Em meio à perda de credibilidade sofrida com uma série de escândalos, que chegaram a colocar sua solvência em xeque, o Credit Suisse divulgou, no fim de outubro do ano passado, um profundo plano de reestruturação de suas atividades.

Uma das medidas anunciadas pelo banco de 166 anos foi um aumento de capital de 4 bilhões de francos (US$ 4,3 bilhões), operação que acabou abrindo caminho para a chegada de investidores peso-pesados do Oriente Médio.

E a importância que os investidores da região tem para o banco segue crescendo, com o fundo soberano do Qatar dobrando sua participação no capital social.

O Qatar Investment Authority, que começou a investir no Credit Suisse durante a crise financeira, passou a deter uma participação de quase 7% no capital social, segundo documentos regulatórios enviados para a SEC na sexta-feira, 20 de janeiro, e vistos pelo jornal Financial Times.

Com esta posição, o fundo soberano qatari, que tem em torno de US$ 450 bilhões em ativos sob gestão, se tornou o segundo maior acionista do Credit Suisse. A sua frente está o Banco Nacional da Arábia Saudita (SNB, na sigla em inglês), com uma fatia de 9,9%.

Considerando a participação de cerca de 3% da Olayan Group, empresa de investimentos que pertence à família saudita Olayan, o trio de investidores do Oriente Médio controla mais de um quinto das ações do Credit Suisse.

O crescimento da relevância desses investidores no banco ocorre em meio à saída de acionistas dos Estados Unidos. Quem recentemente reduziu sua participação foi a gestora Harris Associates, que tem US$ 94 bilhões em ativos sob gestão.

Ela era a maior acionista do Credit Suisse até poucos meses atrás, com uma participação de 10%. Atualmente, sua posição está abaixo de 5% do capital social.

Os fundos soberanos do Oriente Médio vem expandindo sua atuação pelo mundo, adquirindo participações em empresas e times de futebol, apoiados nos ganhos obtidos na última década com a alta dos preços do petróleo e do gás natural.

No ano passado, o banco First Abu Dhabi Bank contratou o Citigroup e o banco de investimentos Moelis para explorar aquisições ou investimentos em companhias fora do país, tendo avaliado a possibilidade de comprar o banco britânico Standard Chartered.

Já a liderança do Credit Suisse vem conversando com potenciais investidores e clientes do Oriente Médio nos últimos anos, identificando na região um bom potencial de crescimento.

O presidente do conselho de administração do banco, Axel Lehmann, foi convidado pelo governo do Qatar para acompanhar a final da Copa do Mundo, em dezembro do ano passado.

Os "petrodólares" se tornaram essenciais para o Credit Suisse, que está tendo que reestruturar suas operações depois das perdas bilionárias sofridas com os colapsos financeiros do family office Archegos Capital Management e da gestora de ativos britânica Greensill Capital.

Os episódios abalaram a confiança no banco. Em novembro do ano passado, ele informou que houve uma saída de US$ 88,3 bilhões entre 30 de setembro e 11 de novembro, puxado pelos clientes da área de wealth management, que registrou a saída de US$ 66,7 bilhões.

O montante total equivale a 6% dos ativos sob gestão, que somavam US$ 1,47 trilhão ao final do terceiro trimestre.

A situação fez com que o Credit Suisse alertasse que deve registrar um prejuízo de 1,5 bilhão de francos suíços (US$ 1,6 bilhão) no quarto trimestre.