Quatro dias depois de Donald Trump tomar posse na Casa Branca, um outro início de trajetória vai trazer um termômetro do apetite dos investidores por um dos setores eleitos como prioritários pelo presidente americano em seu segundo mandato.

Exportadora de gás natural liquefeito (GNL) com sede em Arlington, no estado do Texas, a americana Venture Global começa a negociar suas ações na Bolsa de Nova York nesta sexta-feira, 24 de janeiro.

O início das negociações marca o primeiro grande teste para as empresas de energia nas bolsas de valores americanas sob a nova gestão de Trump, que já deixou clara suas prioridades de ampliar a produção de energia no país e reverter as políticas verdes instauradas por Joe Biden, seu antecessor.

Os dados da “pré-estreia” da companhia combinam fatores positivos e negativos. Ao captar US$ 1,75 bilhão, a empresa registrou o maior IPO já feito por uma empresa de GNL, segundo a consultoria Dealogic, além da terceira maior listagem do setor de energia e serviços públicos nos Estados Unidos desde 1995.

Em contrapartida, no caminho para tocar a campainha na Nyse, a Venture Global acabou reduzindo de US$ 110 bilhões para US$ 60,5 bilhões o valor de mercado que buscava inicialmente na oferta. A expectativa, a princípio, era arrecadar US$ 2,3 bilhões com o IPO.

Nesse processo, a empresa vendeu 70 milhões de ações ao preço de US$ 25, no centro da faixa estimada entre US$ 23 e US$ 27. A cifra ficou bem aquém do patamar que a companhia planejava inicialmente, entre US$ 40 e US$ 46.

Apesar desse reajuste, o valuation obtido pela Venture Global coloca a companhia entre as principais empresas de energia listadas nos Estados Unidos, à frente de nomes como Occidental Petroleum, Marathon Petroleum e Schlumberger.

De acordo com a agência Reuters, a readequação das expectativas aconteceu após investidores e analistas classificarem os riscos do papel como elevados, em função das dúvidas sobre o lucro estimado no longo prazo para a exportação do GNL, além de imbróglios legais em curso envolvendo a companhia.

Fundada em 2013, a Venture Global começou a gerar receita em janeiro de 2022, quando sua primeira instalação, batizada de Calcasieu Pass, entrou em operação. A segunda estrutura da companhia, por sua vez, seguiu o mesmo caminho em dezembro de 2024.

Entretanto, a planta de Calcasieu Pass está no centro de uma série de disputas judiciais envolvendo grandes clientes como BP, Shell e Repsol, e que estão relacionadas ao não recebimento de cargas, devido ao longo período de testes antes de a unidade entrar em operação comercial.

Nesses processos, a Venture Global alega que não está obrigada a cumprir os contratos de longo prazo estabelecidos com essas companhias, dado que a instalação ainda estava em fase de comissionamento.

À parte dessas pendências, a empresa encontra bons motivos para enxergar um horizonte mais favorável nas promessas de campanha e nas primeiras medidas tomadas por Trump em menos de uma semana do seu retorno à Casa Branca.

Nesse pequeno intervalo, embalado pelo slogan “perfure, baby, perfure”, o presidente americano emitiu uma ordem para retomar o processamento de pedidos de licença de exportação para novos projetos de GNL.

Ao mesmo tempo, Trump traçou um plano para maximizar a produção de petróleo e gás dos Estados Unidos, destacando o setor como uma emergência energética nacional e derrubando o que classificou como regulamentações excessivas.

Segundo a Reuters, nesse contexto, a expectativa e de uma recuperação para os IPOs no setor de energia em 2025 no país. O segmento figurou entre os de menor movimentação nessa esfera no mercado de capitais americano em 2024.

Dados da consultoria Renaissance Capital mostram que houve apenas seis ofertas públicas iniciais de ações de empresas de energia no ano passado. Esses IPOs levantaram cerca de US$ 800 milhões, enquanto no mercado como um todo, 150 empresas arrecadaram US$ 29,6 bilhões.