Não há solução viável para a crise climática sem incluir os pequenos produtores na equação da sustentabilidade. Responsáveis por 80% de toda a comida que chega aos nossos pratos, eles são peça fundamental na construção de sistemas agroalimentares mais resilientes e produtivos.
“É preciso dar suporte aos agricultores, por meio do compartilhamento de conhecimento e do acesso a crédito”, defendeu Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, no painel Land Matters, um dos eventos de quarta-feira, 18 de janeiro, do encontro anual do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), que acontece na cidade suíça de Davos. “A tecnologia existe, não é preciso criar nada novo. Mas devemos encontrar mecanismos para que essas ferramentas cheguem aos agricultores.”
Se não mudar o modo como usamos a terra, será difícil avançar. A conversão para modelos agrícolas regenerativos, disse o executivo, pode recuperar uma área de solo degradado e fazê-la produzir até dez vezes mais. Mas, essa transformação exige aprendizado, tempo e dinheiro.
No Brasil, a implementação de sistemas agroecológicos leva de três a cinco anos e custa cerca de R$ 10 mil, por hectare. O valor bruto da produção chega a ser quase quatro vezes maior nas roças e fazendas cujos gestores recebem orientação de como cuidar da lavoura e das criações, conforme os preceitos da sustentabilidade. Mas apenas um terço dos pequenos agricultores brasileiros tem acesso a crédito. As dificuldades vão da falta de documentação às altas taxas de juros.
Como pontuou Maria Susana Muhamad, ministra do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia, presente também no encontro em Davos, a transição rumo à agropecuária do futuro cabe a todos os envolvidos na cadeia de produção de alimentos: governos, empresas, academia e agricultores. Sem parceria, é impossível avançar.
No debate promovido pelo WEF, Stefaan Decraene, presidente do Conselho de Administração do Rabobank, banco global especializado no agronegócio, citou um programa da instituição financeira de inclusão dos produtores na transição para a agricultura regenerativa.
O projeto “Trees for Farmers” tem por objetivo plantar árvores em pastagens degradadas, de modo a recuperar a saúde do solo, incrementar a biodiversidade local e aumentar o sequestro de CO² da atmosfera; e também proporcionar renda extra aos agricultores, por meio da venda de crédito de carbono. “Com isso, garantimos que o dinheiro chegue ao lugar certo”, disse o executivo. Até agora, o Rabobank já plantou 300 mil árvores.
Outro exemplo de iniciativa que propõe melhorar o uso da terra é o Fundo JBS pela Amazônia. Tomazoni explicou que o projeto apoia técnica e financeiramente programas focados no desenvolvimento da bioeconomia do bioma, sem perder de vista a preservação ambiental e a qualidade de vida das comunidades tradicionais e indígenas. Para o executivo, a promoção social e a prática sustentável caminham lado a lado.
Ao fim e ao cabo, definiu Jennifer Morris, CEO da The Nature Conservancy, uma organização global de conservação, tudo se resume em transformar os produtores em “heróis”, fazendo com que eles se tornem parte da solução – e não mais do problema.