A construtora e incorporadora Plaenge registrou, no ano passado, R$ 2,8 bilhões em vendas líquidas, um crescimento de 40%, e lançou um VGV de R$ 2,9 bilhões em 20 empreendimentos em seis estados brasileiros.
Mas a companhia com sede na cidade paranaense de Londrina está distante do movimento que tem concentrado o investimento de muitas empresas da construção civil. Fora do radar da bolsa brasileira e na contramão daquelas que enxergam no programa Minha Casa, Minha Vida uma oportunidade no setor, a empresa aterrissou em Santiago, capital chilena, com um projeto de alto padrão.
A expansão internacional no segmento residencial de uma construtora e incorporadora brasileira é algo incomum. Com um valor geral de vendas (VGV) de R$ 1 bilhão, o projeto da Plaenge no Chile engloba sete torres em uma área dentro da Cidade Empresarial, um importante bairro da capital que fica próximo às áreas nobres de Vitacura, Las Condes e Providencia.
Batizado de Distrito Paulista, em homenagem à cidade de São Paulo, o empreendimento terá unidades que variam de 52 m² a 137 m². O prazo entre os lançamentos será de um a dois anos, por questões de engenharia.
O projeto terá a liderança do escritório chileno de arquitetura de Lorenzo Fluxa, com as brasileiras Luiza e Thaisa Bohrer cuidando do interior e o também brasileiro Benedito Abbud do paisagismo.
“Adquirimos esse terreno em função de duas grandes obras que sairiam. Uma está pronta, que é um sistema de túneis chamado AVO (abreviação de Américo Vespúcio Oriente)”, diz Fernando Fabian, sócio da Plaenge Empreendimentos, em entrevista ao NeoFeed.
A outra grande obra de infraestrutura de Santiago que vai ajudar no fluxo de conexão para entrada e saída desse bairro com o restante da cidade é um sistema de teleférico, que começa na Sky Costanera, a torre de 300 metros de altura que é a mais alta da América Latina e um um cartão postal da cidade.
“Quando você tem projetos de infraestrutura que facilitam o deslocamento, os bairros têm um boom de valorização e de desenvolvimento”, afirma Fabian.
A estratégia é atender os moradores da cidade, que podem se interessar pela conveniência do local com variedade de serviços, comércio, universidades, áreas verdes e espaços de lazer nas proximidades, e pela dinâmica de acesso. E também o investidor brasileiro que busca diversificar sua carteira imobiliária.
O mercado imobiliário chileno tem políticas favoráveis ao investimento estrangeiro. A Plaenge acredita que os brasileiros que estão diversificando o seu portfólio com investimentos offshore podem se sentir atraídos em alugar um imóvel para turistas ou para profissionais expatriados.
Segundo a agência governamental de promoção InvestChile, o Brasil é o principal investidor latino-americano no país, com mais de US$ 10 bilhões ao ano.
“Tomamos a iniciativa de também fazer o lançamento no Brasil para brasileiros, que talvez se sintam mais tranquilos ao comprar de uma empresa que fala português e que já opera no Chile”, diz ele.
A Plaenge vai incorporar diferenciais brasileiros no mercado imobiliário chileno, seja a planta flexível ou a churrasqueira a carvão na varanda. Fabian conta que a Plaenge levou para o mercado chileno outros diferenciais de venda do Brasil, como as centrais de vendas e a tradição brasileira de maquetes realistas, algo que o chileno desconhecia.
Se Santiago é uma novidade para a Plaenge, o Chile não é. Há pouco mais de uma década, a construtora e incorporadora brasileira desembarcou em Temuco, cidade 670 km distante ao sul da capital.
“Temos uma história de construções verticais e horizontais em Temuco e em cidades próximas. O Chile é muito aberto a investimento estrangeiro e vimos uma oportunidade de iniciar a expansão internacional, até porque o Brasil teve anos de PIB negativo. É por isso é importante ter operação em outro país”, afirma Fabian.
Com um landbank robusto no Chile, de R$ 3 bilhões, sendo dois terços na região sul do país e um terço na capital, a Plaenge aprendeu rapidamente que algumas características são importantes em empreendimentos no Chile.
Em Temuco, por exemplo, onde as temperaturas ficam abaixo de zero grau no inverno, é preciso ter uma preocupação com o conforto térmico e a condensação de umidade. Por isso, as paredes externas dos edifícios têm soluções térmicas para que não ocorra a perda de calor, o que aumenta o gasto com aquecimento.
Os terremotos também exigem uma fundação resistente a sismos, com estrutura e paredes construídas de maneira específica. Todas essas características fazem um empreendimento no Chile custar entre 20% e 30% mais caro do que construir no Brasil.
“Não temos planos de ir para outro país em um curto espaço de tempo”, afirma Fabian. “E estamos moderadamente otimistas com o Brasil. Sentimos a economia resiliente. Em 2023, tivemos resultado bom de vendas e as projeções do começo do ano passado e como terminou, melhor do que esperava”.
Crescimento com paciência
Ao contrário de muitas empresas que aceleram a entrada em grandes mercados, a Plaenge demorou, aproximadamente, 50 anos para comprar terrenos em São Paulo.
O primeiro lançamento da companhia, no ano passado, foi o edifício Altier no bairro de Moema, em trecho da Alameda Jauaperi com a Avenida Macuco. Com unidades de 157 m², o empreendimento foi projetado pelo escritório Jonas Birger Arquitetura e o internacional LW Design Group.
O segundo lançamento será anunciado em breve: um empreendimento de 2 a 4 suítes na avenida Rebouças, próximo da rua Oscar Freire.
“Entendemos que a trajetória que fizemos, entrando em outras cidades antes, foi acertada. Para entrar em São Paulo, queríamos oferecer alguma coisa diferente e com bastante assertividade”, diz o sócio da Plaenge.
Para 2024, a construtora e incorporadora não tem planos de conquistar novos territórios. Com o potencial da cidade de São Paulo, Fabian não vê chance de ingressar em outra cidade nos próximos três anos. O que pode acontecer é extensão dentro de uma praça, como a construção em Xangri-Lá, uma região nobre no litoral do Rio Grande do Sul.
Criada em Londrina pelo engenheiro Ézaro Fabian, a Plaenge (que é a junção de planejamento e engenharia) está sob a liderança da segunda geração da família, os irmãos Alexandre e Fernando.
Curiosamente, a primeira grande obra da empresa foi no segmento industrial: construção da fábrica da Coca-Cola, em Londrina, que foi entregue em 1971, um ano depois da criação do negócio.
Após o primeiro edifício residencial de 12 andares, entregue em 1974, na cidade natal, a Plaenge decidiu expandir sua atuação para uma região do País pouco explorada. No Centro-Oeste, a empresa ajudou a desenvolver Cuiabá a partir de 1983. Cinco anos depois, desembarcou em Campo Grande.
Atualmente, a empresa está também em Curitiba, Maringá, Campinas, Porto Alegre e Joinville.