Os Estados Unidos são o ponto de interrogação de economistas e investidores em 2023. Mais especificamente, se e quando a maior economia do mundo vai entrar em recessão, diante dos esforços do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para controlar a inflação.
Quem enxerga diferente é a Gerdau, que vê a economia americana ainda longe de pisar no freio. E há motivos reais para isso: a demanda continua aquecida.
Depois de registrar receita líquida e Ebitda recordes em 2022, as operações da companhia na América do Norte, em que os Estados Unidos são o principal mercado, devem manter o bom ritmo de crescimento em 2023, em meio a estímulos governamentais e o processo de nearshoring das companhias americanas.
“As perspectivas para 2023 são muito positivas para a América do Norte”, disse Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, durante teleconferência sobre os resultados do quarto trimestre na quarta-feira, dia 1º de março. “Os dados nos trazem as perspectivas de que será mais um ano histórico.”
Segundo ele, a demanda por aço nos Estados Unidos está sendo puxada por uma série de medidas aprovadas pelo governo do presidente Joe Biden. Em 2021, o Congresso americano aprovou um pacote trilionário para reconstruir e modernizar a infraestrutura do país.
No ano passado, em julho, o governo americano aprovou um pacote de US$ 39 bilhões para estimular a produção de semicondutores. E em agosto do mesmo ano, foi aprovada a chamada Lei de Redução da Inflação, que prevê incentivos para expandir as matrizes geradoras de energia limpa.
Werneck afirmou que tudo isso, somada a decisão de muitas empresas de trazerem mais para perto suas cadeias de fornecimento, pode resultar em uma demanda adicional de cerca de 5 milhões de toneladas por aço nos Estados Unidos nos próximos anos. No curto prazo, essa confluência de fatores já vem tendo efeitos positivos.
“As usinas seguem operando com uma taxa de utilização acima de 90%”, afirmou. “Historicamente, nosso backlog fica na casa de 500 mil toneladas. Nos melhores momentos de demanda, no período pós-pandemia, ele ficou acima de 1 milhão de toneladas. Atualmente, ele está acima de 700 mil toneladas e vem crescendo.”
A situação dos Estados Unidos também vem sendo positiva para o México, segundo Werneck. Segundo ele, a capacidade das operações da Gerdau está totalmente tomada, por conta dos Estados Unidos, além da demanda local.
Já no Brasil, a expectativa é de que a demanda por aço em 2023 permaneça no mesmo patamar registrado em 2022, por conta do atual nível das taxas de juros. No momento, de acordo com o CEO da Gerdau, o setor de construção civil vem em bom ritmo, mas um período de juros altos pode afetar a disposição de consumo das pessoas.
Quem deve ir bem em 2023 no Brasil é o setor automotivo, com o avanço da produção de veículos leve e o setor de autopeças atendendo o mercado internacional. “Os consumidores de aços especiais, especialmente do ramo de autopeças, estão competitivos no mercado global”, afirmou Werneck.
Mais investimento
Além das perspectivas para 2023, os executivos da Gerdau comentaram o plano de investimento de R$ 5 bilhões para este ano. O montante está acima dos R$ 4,3 bilhões separados em 2022 e será utilizado principalmente para manutenção de usinas, ampliação de capacidade e atualização tecnológica.
Segundo Werneck, a expectativa é manter o capex neste patamar nos próximos anos, visando aprimorar a parte operacional. “Para os próximos anos, não vamos alocar recursos em grandes projetos greenfield”, disse. “Não haverá surpresas nesta frente.”
A Gerdau fechou o quarto trimestre com um lucro líquido de R$ 1,2 bilhão, queda de 65,8% em relação ao mesmo período de 2021. A receita líquida recuou 16,7%, na mesma base de comparação, para R$ 17,9 bilhões, enquanto o Ebitda diminuiu 37,7%, a R$ 3,2 bilhões.
Por volta das 17h, as ações preferenciais da Gerdau subiam 3,35%, a R$ 29,59. Com alta acumulada de 32,2% em 12 meses, o valor de mercado da empresa soma R$ 46,9 bilhões.