Após um período de negociações que se estendeu por cerca de um ano, o martelo foi batido e agora é oficial. As gestoras de private equity Vidya Capital, de Rodrigo Galindo, presidente do board da Cogna, e Lazuli Partners, de Carlos de Barros e Bruno Alves, ambos ex-Gávea, são as novas sócias da Farmax.

Assinado nas últimas horas da quinta-feira, 15 de agosto, o acordo, cujas tratativas foram antecipadas com exclusividade pelo NeoFeed, vem acompanhado de um aporte de R$ 200 milhões na empresa mineira dona de uma plataforma de marcas de beleza, saúde e bem-estar.

Nos termos da transação, a Vinci Partners, que comprou a Farmax em novembro de 2021, seguirá como acionista majoritária da operação – as fatias detidas agora por Vidya e Lazuli não foram reveladas. Mas os três acionistas desenharam um modelo em que irão dividir o controle da companhia.

Em outra ponta, além do aporte primário no caixa da companhia, o deal incluiu um pagamento, de valor não divulgado, à Vinci Partners, que foi assessorada pelo UBS BB na transação.

“Desde a chegada da Vinci, nós vínhamos em um ciclo de dois anos de crescimento acima do que tínhamos planejado”, diz Ronaldo Ribeiro, CEO da Farmax, em entrevista exclusiva ao NeoFeed. “E entendemos que precisávamos de uma nova captação para acelerar a expansão da companhia.”

Ele observa que, como parte do acordo, que ainda depende de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), um dos primeiros passos a partir desse sinal verde deverá ser a redistribuição dos assentos no board da empresa, para abrigar também os novos sócios.

“São pessoas que trazem um histórico incrível de construção de plataformas de sucesso e de alta performance”, afirma o CEO. “E que podem abrir portas que, até então, eram mais difíceis para nós acessarmos.”

No roteiro do aporte, o principal destino dos recursos será ampliar uma via que a Farmax já vinha percorrendo desde a entrada da Vinci Partners: os M&As. Em 2023, a empresa anunciou as aquisições da Negra Rosa, marca digital de cosméticos para a pele negra, e da Sanavita, de alimentos funcionais.

“Estamos no início dessa jornada de crescimento acelerado, então, temos bastante apetite”, observa Ribeiro. “Até agora, vínhamos fazendo aquisições com nossos próprios recursos. Esse investimento nos permite olhar para companhias maiores.”

Duas teses vão guiar a Farmax nessa nova etapa. Na primeira, a prateleira vai envolver marcas próximas das suas categorias core – saúde, bem-estar e beleza, especialmente em segmentos como skin care, hair care e suplementação nutricional, nos quais a empresa enxerga um alto potencial de crescimento.

A marca Negra Rosa foi um dos ativos comprados pela Farmax em 2023

A segunda vertente terá como foco empresas que permitam a expansão em novos canais de distribuição, além das farmácias, onde, atualmente, a companhia já tem uma penetração de cerca de 95% nos pontos-de-venda no País.

Nesse trajeto, o olhar mais atento está em marcas com boa capilaridade em canais especializados, como na categoria de suplementação nutricional, e, principalmente, nos canais de e-commerce, duas frentes que, segundo Ribeiro, ganharam corpo com a aquisição da Sanavita.

“Nós conversamos com mais de 120 empresas nos últimos três anos”, afirma o executivo. “E, hoje, temos pelo menos três propostas não-vinculantes na mesa.”

Marketing e verticalização

Uma outra parcela dos recursos será destinada às estratégias de marketing, mídia e do trade. Aqui, o plano é investir no branding das marcas por trás dos mais de 450 produtos da empresa, algo que já vinha sendo endereçado desde a chegada da Vinci, mas que agora ganhará mais foco.

“O grupo nasceu como indústria, com foco inicial na distribuição e na alta capilaridade, e não na construção das marcas”, diz o CEO. “Com a Vinci, nós multiplicamos os investimentos em marketing e trade em dez vezes. E acredito que, em 2025, vamos pelo menos dobrar o que aportamos esse ano.”

Isso não significa que a área industrial, um dos berços da empresa, será relegada a um segundo plano. Ao contrário. Com o novo cheque, a Farmax também planeja avançar algumas etapas na verticalização da sua produção, distribuída em duas unidades em Divinópolis (MG) e Piracicaba (SP).

“Hoje, já produzimos cerca de 90% das nossas embalagens”, conta Ribeiro. “Estamos vendo uma clara mudança nos formatos e no design, com um apelo mais moderno. E é para essas frentes que vamos olhar no que diz respeito à verticalização.”

Essa abordagem verticalizada é justamente um dos elementos que explicam como a Farmax vem buscando seu espaço na disputa com multinacionais e grupos brasileiros de maior porte pela preferência das consumidoras.

“Com essa estratégia, nós conseguimos oferecer produtos, em média, 30% mais baratos que os líderes de mercado, que, normalmente, têm estruturas de custos mais pesadas”, afirma. “Em algumas categorias, como os suplementos nutricionais para a terceira idade, esse índice chega a 40%.”

Alguns números ilustram como essa fórmula vem dando resultado. Desde que a Vinci assumiu a operação, a Farmax registrou um crescimento de mais de 70%. Para esse ano, a projeção é entregar um salto de aproximadamente 30% e registrar uma receita bruta de mais de R$ 900 milhões.

Parte desse desempenho está sendo puxado pelo avanço em uma outra fronteira: as exportações. Nesse ano, a companhia ampliou seu mapa nessa frente de três para nove países. E incluiu, além da América Latina, a América Central e a África entre seus destinos.

“Estamos crescendo acima de 60% nas exportações e vamos encerrar o ano com 13 países”, diz Ribeiro. Ele ressalta que o novo investimento também deverá acelerar essa jornada, que, entre outros países, pode incluir, no médio prazo, os Estados Unidos como nova escala.

Com a chegada dos novos sócios e do aporte de R$ 200 milhões, o executivo enxerga ainda espaço para que a Farmax reveja a meta, estipulada há pouco mais de dois anos, de superar a marca de R$ 1 bilhão em receita até 2026.

“Nós praticamente dobramos a companhia em três anos e, como a entrega foi acima do esperado, quem está chegando agora vai pedir um crescimento ainda maior”, afirma. “Nós vamos pensar com humildade, em algo que seja razoável. Mas, com certeza, essa meta será ampliada.”