Fabricante do Ozempic e do Wegovy, a Novo Nordisk está passando por uma dieta forçada, a partir de uma revisão de suas operações frente ao avanço da concorrência. Mas, mesmo nesse contexto, há espaço, ao que tudo indica, para alguns “excessos”.

A farmacêutica dinamarquesa anunciou a compra da Akero Therapeutics, empresa americana que desenvolve tratamentos para pacientes com doenças metabólicas graves. No acordo, divulgado nesta quinta-feira, 9 de outubro, a companhia pode desembolsar um montante de até US$ 5,2 bilhões.

Na transação, prevista para ser concluída na virada do ano, a Novo Nordisk pagará US$ 54 por ação da Akero Therapeutics, o que representa um prêmio de cerca de 16,2% sobre a cotação de US$ 46,49 do papel no fechamento do pregão da quarta-feira.

Os termos preveem ainda um pagamento adicional de US$ 6 por ação, em dinheiro, após a aprovação regulatória do medicamento que está sendo desenvolvido pela Akero. As ações da empresa americana registram alta de 17,9% no pre-market de hoje da Nasdaq.

Em comunicado, a Novo Nordisk ressaltou que a aquisição reflete sua estratégia de longo prazo de desenvolver medicamentos inovadores e diferenciados para tratar milhões de pessoas que vivem com diabetes, obesidades e suas comorbidades associadas.

A companhia destacou o EFX, medicamento experimental que está sendo desenvolvido pela Akero para o tratamento da esteato-hepatite associada à disfunção metabólica (MASH, na sigla em inglês), caracterizada pelo excesso de gordura no fígado e que pode levar à fibrose, cirrose e câncer hepático.

Segundo a farmacêutica, mais de 40% de pacientes de MASH também apresentam diabetes tipo 2 e mais de 80% têm sobrepeso ou obesidade, fatores que estão bastante conectados com o seu portfólio e capacidades.

“Se o medicamento for aprovado, acreditamos que ele poderá se tornar uma terapia fundamental, isoladamente ou em conjunto com o Wegovy para combater uma das doenças metabólicas de crescimento mais rápido da atualidade”, disse, em nota, Mike Doudstar, CEO da Novo Nordisk.

A princípio, o EFX envolve uma injeção subcutânea, em doses semanais, e, atualmente, está na última fase dos três ensaios clínicos previstos antes que o medicamento seja submetido à aprovação regulatória.

A Novo Nordisk ressaltou ainda que não espera que a transação – que será financiada principalmente por dívida - afete sua perspectiva de lucro operacional para 2025. Mas observou que o fluxo de caixa livre para o ano deverá ser impactada negativamente em cerca de US$ 4 bilhões.

Já para 2026, a expectativa é de que a aquisição gere um aumento nos custos de pesquisa e desenvolvimento, com um impacto negativo estimado no crescimento do lucro operacional anual em cerca de três pontos percentuais, dependendo do momento de fechamento do acordo.

Após registrar anos de crescimento exponencial, na esteira do sucesso do Ozempic e do Wegovy, a Novo Nordisk tem enfrentado um escrutínio crescente dos investidores a partir da queda nas vendas de seus dois blockbusters, especialmente nos Estados Unidos, onde tem pela frente a rival Eli Lilly.

No fim de julho, em um retrato desse momento mais desafiador, a empresa anunciou que sua previsão de crescimento de receita em 2025 deve ficar entre 8% e 14%, contra a estimativa anterior de 13% e 21%. Esse foi o segundo corte nessa linha anunciado no ano.

O anúncio, que também trouxe como justificativa o impacto das vendas de cópias dos dois medicamentos nos EUA, foi acompanhado ainda da revisão da projeção de lucro operacional – da estimativa anterior de um crescimento entre 16% e 24% para a nova faixa de 10% a 16%.

Na oportunidade, a Novo Nordisk também anunciou Mike Doudstar como seu novo CEO. O executivo assumiu o posto em agosto, em substituição a Lars Fruergaard Jorgensen, que deixou o cargo em maio, em função dos maus resultados da operação.

“O fato de meu anúncio vir logo após a atualização das diretrizes torna o mandato futuro ainda mais claro. Precisamos aumentar o senso de urgência e executar de forma diferente”, disse Doudstar, na época do anúncio.

Uma das primeiras medidas tomadas pelo novo CEO foi um corte de 9 mil empregos, o que representou 11% da base total de profissionais da companhia. Com esse movimento, a empresa disse esperar uma economia de US$ 1,25 bilhão.

Como parte dessa reestruturação, Doustdar ressaltou que a empresa iria se concentrar no desenvolvimento da próxima geração de medicamentos altamente eficazes para obesidade e diabetes, em vez de expandir para outras áreas e doenças.

Essa orientação vai na contramão de fontes ouvidas pela Reuters. Segundo a agência, uma parcela dos investidores gostaria de ver a empresa investindo pesadamente em pesquisa e desenvolvimento para expandir seu portfólio justamente para além dos tratamentos contra a obesidade e diabetes.

Na Bolsa de Copenhague, as ações da companhia estavam sendo negociadas com queda de 1,35% por volta das 14h25 (horário local), dando à empresa um valor de mercado de 1,68 trilhão de coroas dinamarquesas (cerca de US$ 261,5 bilhões).

Em 2025, os papéis acumulam uma desvalorização de 39,2%. Na Bolsa de Nova York, os papéis da Novo Nordisk registravam queda de 0,95% no pre-market.