Há pouco mais de um mês, o NeoFeed antecipou que a Stone contratou o Morgan Stanley e o J.P. Morgan para buscar um comprador para a Linx, a empresa de softwares de gestão especializada no varejo, pela qual a companhia brasileira de pagamentos pagou R$ 6,7 bilhões, em 2020.
Com o ativo no “balcão”, os rumores, desde então, apontaram para um possível interessado, em particular: a também brasileira Totvs, com a qual a Stone disputou e venceu a disputa pela Linx há quatro anos.
O Itaú BBA tem sido testemunha das especulações em torno de uma possível investida da Totvs nas últimas semanas. E, diante desse burburinho crescente, divulgou um extenso relatório analisando os efeitos de uma eventual aquisição da Linx pela empresa.
“Acreditamos que a Totvs é a principal compradora potencial do ativo, porque a aquisição fortaleceria o seu portfólio de soluções de varejo”, escreveram os analistas Thiago Kaupulskis e Maria Clara Infantozzi, afirmando que o fraco momento operacional da Linx justificaria um desconto material para a Totvs.
A dupla ressalta que, embora tenha mostrado interesse no ativo, a Totvs fez a ressalva sobre o valuation do ativo. E destaca que a Linx tem mostrado tendências de crescimento “decepcionantes” dentro da Stone, já que desbloquear as oportunidades de vendas cruzadas provou ser mais desafiador do que o esperado.
Para estimar o valuation atual do ativo e o tamanho desse “desconto”, o banco parte de uma análise sobre o valor de mercado da Totvs em relação a 38 empresas de software listadas nos Estados Unidos, dado que a base de comparação de empresas do setor com capital aberto no Brasil é limitada.
O banco conclui que a Totvs está sendo negociada com um desconto de 44% em relação ao seu múltiplo justo, de 26 vezes seu EV/Ebit para 2025 em comparação com a média das companhias incluídas nessa amostra. E, a partir dessa análise e de indicadores da Linx, traça dois possíveis cenários numa aquisição.
No primeiro deles, o banco sugere um valuation de R$ 3,8 bilhões. Já numa segunda perspectiva, os analistas indicam que a Linx deve ser avaliada em cerca de R$ 2 bilhões, levando-se em conta o desconto de 44% da Totvs em relação aos seus pares de tecnologia nos Estados Unidos.
“Acreditamos que a Linx deve ser avaliada entre R$ 2,2 bilhões e R$ 3,8 bilhões para que um possível acordo com a Totvs se concretize”, afirmam os analistas, pontuando que as margens da Linx são significativamente mais fracas do que as da Totvs.
Já em relação à complementaridade embutida na transação, o Itaú BBA ressalta que a presença da Linx no varejo, em particular, em farmácias, postos de gasolina e no setor de moda, seria um encaixe perfeito para a Totvs no varejo, mais focada em revendedores, supermercados e eletrônicos.
“Existem oportunidades significativas de vendas cruzadas, visto que a Totvs pode usar sua rede robusta de distribuição para comercializar as soluções da Linx. Além disso, a expertise da Linx pode expandir o alcance das soluções mais amplas de ERP e produtividade da Totvs”, observa o banco.
Os analistas fazem a ressalva, no entanto, que notícias recentes dão conta da possibilidade da venda parcial da operação da Linx, o que poderia limitar o potencial de valorização das sinergias em uma aquisição pela Totvs.
Em um outro “capítulo”, o Itaú BBA também faz uma análise do P&L (lucros e perdas) potencial da nova companhia resultante da incorporação do ativo pela Totvs, assumindo um cenário hipotético e conservador para a Linx.
A partir desses cálculos, o banco projeta que a combinação de Totvs e Linx traria um crescimento de 13% na receita bruta em 2025, para R$ 7,5 bilhões, com alta de 15% para a Totvs nessa linha e de 3% para a Linx.
Os analistas estimam uma margem bruta de 68,5% para a operação, além de uma margem Ebitda de 23%. Dadas as incertezas sobre um acordo, o banco não projeta, porém, um lucro líquido resultante da operação, mas sim, um lucro de R$ 135 milhões para o negócio de software da Stone em 2025, sendo R$ 121 milhões originados pela Linx.
“Em resumo, concluímos que a Totvs contribuiria com 81% das receitas totais e 86% do Ebitda total da nova companhia até 2025, o que mostra margens menores do que a Totvs sozinha (sem considerar as sinergias”, observa outro trecho do relatório.
Na análise, o Itaú BBA manteve a recomendação de compra para a Totvs, com um preço-alvo de R$ 36 para a ação em 2025, o que representa um upside de 27% sobre o valor do papel no fechamento do pregão da segunda-feira, 14 de outubro, de R$ 28,27.
As ações da Totvs estavam sendo negociadas com ligeira alta de 0,11% por volta das 11h05 na B3, cotadas a R$ 28,30. Em 2024, os papéis têm uma desvalorização acumulada de 15,9%, dando à companhia um valor de mercado de R$ 16,77 bilhões.