma eventual abertura para que a incorporadora e outras empresas do setor possam começar a elevar os preços dos empreendimentos.

“Você precisa de alguns anos macro muito bons para ter esse feito”, destacou. “Então, estamos vendo um cenário mais ou menos parecido. E, na verdade, quando começa esse oba oba nem é muito bom, porque aí vira guerra de preços e guerra na compra de terrenos.”

O copresidente da Cyrela disse ainda que a empresa não tem um plano específico para ampliar sua exposição ao mercado de baixa renda. A vertente tem atraído a atenção especialmente com o relançamento do programa Minha Casa Minha Vida.

Nessa faixa, a incorporadora atua com a marca Vivaz e por meio de joint ventures com a Cury e a Plano&Plano. “A baixa renda passa por um bom momento e não temos medo de ficar grande no segmento. Mas não temos nada muito estratégico. De novo, vamos terreno a terreno.”

Em mais uma frente, a discussão para a revisão do Plano Diretor da cidade de São Paulo, que tem movimentado as expectativas do setor por abrigar, entre outras questões, o potencial de ampliar o potencial construtivo, não é algo que deva mudar o jogo para a Cyrela.

“O Plano Diretor não vai destravar uma grande mudança no mercado imobiliário de São Paulo”, afirmou. “O que muda, de fato, é o macro. Então, esse é um evento marginalmente positivo. Ninguém vai sair comprando terreno por conta disso.”

Balanço

A Cyrela encerrou o segundo trimestre de 2023 com uma receita líquida de R$ 1,6 bilhão, um salto de 31%. A margem bruta ficou em 32,3%, contra 31,3%, um ano antes. Já a margem líquida fechou em 17,1%, uma evolução de cinco pontos percentuais, em base anual.

O banco de terrenos fechou o período com um VGV potencial de R$ 26,9 bilhões, um recuo de 18%. De abril a junho, a empresa comprou 6 terrenos, sendo um em São Paulo, três no Rio de Janeiro e dois em Porto Alegre, que, juntos, totalizaram um VGV potencial de R$ 926 milhões.

O retorno sobre patrimônio líquido (ROE) evoluiu de 12,3% para 13,8%, na comparação anual. Com um crescimento de 21,4% na dívida líquida ajustada, para R$ 464 milhões, a relação entre a dívida líquida ajustada e o patrimônio líquido ajustado ficou em 5,9%, contra 5,4%, na mesma base.

A companhia gerou um caixa de R$ 22 milhões, ante um consumo de caixa de R$ 48 milhões, há um ano. As despesas gerais e administrativas, por sua vez, recuaram 5%, para R$ 119 milhões.

As ações da empresa, avaliada em R$ 9,6 bilhões, operavam com alta de 3,15% por volta das 13h25 na B3, cotadas a R$ 25,86. Os papéis acumulam uma valorização de próxima de 98%.