À frente do J.P. Morgan desde 2005, o que lhe confere o status de CEO mais antigo de Wall Street, Jamie Dimon vem sinalizando que está chegando a hora de encontrar um nome para substituí-lo. Em paralelo, o executivo de 68 anos está preocupado com uma outra agenda de sucessão: as eleições americanas.
Em artigo publicado no Washington Post na sexta-feira, 2 de agosto, intitulado “O próximo presidente precisa restaurar a nossa fé na América”, o CEO do banco americano fala justamente do pleito que caminha para um “confronto” entre Kamala Harris e Donald Trump.
No texto, Dimon ressalta que os Estados Unidos vivem um “tempo perigoso”, com os americanos profundamente divididos e o país enfrentando questões domésticas desafiadoras e, talvez, a “situação geopolítica mais complicada desde a Segunda Guerra Mundial”.
“Podemos estar em um ponto de inflexão que determinará o destino do mundo livre e democrático por décadas”, escreve ele. “Esse é o momento em que uma forte liderança americana é necessária para nos unir e fortalecer o papel indispensável que nosso país desempenha para a segurança do mundo.”
Nesse contexto, Dimon cita que há lições aprendidas com ex-presidentes americanos como Abraham Lincoln, Harry S. Truman e Dwight D. Eisenhower que os atuais candidatos devem abraçar. Entre elas, a palavra unidade. E aproveita para listar algumas ações que esperar que o próximo presidente adote.
Na primeira delas, ele pontua que o sucessor de Joe Biden deve unir os americanos com uma comunicação regular, honesta e aberta. E que o país merece um presidente que explique os problemas, incentive a contribuição de todos e compartilhe planos e soluções.
Nesse ponto, ele cita que Eisenhower fez questão de almoçar ou jantar com líderes de oposição e ouvir suas opiniões. E afirma que os melhores líderes políticos e nos negócios encaram as críticas como uma oportunidade de se perguntarem “onde eles estão certos?”, em vez de “Por que eles estão errados?”.
“Se vamos realmente unificar nosso país, precisamos começar a tratar visões, reclamações e críticas opostas como oportunidades de encontrar um ponto em comum e nos tornamos melhores”, observa Dimon.
Em um segundo ponto, o CEO afirma que é preciso desenvolver políticas que reflitam o papel crítico dos Estados Unidos no cenário global. Para ele, o país precisa voltar a exercer uma política externa pragmática, inteligente e objetiva, que também fortaleça o relacionamento com aliados.
Na avaliação de Dimon, isso incluiria o uso mais eficaz da diplomacia, do comércio e da promoção ativa de valores democráticos.
“Quando nossos aliados estão travando guerras para defender sua soberania e democracias, e precisam desesperadamente de fontes de energia seguras e confiáveis, atrasar projetos de gás natural líquido de longo prazo na Louisiana e no Texas é equivocado e autodestrutivo”, afirma.
Em outra frente, ele destaca a necessidade de políticas mais inteligentes, que ofereçam proteção, progresso e prosperidade para todos. E lamenta que o país carece de ações coerentes em áreas como energia, educação, infraestrutura, habitação, impostos e imigração.
“O sonho americano está desaparecendo para muitos porque as oportunidades não são compartilhadas igualmente”, ressalta. “A ausência de uma boa política está prejudicando nosso país e, infelizmente, prejudica aqueles que já são mais desfavorecidos.”
Dimon também “aconselha” o próximo presidente a montar o “melhor time”, reunindo, inclusive, nomes ligados a grupos da oposição, de maneira que essa equipe reflita a nação inteira. Aqui, ele ressalta que a “política tribal” e “espectro político” não fornecerão os melhores talentos e expertises.
“O setor privado tem enormes poços de expertise e produz 85% dos empregos da nossa nação. Ele deveria ter um assento à mesa”, escreve ele. “Um presidente deve colocar as pessoas mais talentosas, incluindo aquelas do mundo dos negócios e do partido oposto, em seu Gabinete”.
Em uma última linha, o executivo ressalta que é preciso trabalhar para ganhar o apoio de todos os eleitores e não recorrer a insultos e estereótipos. E, principalmente, não atacá-los. Mas sim, envolvê-los.
“Isso requer coragem. Algumas formas de coragem são óbvias: lutar pelo nosso país e cuidar dos nossos doentes. Outras formas são menos óbvias, mas igualmente importantes: ouvir abertamente visões conflitantes, mudar de ideia, elevar as pessoas, escolher o país em vez do partido”, afirma.
Em cima do muro?
Ao longo de seu extenso texto, Dimon não manifesta, porém, apoio a nenhum dos dois candidatos que devem dominar a disputa. Mas o fato é que o executivo, pelo seu status no mercado, tem sido cortejado tanto pelo republicano quanto pela democrata.
No fim de junho, por exemplo, Donald Trump disse em uma entrevista à agência Bloomberg que avaliava indicar o CEO do J.P. Morgan ao posto de secretário do Tesouro dos Estados Unidos caso vencesse a eleição do próximo dia 5 de novembro.
A potencial indicação contrasta com a visão que Trump tinha, até pouco tempo, sobre Dimon. Em 2023, o republicano chegou a chamar o executivo de “globalista superestimado” em sua rede social Truth Social.
Dimon foi um dos nomes que teceram fortes críticas aos ataques ao Capitólio, em janeiro de 2021, promovidos por apoiadores de Trump. Entretanto, mais recentemente, ele elogiou algumas das posturas e posições do ex-presidente americano.
“Dê um passo para trás, seja honesto. Ele estava meio certo sobre a OTAN, meio certo sobre imigração. Ele fez a economia crescer muito bem. A reforma dos impostos funcionou. Ele estava certo sobre parte da China", disse Dimon à rede americana CNBC no início desse ano.
Do outro lado, de olho no protagonismo do executivo em Wall Street, Kamala Harris recebeu Dimon para um almoço na Casa Branca em março deste ano, de acordo com fontes citadas pela agência Reuters.