A Keeta, operação de delivery da Meituan, que vai começar a operar no mercado brasileiro no quarto trimestre deste ano, está escalando a briga com a 99, a quem acusa de práticas anticompetitivas.

Depois de ir à Justiça, a empresa chinesa foi também ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o órgão que controla a concorrência no mercado brasileiro.

De acordo com o documento, ao qual o NeoFeed teve acesso, a 99Food “vem utilizando uma cláusula de banimento da Keeta ao estabelecer relações comerciais com restaurantes”.

“A ilegalidade da referida cláusula é evidente tanto sob o viés concorrencial, quanto sob o viés do direito civil, considerando que a 99Food age em evidente abuso de direito e viola os mais básicos princípios que regem as relações privadas no Brasil, a exemplo da boa-fé”, diz um trecho do documento.

A Keeta acrescenta no documento cópias de supostos contratos que a 99Food está estabelecendo com os restaurantes nos quais veta a possibilidade de firmar acordo com a operação da Meituan.

A cláusula 12.9, que versa sobre a não concorrência, segundo documento anexado, cita explicitamente a Keeta como uma empresa com a qual o restaurante que firma contrato com a 99Food não poderia estabelecer relação comercial.

“O estabelecimento compromete-se a não celebrar, direta ou indiretamente, durante a vigência do contrato, qualquer tipo de relação comercial, contratual ou institucional com empresas pertencentes ao grupo econômico da Meituan/Keeta, suas coligadas, controladas, afiliadas ou quaisquer que integrem, compõem ou venham a compor sua estrutura societária”, está escrito no documento anexado pelos advogados da Keeta, protocolado no Cade.

Os termos do documento enviado ao Cade pela Keeta são os mesmos que a empresa protocolou no Foro Central de São Paulo, em que pede a suspensão de cláusulas anticompetitivas, que estariam sendo impostas pela 99Food a restaurantes parceiros estratégicos.

Segundo a empresa, até o momento, a 99 teria abordado mais de 100 redes no País, oferecendo pelo menos R$ 900 milhões em pagamentos antecipados, vinculados à assinatura de contratos nesses moldes.

“Esse valor é quase equivalente aos R$ 1 bilhão que a Didi (que é dona da 99) anunciou para reiniciar a 99Food”, ressalta a companhia, que, na ação, solicita a suspensão imediata das cláusulas de bloqueio e a proibição de sua inclusão em futuros contratos.

Nesta briga, a 99Food revidou e foi também à Justiça contra a Keeta, alegando que a empresa teria imitado elementos distintivos da marca 99, incluindo o design da plataforma 99Food.

O documento aponta semelhança na combinação de cores, estilo das fontes e uso de elementos gráficos, como os dois “ee’s” invertidos que formariam um efeito semelhante ao número 99.

A Keeta, cuja operação no mercado brasileiro foi divulgada com exclusividade pelo NeoFeed, está acelerando sua operação no mercado brasileiro. Ela é comandada por Tony Qiu, executivo chinês que esteve à frente da 99 no Brasil e agora comanda a operação internacional da Keeta.

Desde 2022, Qiu é o responsável por expandir a Meituan internacionalmente sob a marca Keeta. Ele abriu operação em Hong Kong, em 2023, na Arábia Saudita, em 2024, e no Catar, que começou a operar neste ano.

A Keeta quer chegar a 100 cidades de 15 regiões metropolitanas do Brasil até a metade de 2026, com 100 mil entregadores cadastrados.

No longo prazo, o plano é competir com o iFood, hoje dono de 80% do mercado de delivery e que acabou de anunciar investimentos de R$ 17 bilhões no Brasil durante seu ano fiscal que vai até março de 2026.

Procurada, a 99Food disse que não iria comentar o processo do Cade.