Depois de um início de ano marcado por uma série de dúvidas sobre os rumos do País, e após um longo período em que a renda fixa reinou sem qualquer contestação, a renda variável voltou ao centro das atenções dos investidores. Desde o começo do ano, o Ibovespa acumula alta de 6,4%.
E, considerando a melhora das perspectivas econômicas e a expectativa de que o Banco Central (BC) deverá cortar a Selic a partir do segundo semestre, a perspectiva de que a Bolsa mantenha a atual toada não será uma surpresa, segundo Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus Research e fundador do Grupo Empiricus.
“Estamos formando essa tese há alguns meses, vendo que a Bolsa está barata e o Brasil apresenta menos riscos, com a Selic na cara do gol, pronta para ser diminuída”, diz Miranda ao NeoFeed. “É uma reunião de elementos que nos deixa otimistas em relação à Bolsa.”
Por muito tempo underweight na Bolsa, a casa de research, adquirida pelo BTG Pactual em maio de 2021, está enviando nesta semana uma série de relatórios aos clientes ajustando as recomendações, avaliando que chegou o momento para retornar à renda variável com mais peso.
A principal indicação é estar posicionado em um grupo de ações que Miranda apelidou como “os generais”. Trata-se de grandes empresas ligadas ao ciclo doméstico, com balanços robustos e dominantes em suas áreas de atuação, como Equatorial, Cosan e Localiza.
Miranda vê também oportunidades no caso de companhias menores, mas também ligadas ao ciclo doméstico e em boas condições financeiras, como Intelbras, Grupo SBF e B3. “Estamos dando um peso maior para os generais, porque são empresas de alta qualidade, que aguentam porrada”, diz o estrategista-chefe da Empiricus.
De acordo com ele, as empresas ligadas ao ciclo doméstico tem boas perspectivas de valorização no atual cenário. “Nos últimos sete ciclos de queda da Selic, na média, uma carteira de ações cíclica doméstica registrou alta de 35%, contra 11% do CDI”, diz ele.
Além da economia brasileira demonstrar resiliência, apresentando crescimento acima do que inicialmente esperado, e com a inflação em situação mais controlada, alguns potenciais problemas ficaram pelo caminho.
Miranda desataca que o cenário para investimentos deu uma boa melhorada nos últimos três meses, depois que alguns elementos de riscos começaram a desanuviar. O principal deles era a possibilidade de as reformas econômicas e privatizações serem revertidas pelo governo federal. “O Congresso foi objetivo e claro de riscar uma linha no chão e afirmar que as reformas não vão retroceder”, diz ele.
O estrategista-chefe da Empiricus cita ainda o fato de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad estar surpreendendo positivamente com sua demonstração de compromisso com a disciplina fiscal e certo afastamento de receituário econômico heterodoxo.
Ainda que o País não esteja no cenário ideal do ponto de vista macroeconômico, Miranda afirma que o valuation, atualmente em patamares extremamente baixos, torna a Bolsa bastante atrativa.
“O valuation atual se assemelha àqueles vistos no ápice da Covid-19, na crise financeira de 2008”, afirma Miranda. “Ele representa um país à beira da ruptura, o que não é o caso.”
O principal risco para este cenário vem do exterior. Miranda está de olho principalmente nos riscos vindo dos Estados Unidos, em que os juros já provocaram alguns problemas, como foi no episódio dos bancos regionais.
Sobre riscos no Brasil, ele entende que, considerando o atual momento, eventuais notícias negativas vindas de Brasília não devem descarrilar o otimismo dos investidores com a Bolsa brasileira. “O que tem vindo de lá parece mais retórica, espuma e ruído do que um sinal”, diz.