Mais de 130 funcionários da Eternit deixarão em breve o escritório na Faria Lima para trabalhar dentro da fábrica da empresa em Hortolândia, na região de Campinas. O movimento, que será concluído até o fim de 2025, simboliza a nova fase da companhia pós-recuperação judicial que busca eficiência operacional e expansão em um novo mercado.
Conhecida pela fabricação de telhas de fibrocimento, a Eternit está intensificando seus projetos ligados ao mercado de construção industrializada com placas cimentícias customizadas, um segmento em ascensão na construção civil pela eficiência nas etapas, previsibilidade de prazos e custos, limpeza e segurança.
"Estamos acelerando no que entendemos ser o futuro da construção civil", diz Rodrigo Nóbrega, CEO da Eternit.
O modelo steel frame e wood frame – estruturas metálicas ou de madeira fechadas com placas – cresceu no Brasil após a pandemia, quando foi necessário erguer hospitais em poucos meses.
Esse mercado de edifícios pré-fabricados movimentou R$ 16,25 bilhões em 2024 e tem projeção de ultrapassar R$ 20 bilhões em 2029. E as estruturas metálicas dominam o segmento com cerca de 65% de participação.
Agora, na visão de Nóbrega, chegou a vez das placas moldadas em cimento. Um exemplo é o aeroporto de Florianópolis, que usa paredes ventiladas (revestimento com camada de ar que melhora o isolamento térmico e acústico) feitas com placas importadas da Europa. A Eternit está desenvolvendo solução similar com placas cimentícias que poderiam substituir esse material importado.
A Eternit identifica uma vantagem competitiva: a capacidade de fazer produtos taylor-made, ou seja, criar peças para cada obra receber placas com dimensões e formulações específicas para suas necessidades de resistência.
O investimento para adaptar as máquinas existentes é marginal – entre 10% e 15% do custo de uma linha nova – e o valor agregado pode ser cinco a seis vezes maior que o das telhas tradicionais, segundo o CEO.
Com 14 máquinas produzindo telhas no Brasil, a Eternit terá um custo estimado entre R$ 140 milhões e R$ 230 milhões nessa adaptação - considerando que um maquinário novo sai entre R$ 100 milhões e R$ 110 milhões.
A base é a unidade greenfield na cidade cearense de Caucaia, que custou R$ 200 milhões em recursos próprios, sendo metade para a infraestrutura e a outra metade para as máquinas.
Com 90% da capacidade produtiva em menos de um ano, a fábrica na cidade cearense é considerado um case de sucesso pelo conselho de administração da Eternit. E o que deu “carta branca” para a nova gestão inovar em direção às placas cimentícias.
A meta da empresa é que esse novo segmento, que hoje representa 9% do faturamento - eram 2% há três anos -, alcance 30% da receita em até dois anos. No ano passado, a receita líquida da Eternit foi de R$ 1,16 bilhão. E no primeiro semestre deste ano, de R$ 563,5 milhões.
A RJ do amianto
A construção da fábrica em Caucaia consumiu parte dos R$ 500 milhões que a companhia investiu durante o processo de recuperação judicial (RJ) - a unidade de Hortolândia, por exemplo, pertencia à Confibra e foi adquirida por R$ 110 milhões em 2021. A Eternit saiu da RJ em agosto de 2024.
"A Eternit teve uma RJ bem atípica. São poucas empresas que saem desse processo mais fortalecidas. A companhia manteve disciplina, pagou dividendos durante a RJ e continuou investindo", diz Carisa Cristal, CFO da Eternit.
A RJ foi motivada principalmente pela transição do amianto para fibras sintéticas, processo que quebrou diversos concorrentes nos anos 2000.
Como detentora da mina de crisotila na cidade goiana de Minaçu, a Eternit foi a última do setor a fazer a mudança.
Em meio a esse passo rumo às placas cimentícias, a empresa convive com a incerteza sobre o futuro da mina de Minaçu, que responde por cerca de 35% do faturamento.
No segundo trimestre de 2025, a Eternit registrou o melhor desempenho dos últimos dois anos para o período, com receita líquida de R$ 276 milhões e margem Ebitda melhorando quatro pontos percentuais, para 15,2%. O segmento de fibrocimento vendeu 153 mil toneladas de telhas, alta de 10% em relação ao mesmo período de 2023.
A operação, que exporta crisotila e fornece fibra para as telhas de fibrocimento, segue funcionando normalmente sob lei estadual de Goiás, mas há anos enfrenta questionamentos no STF.
"Não podemos tapar o sol com a peneira. Sabemos que pode acontecer e estamos nos preparando", afirma o CEO.
Todo o movimento de eficiência e busca por novos mercados tem como pano de fundo essa possibilidade de descontinuidade.
Em Minaçu, a operação é 100% física (sem processos químicos), não gera poluentes e a empresa trabalha há 15 anos na descaracterização progressiva da mina – devolvendo áreas recuperadas à sociedade à medida que avança a extração. A cidade de 30 mil habitantes depende 80% da Eternit.
Ainda assim, a companhia trabalha com realismo. A dívida líquida está em 1,4x o Ebitda e o acesso às linhas de crédito foi renovado - especialmente o Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC), que cobrem custos de produção para exportação, e o Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACE), que antecipa o valor das vendas no mercado externos, com taxas entre 7,5% e 8,5% ao ano.
“O segundo trimestre foi o melhor trimestre dos últimos 24 meses. Temos tido um olhar de como otimizar oportunidades tributárias, em um processo de enxugar a estrutura societária da companhia”, diz a CFO.
“Ainda temos alguns trabalhos de tributário até o fim deste ano, com alguns valores importantes para reconhecer”, complementa.