No final da década de 1990, o então estudante Rogério Betti sofreu com o fechamento da rede de açougues da família. Fundado por seu bisavô em 1920 e depois transformado na casa de carnes Florida, por seu tio, o negócio familiar chegou a ter 38 unidades, mas faliu.
São as lições que ele, hoje com 41 anos, aprendeu deste processo que estão na base do sucesso da deBetti, marca que atualmente reúne açougue, restaurante e e-commerce de carnes e que não para de crescer, mesmo em plena quarentena.
“Aprendi a ouvir, a focar no cliente e na qualidade do produto, e a nunca ser arrogante”, conta Rogério Betti, o criador do grupo deBetti. E acrescenta: “O cliente é o rei, é ele quem paga meus sonhos.”
O segundo negócio de carnes de um Betti no Brasil começou a surgir em 2013, quase como uma brincadeira de preparar para os amigos carne pelo método dry age (quando a carne matura por 30 dias em baixa temperatura).
Sete anos depois, o Quintal deBetti foi um dos primeiros restaurantes a fechar as portas, em 17 de março, com a ameaça da Covid-19. Mesmo assim, nesta última semana de abril, Rogério Betti já registrava um faturamento semanal 5% maior do que a média das semanas anteriores ao coronavírus.
Sua sabedoria foi focar todas as energias no e-commerce. “Quando fechei o Quintal, imaginei uma queda de 70% no faturamento”, conta ele, que logo deu férias coletivas para os funcionários. Mas a queda foi bem menor: 20% na primeira semana.
Em vez de novas quedas nos dias seguintes, o faturamento foi voltando, na casa de crescimento de 5%, a cada semana. Se a comparação for em número de clientes, em todo o ano passado, entre o Quintal e o açougue, o grupo deBetti atendeu 300 mil clientes. No mês de abril de 2020, foram 20 mil entregas.
Voltar 100% das atenções ao mobile significou ser ágil em mudar o negócio. E as lives com promoções no Instagram, deixando os clientes com água na boca, são apenas a parte mais visível desta estrutura – com a média de 10 mil novos seguidores por semana, atualmente são 282 mil no perfil @debetti e 97 mil no @quintaldebetti.
Ele tem conquistado uma média de 10 mil novos seguidores por semana, atualmente são 282 mil no perfil @debetti e 97 mil no @quintaldebetti
O primeiro diferencial de Rogério é que a deBetti não era uma iniciante nas vendas online. Está há 5 anos neste segmento e, neste tempo, conseguiu entender as demandas dos consumidores e corrigir todas as rotas.
Teve este tempo para errar, acertar e focar. “Com a quarentena, os restaurantes começaram a esquentar a panela, mas eu já estava com a panela morna”, resume ele. Há um ano, o grupo tem uma parceria com o aplicativo Rappi, que lhe cobra taxas bem mais razoáveis do que os mais de 20% pedidos atualmente para os novos clientes.
Se o movimento do Quintal migrou para as compras online, impulsionadas com os vídeos nas mídias sociais, o açougue deBetti também ganhou novo foco. Antes da Covid-19, a casa de carne vendia cortes especiais para o consumidor final – um quilo de dry age é vendido por R$ 149 –, e coxão mole, patinho, entre outros cortes “comuns” para o mercado de food service, abastecendo varejo e restaurantes.
Hoje, as carnes especiais continuam no cardápio, mas o consumidor também encontra estes cortes do dia a dia disponíveis. “Temos um preço competitivo e apostamos na qualidade. As pessoas descobriram esta qualidade”, conta Rogério. O quilo do coxão mole, por exemplo, está em R$ 33 no site.
Em números, o consumidor final representava 30% do movimento do deBetti e 60% do faturamento, por comprar bens de maior valor agregado e, no caso do Quintal, incluía também a venda de bebidas e o serviço. Agora, que não há mais serviço ou a venda de bebidas, 100% do faturamento vem das vendas para este consumidor, que prepara a carne em casa.
Em abril, o açougue vendeu 35 toneladas de carne, contra 23 toneladas mensais antes da crise
Em abril, o açougue vendeu 35 toneladas de carne, contra 23 toneladas mensais antes da crise. Uma consequência é que até o próximo dia 20 de maio, por exemplo, não há dry age à venda.
No cronograma da deBetti, 10 toneladas de dry age ficam prontas por semana, já que a carne tem de maturar 30 dias na geladeira. Mas o volume está maior que a demanda. “Já aumentei o volume, na primeira vez que faltou a carne, e agora farei isso novamente”, conta ele.
Formado em administração pela FAAP, Rogério conta que tinha saído do mercado financeiro depois de 15 anos entre corretoras e mesas de câmbio, quando decidiu fazer carne pelo sistema dry age.
Ele conhecia esta carne macia e saborosa de viagens aos Estados Unidos. Começou a fazer churrascos para amigos e familiares. Em um ano, criou um Instagram (@debetti) para ensinar os amigos e os amigos dos amigos como preparar a carne.
Não imaginava que o negócio cresceria rapidamente. Empreendedor nato, Rogério primeiro organizou eventos chamados de Churrascada, no qual as pessoas se reuniam para comer churrasco com carne dry age e tomar cerveja. Chegou a reunir mais de 2 mil pessoas, e mais de 30 chefs convidados, nestes encontros.
Não tardou para aparecerem sócios. Cerca de dois anos e meio atrás, Rogério vendeu uma participação do negócio para os sócios da DNA Capital. “Eles têm a expertise para levar a empresa adiante”, conta Rogério.
Eles estão mesmo olhando para frente. Rogério Betti já se prepara para quando a quarentena acabar. No bairro do Morumbi, onde hoje funciona o Quintal, terá também um steak house, com previsão de término das obras em setembro deste ano.
O grupo terá mais um novo açougue e um restaurante, na avenida Brigadeiro Luís Antônio, quase esquina com a avenida Brasil, e uma nova cozinha, para as entregas online, na rua João Cachoeira, os dois últimos negócios na região dos Jardins, em São Paulo. São R$ 12 milhões que serão investidos nestas três obras.
Betti junto com os sócios também estão trabalhando para exportar carnes, principalmente para o Oriente Médio e a China
Betti, junto com os sócios, também está trabalhando para exportar carnes, principalmente para o Oriente Médio e à China. “É uma oportunidade de mercado, e o nosso câmbio está favorável para isso”, conta ele.
Para isso, o plano inclui investir em um frigorifico e organizar o negócio também para a exportação, o que exigirá um investimento de R$ 50 milhões. Atualmente, a deBetti tem parcerias com produtores rurais, que criam os animais a partir das suas recomendações.
Se a carne chega na qualidade pedida, Rogério paga um sobre-preço de 10% a 20% para o produtor. E contrata frigoríficos para abater os animais e entregar a carne já embalada.
Com tudo isso, Rogério Betti só abandonou, ao menos por enquanto, o plano de fazer cerveja artesanal em casa. A ideia, ainda em 2013, era depois da carne, ter uma cervejinha própria para acompanhar o churrasco.
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