Desde que abriu capital na Nasdaq, em janeiro de 2021, e captou R$ 3,2 bilhões, o Pátria Investimentos vem ampliando seu território. Um dos passos nessa direção foi a aquisição, em setembro, da gestora chilena Moneda, que encorpou ainda mais a sua operação, hoje, na casa de US$ 26,3 bilhões sob gestão.
Antes de a empresa tocar o sino na bolsa americana e reforçar sua pegada além do Brasil, outros ativos do seu portfólio já estavam fazendo esse percurso. É o caso da Odata, companhia de data centers criada pela gestora brasileira em 2015 e que já tem unidades na Colômbia e no Chile.
Agora, a empresa ganha mais um impulso para consolidar uma nova escala em seu mapa de operações. A Odata antecipou com exclusividade ao NeoFeed a captação de um financiamento de US$ 35 milhões com o International Finance Corporation (IFC), braço de investimentos do Banco Mundial.
A Odata já havia fechado duas tranches com o IFC, no valor total de US$ 60 milhões. Com prazo de dez anos, o novo acordo tem a participação do banco japonês Sumitomo Mitsui Banking Corporation (SMBC) e os recursos serão aplicados no primeiro data center da companhia no México.
“O México está em um estágio de desenvolvimento da nuvem anterior ao do Brasil”, diz Fernando Jaeger, diretor de novos negócios da Odata, ao NeoFeed. “Temos planos de crescimento acelerados no país, pois estamos vendo muita demanda no mercado.”
Instalado em uma área total de mais de 50 mil metros quadrados na cidade de Querétaro, o centro que marca o desembarque da Odata em solo mexicano é um termômetro desse aquecimento. Em operação desde abril, sua primeira fase já está 100% locada por um provedor de nuvem, de nome não revelado.
Nesse mercado, quando inaugurados, os data centers já preveem expansões. Nesse caso, a primeira fase na unidade está orçada em US$ 79 milhões, com o financiamento dividido entre a linha do IFC e recursos do próprio caixa da Odata.
O centro em Querétaro iniciou a operação com 8,4 megawatts de potência e, com expansões, pode chegar a 32 megawatts. O fato de ser um polo tecnológico e ponto de passagem do principal backbone de conectividade com os Estados Unidos pesou na escolha da cidade para o projeto, que deve crescer em breve.
“Estamos em processo avançado de assinatura de novos contratos”, observa Jaeger. “Temos negociações para expandir tanto esse campus como para a iniciar a construção de uma nova unidade, em outro terreno, também em Querétaro.”
O apetite da Odata não se esgota no mercado mexicano. Hoje, entre projetos em operação e em construção ou expansão, a empresa tem oito data centers, incluindo a unidade em Querétaro.
No Brasil, são três centros de dados no estado de São Paulo, sendo que a estrutura na cidade de Hortolândia está em fase de expansão. O mapa no País envolve ainda um data center em construção no Rio de Janeiro, com sua primeira etapa 100% contratada e prevista para começar a operar em 2023.
“Temos, inclusive, outros terrenos disponíveis no Brasil e negociações avançadas para expansões em várias das nossas localidades no País”, conta Jaeger. “Hoje, a demanda maior está no eixo Rio-São Paulo, mas não descartamos um movimento com data centers menores em outras regiões.”
Já na Colômbia, país que marcou sua primeira incursão internacional, em 2018, a companhia tem um centro em Bogotá e prevê mais três unidades no curto prazo. No Chile, por sua vez, há um data center em operação em Santiago e outro em construção, com a estrutura inicial também já contratada.
Embora ressalte que esses quatro países concentram boa parte da demanda na América Latina, Jaeger diz que a Odata segue monitorando o mercado para incluir, eventualmente, outras geografias em seu escopo. Na região, o próximo passo mais provável é a entrada no mercado peruano.
O executivo não revela o investimento total previsto em todos esses projetos. Mas ressalta que a empresa já tem parte dos financiamentos contratados para as iniciativas em andamento e vai buscar, à medida que elas forem evoluindo, novos fundings.
“O IFC já é nosso financiador e nos dá boas condições de custo e prazo, assim como o SMBC”, afirma. “E temos acionistas fortes, que querem participar do nosso crescimento.” Além do Pátria, a empresa tem como acionista minoritário o fundo americano CyrusOne, especializado no setor.
Dados em alta
Alguns fatores fundamentam os planos de expansão da Odata. A explosão no consumo de dados, na esteira de aplicativos e serviços digitais, e, por consequência, da demanda de infraestrutura de computação em nuvem que suporte essas conexões são alguns deles.
A busca por reduzir a latência – o tempo de resposta das aplicações – é mais um fator que concorre para incentivar a instalação de data centers em países além dos Estados Unidos que, historicamente, abrigava boa parte dessas estruturas. E a chegada do 5G só vai intensificar essa necessidade.
Há também uma agenda em alta de proteção de dados, que alimenta a procura por armazenar os dados no próprio país onde são consumidos. Ao mesmo tempo, a pandemia e a digitalização no período só reforçaram todo esse contexto que já era favorável ao setor.
No Brasil, esse cenário está expresso em uma pesquisa da consultoria Mordor Intelligence, que prevê que o mercado local de data centers saia de uma movimentação de US$ 1,9 bilhão, em 2019, para US$ 2,5 bilhões, em 2026, com um crescimento anual composto de 5,49% nesse intervalo.
“Essa demanda está vindo principalmente dos provedores de nuvem que estão chegando ou expandindo suas operações no País”, afirma Luciano Saboia, analista da consultoria IDC. “A maior parte deles está consumindo e não construindo seus próprios data centers.”
O mercado brasileiro de data centers deve movimentar US$ 2,5 bilhões em 2026, segundo a consultoria Mordor Intelligence
A Odata não é, claro, a única atenta a esse contexto. Fundada em 2010, a brasileira Ascenty é uma das empresas que vem executando um plano agressivo já há alguns anos. Especialmente a partir de 2018, quando foi comprada pela Digital Realty, companhia americana de data centers, por US$ 1,8 bilhão.
No fim da semana passada, a Ascenty anunciou um segundo data center no Chile. Um mês antes, vieram os dois primeiros no México, justamente em Querétaro. No total, a empresa tem 28 data centers na América Latina, sendo 22 em operação e seis em construção.
Com sete data centers no Brasil, quem também tem investido pesado na região é a americana Equinix. Entre outros movimentos, em março desse ano, a empresa anunciou a compra de quatro data centers da chilena Entel, localizados no Chile e no Peru, em um acordo de US$ 705 milhões.
Em meio a essas e outras movimentações, há cerca de quatro meses, a própria Odata esteve no centro de especulações sobre um suposto interesse do Pátria em vender a operação que, segundo o jornal Valor Econômico, estaria avaliada em cerca de US$ 1 bilhão.
Questionado, Jaeger se limita a dizer que esse foi, realmente, “apenas um rumor de mercado”. Procurado pelo NeoFeed, o Pátria Investimentos respondeu por meio de sua assessoria de imprensa que não comentaria o tema.