Um dos dois blocos no páreo para a criação de uma liga única do futebol brasileiro, a Liga Forte União (LFU) está ampliando mais uma vez a escalação de clubes sob o seu guarda-chuva. Agora, com um reforço caseiro.
O Atlético Mineiro anunciou nesta terça-feira, 28 de outubro, que está deixando a Liga Brasileira de Futebol (Libra) – o outro nome parte dessa discussão – e migrando para o time da LFU, da qual foi um dos fundadores e que havia deixado, em direção à Libra, em junho de 2023.
Como parte desse retorno, a Sports Media Entertainment, responsável pelas negociações dos direitos de transmissão da LFU, vai adquirir parte dos direitos econômicos do Atlético-MG relacionados ao Campeonato Brasileiro. Os termos financeiros do contrato não foram divulgados.
“Se não houver um olhar coletivo, e menos individual, o futebol brasileiro não vai mudar. Nosso retorno se dá nesse contexto”, diz Rafael Menin, acionista, ao lado do pai, Rubens, da Galo Holding, que passou a deter 75% da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do “Galo mineiro” em julho de 2023.
Em entrevista ao NeoFeed, ele prossegue: “Na LFU há um bloco de clubes que, nos últimos dois anos, conseguiu ter esse olhar coletivo. Por outro lado, na Libra, um agente um pouco mais individualista fez com que os avanços fossem menores”, afirma Menin.
Embora evite citar o nome por trás desse desentrosamento, fica evidente que quem embolou esse meio de campo foi o Flamengo. O clube carioca está no centro de uma crise na Libra, o que fez com que o time disparasse contra os demais integrantes e também fosse alvo da artilharia desses pares.
O Flamengo discordou dos critérios de distribuição de receitas de audiência acordada pela Libra com a TV Globo. Em setembro, numa jogada que desagradou seus companheiros, obteve uma liminar na Justiça do Rio de Janeiro bloqueando o repasse da parcela de setembro paga pela emissora, de R$ 77 milhões.
Há duas semanas, a Justiça carioca alterou, porém, a decisão, ressaltando que houve um “excesso de bloqueio” na liminar e estabelecendo que o único valor passível de retenção é de R$ 1,6 milhão. Entretanto, a mudança não foi capaz de acalmar os ânimos.
“A partir do momento em que você tem uma interferência do Flamengo, bloqueando uma receita que é sua por direito, isso traz uma pressão financeira”, diz Bruno Muzzi, CEO do Atlético-MG. “Essa situação trouxe muito incômodo e talvez seja um dos principais fatores para essa mudança.”
O fato é que, antes mesmo desse imbróglio – e dos direitos de transmissão serem negociados por cada bloco –, outros clubes já tinham mudado de lado. Em julho de 2023, Cruzeiro, Botafogo e Vasco deixaram a Libra. Um ano depois, foi a vez do Corinthians seguir o mesmo caminho.
Mais recentemente, no fim de setembro deste ano, o Vitória também anunciou sua saída. O que só passará a vigorar, de fato, no caso dos acordos de direitos de transmissão, a partir de 2030, dado que tanto a Libra quanto a LFU negociaram esses contratos para o ciclo de 2025 a 2029.
Nessas rodadas, a LFU fechou um acordo para que os clubes dividam um total de cerca de R$ 1,7 bilhão por temporada até 2029. Já os times que integram a Libra terão direito a um valor anual total de R$ 1,11 bilhão no mesmo intervalo, mais um valor referente ao Premiere, o pay-per-view da TV Globo.
Para o Atlético-MG, a saída da Libra segue o mesmo princípio do Vitória. Até segunda ordem, a relação com a Libra se mantém apenas no que diz respeito a esses acordos. “O broadcast é só um dos aspectos desse debate, há muitas outras pontas na construção do produto futebol brasileiro”, diz Menin.
No saldo dessa conta, excluindo o Galo e o Vitória, a LFU tem 33 times em sua base, numa relação que inclui ainda times como Fluminense, Ceará, Fortaleza, Internacional, Juventude, Mirassol e Sport, além de clubes da Série B.
Levando-se em consideração apenas a Série A do Campeonato Brasileiro, a Libra, por sua vez, além do Flamengo, reúne Palmeiras, São Paulo, Bahia, Grêmio, Red Bull Bragantino e Santos. Até o momento, o único nome a ter trocado de camisa, vindo da LFU, era justamente o Galo.
A nova escalação do BTG Pactual
As mudanças, porém, não estão restritas a esses elencos. Até então, além de assessorar a transação da SAF do Galo, o BTG Pactual foi um dos protagonistas nesse certame ao contribuir decisivamente na estruturação da Libra.
O banco foi um dos responsáveis por atrair o Mubadala Capital, braço do fundo soberano do governo de Abu Dhabi, como investidor da Libra. E, nesse processo, curiosamente, acabou no campo oposto ao da XP, que cumpria o mesmo papel na estruturação da LFU.
Já o projeto da LFU envolve um consórcio de investidores composto pela gestora americana General Atlantic, a brasileira Life Capital Partners e a XP Investimentos. O trio adquiriu parte dos direitos econômicos da liga por um prazo de 50 anos.
Ao mesmo tempo, o bloco inclui, na ponta, a Livemode e a Sports Media Entertainment, que, por sua vez, têm em comum a dupla formada pela XP e a General Atlantic como investidores.
Conforme apurou o NeoFeed, é esse consórcio – incluindo a XP, que escalou recentemente o BTG para cumprir um novo mandato: contribuir para que a LFU deixe de ser apenas um bloco comercial e evolua para ser o ponta de lança para a criação, de fato, de uma liga do futebol brasileiro.
“O entendimento no BTG é de que, como acontece em todo banco de investimento, os projetos têm começo, meio e fim. E que o papel na Libra foi muito bem executado”, diz uma fonte próxima ao banco, ao NeoFeed, que pediu para não ser identificada.
Essa mesma fonte ressalta que a percepção é de que a LFU reúne as condições para liderar esse processo, a partir de fatores como uma governança bem definida, capital disponível e clareza do que precisa ser feito. Um percurso que passa pela volta do Atlético-MG ao bloco.
“A expectativa é que o Galo puxe a fila”, diz essa fonte. “O fato de o Atlético voltar só reforça a convicção de que a LFU vai favorecer a união entre os clubes, que sempre foi o objetivo inicial de todas as partes. E é esse pensamento que vai tirar esse projeto do papel.”
Essa visão é reforçada por Muzzi. “O futebol brasileiro está num ponto de inflexão. As SAFs foram criadas e a discussão de fair play financeiro está bem avançada”, diz. “E a LFU tem todos os elementos para conduzir a criação da liga – de investidores até uma empresa especialista na venda de direitos.”
Já Menin destaca avanços como o novo calendário, desenhado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o fato de que a nova gestão da entidade está mais alinhada com as melhorias buscadas pelos clubes. Além de ressaltar a necessidade de todos os envolvidos jogarem no mesmo time.
“Todo mundo sabe que o futebol brasileiro ficou para trás, mas que o nosso produto tem um potencial gigantesco”, afirma Menin. “Então, se houver união, em vez de brigar pelo tamanho da fatia de cada um, vamos crescer brutalmente o tamanho do bolo.”