Criada em julho de 2021 e fruto de uma joint venture entre a Totvs e a B3, a Dimensa elegeu, já na largada, os M&As como uma de suas vias para ganhar musculatura. E começou a tirar essa tese do papel em 2022, quando fechou suas quatro primeiras aquisições – InovaMind, Mobile2You, Vadu e RBM.

Após essa leva inicial de acordos, a companhia de infraestrutura por trás de produtos e serviços financeiros freou, porém, seu ímpeto inorgânico. Esse balcão só voltou a ser movimentado em fevereiro deste ano, com a compra da Quiver, por R$ 115 milhões.

Além de encerrar o hiato de pouco mais de um ano, a transação marcou a entrada da Dimensa no segmento de seguros – até então, a empresa atuava em finanças, crédito e risco. E abriu caminho para que a companhia renovasse seu fôlego para novos acordos.

“A Quiver foi a maior aquisição que já fizemos. Na verdade, ela é a soma das outras quatro”, diz Wagner Gramigna, CEO da Dimensa, ao NeoFeed. “Estamos retomando, temos um pipeline bastante grande de conversas e vamos estar muito atentos a oportunidades inorgânicas em 2025.”

Ele observa que a busca por novos acordos vai ser guiada por duas teses. A primeira passa por acordos que complementem seu portfólio e favoreçam sua estratégia de fortalecer as vendas cruzadas em seu ecossistema.

“Nesse caso, são M&As bastante estratégicos e pontuais. Estamos olhando para tudo o que for relacionado a dados, analytics e inteligência artificial”, afirma o CEO. “São nesses espaços que teremos muito foco inorgânico e orgânico nos próximos três anos.”

Em uma segunda vertente, ele não descarta que a Dimensa invista em aquisições mais robustas. Esse olhar passa por ativos que permitam a empresa reforçar sua presença ou, eventualmente, ingressar já numa posição de destaque em novos mercados.

A compra da Quiver traduz um pouco dos ganhos que a empresa mira com acordos de maior porte. Embora não revele números consolidados, o executivo diz que, com a aquisição e a estreia em seguros, a companhia ampliou o tamanho da sua operação em mais de 20%.

O negócio também fez com que a Dimensa saltasse de 900 para 3,5 mil clientes. Ao mesmo tempo, essa base tem ganho em diversificação. Até pouco tempo, o perfil dessa carteira era mais centrado em grandes instituições financeiras, entre elas, os dez maiores bancos do País.

De um ano para cá, desde que Gramigna assumiu o comando da Dimensa, além de seguradoras e grandes corretoras de seguros, o leque atendido pela companhia foi encorpado com bancos médios e de pequeno porte, bem como instituições de pagamento (IPs) e Sociedades de Crédito Direto (SCDs).

Agora, entre as áreas no radar dessa expansão do portfólio, seja via M&As ou desenvolvimentos internos, está a de investimentos. Nesse espaço, a empresa tem hoje uma oferta mais voltada a administradores de fundos e custodiantes. A ideia é avançar também no plano das gestoras de fundos.

Segundo Gramigna, os eventuais acordos fechados a partir dessa retomada das aquisições serão financiados com caixa próprio da Dimensa, assim como todas as transações anteriores no histórico da empresa. “Somos geradores de caixa e não precisamos de outra fonte de recursos”, conta o CEO.

Parte dos recursos iniciais no caixa da Dimensa vieram de um aporte de R$ 600 milhões da B3, quando a joint venture foi anunciada, em troca de uma fatia de 37,5% da operação. Criada a partir de um spin-off da divisão de serviços financeiros da Totvs, a empresa é controlada pela companhia de software.

O resultado mais recente da Totvs, referente ao terceiro trimestre, traz poucos números da Dimensa. Entre eles, um consumo de caixa de R$ 559,1 milhões, que representou um recuo anual de 16,6%. Em outro dado, a empresa reduziu sua dívida bruta em 2,4%, para R$ 38,9 milhões.

No balanço da Totvs, a Dimensa integra a divisão de gestão, o carro-chefe da empresa. Entre julho e setembro, esse braço reportou uma receita líquida de R$ 1,18 bilhão, alta anual de 15,5%. Já o Ebtida ajustado dessa unidade cresceu 13,4%, para R$ 313 milhões.

DNA de M&As

À parte desses números, o DNA de M&As é o laço mais estreito da Dimensa com a Totvs, empresa cuja origem e expansão também foram calcadas fortemente em aquisições. Ao mesmo tempo, sob essa ótica, a operação não é a única joint venture constituída pela companhia de software.

Em abril de 2022, a Totvs surpreendeu o mercado ao anunciar outra parceria nesses moldes. Dessa vez, porém, na ponta das ofertas diretas aos consumidores, por meio da Totvs Techfin, joint venture formada com o Itaú Unibanco, em que cada sócio detém uma fatia de 50%.

Criada a partir da divisão de techfin da Totvs, a nova operação recebeu, na época, um aporte de R$ 610 milhões do Itaú, acompanhada da promessa do banco de desembolsar um montante complementar de até R$ 450 milhões após cinco anos, mediante o alcance de determinadas metas.

Sócia da Totvs na Dimensa, a B3, por sua vez, também vem chamando a atenção por seu apetite crescente por aquisições nos últimos anos, impulsionado pela orientação de diversificar suas operações além do seu negócio tradicional.

Até aqui, essa tese comportou, por exemplo, compras de fatias minoritárias e investimentos de menor porte em startups no Brasil e no exterior, como a brasileira Vermiculus, a anglo-brasileira Parfin e a israelense BridgeWise, por meio do fundo L4 Venture Builder.

Em outra frente, ao enveredar nessa seara, a B3 também costurou acordos de mais fôlego, como a compra da Neurotech, no fim de 2022, avaliada em R$ 569 milhões, e a aquisição da catarinense Neoway, de dados e analytics, em 2021, por R$ 1,8 bilhão.