Em sua segunda recuperação judicial, na qual entrou apenas três meses após ter encerrado o primeiro processo, a Oi pretende seguir em frente com a venda de mais ativos, diante da necessidade de fazer caixa e reduzir seu endividamento.
O CEO da companhia, Rodrigo Abreu, afirmou nesta quinta-feira, dia 15 de junho, que a companhia tem por objetivo vender sua participação na 34,1% na V.tal, empresa de rede neutra criada em 2021 a partir da venda dos ativos de infraestrutura de fibra. A maior fatia da empresa está sob o controle de fundo gerido pelo BTG Pactual, que detém 57,9%.
“Nosso plano [de recuperação judicial] traz uma visão potencial de venda futura de ativos, e é o caso da nossa participação na rede neutra”, disse Abreu, durante a teleconferência de resultados do primeiro trimestre de 2023. “Mas será preciso seguir as regras do plano definitivo.”
Abreu afirmou que a venda poderia se dar de diversos formatos, desde uma abertura de capital até processos “estratégicos”, com a venda para investidores selecionados. Mas ela não deve ocorrer no curto prazo. A expectativa é de que possa ocorrer entre 2027 e 2028, período em que devem vencer as novas dívidas da companhia.
Uma questão que a companhia terá de contornar é a resistência demonstrada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Em março, o presidente da autarquia, Carlos Baigorri, afirmou que a Oi não poderá se desfazer completamente da participação na V.tal, pelo fato dessa companhia ter bens herdados de privatizações utilizados na prestação de telefonia fixa em regime público.
O presidente da Anatel afirmou que é possível a Oi fazer uma diluição de sua participação na V.tal, mas a operação não pode resultar na perda de cadeira no conselho de administração da companhia de rede neutra.
Enquanto o futuro da V.tal ainda é motivo de discussão, e com desfecho ainda longe de ser concluído, Abreu afirmou que a venda dos ativos de televisão por assinatura para a Sky e das torres fixas para a Highline seguem seu curso, com previsão de serem concluídas neste ano, a depender da aprovação do plano de recuperação judicial.
A Oi fechou a venda de suas operações de televisão em abril do ano passado, em um negócio estimado em R$ 786 milhões, e acertou a venda das torres com a Highline em agosto, por R$ 1,7 bilhão.
Em relação à venda da Oi Móvel para Vivo, TIM e Claro, fechada em 2021 por R$ 16,5 bilhões, mas que está sendo contestada pelo trio, que reclama que o valor final ficou muito acima do que o ativo vale, Abreu disse que a arbitragem está no processo de formar o painel de árbitros, mas que também há contatos diretos para resolver a situação.
“Não afastamos a possibilidade de um acordo direto com as empresas, que possa trazer liquidez imediata para a companhia”, disse.
A venda de ativos e as negociações do processo de recuperação judicial com credores, que segundo Abreu vem correndo bem, acontecem num momento em que a companhia reduziu significativamente seu tamanho, visando atuar na prestação de serviços.
A chamada Nova Oi, que desconsidera o segmento de mobilidade e a V.tal, registrou nos primeiros três meses do ano um crescimento de 4,8% de receita, em relação ao mesmo período de 2022, para R$ 2,2 bilhões. A companhia atribuiu o desempenho à parte de fibra óptica, que cresceu 20,8% na comparação anual.
Segundo Abreu, os desafios agora da companhia são aumentar os níveis de rentabilidade no novo modelo de fibra, adequar a estrutura da Oi a uma empresa “enxuta e ágil” e minimizar o impacto do legado do passado no Ebitda e no fluxo de caixa.
Ainda considerando os resultados dos ativos de telefonia móvel e da V.tal no desempenho do primeiro trimestre de 2022, a Oi fechou os primeiros três meses deste ano com um prejuízo líquido de R$ 1,2 bilhão, revertendo o lucro de um ano atrás.
A receita líquida caiu 42,6%, em base anual, para R$ 2,5 bilhões, enquanto o chamado Ebitda de rotina, que desconsidera itens não recorrentes, recuou 84,2%, para R$ 193 milhões.
A dívida líquida da companhia totalizou R$ 20,9 bilhões no primeiro trimestre, uma diminuição de 33,4% em relação ao mesmo período de 2022, mas um aumento de 9,8% ante o quarto trimestre.
A companhia encerrou o trimestre com caixa consolidado de R$1,8 bilhão, uma redução de 44% em relação ao trimestre anterior, com o consumo de capital de giro sendo prejudicado pela arrecadação sazonalmente menor, sazonalidade de pagamentos a fornecedores e despesas rescisórias.
Por volta das 13h12, as ações ordinárias da Oi caíam 3,74%, a R$ 1,02. No acumulado do ano, os papéis registram queda de 40%, levando o valor de mercado a R$ 659,4 milhões.