O futebol brasileiro vive um momento de profunda transformação. Mais de 100 clubes já aderiram ao modelo SAF, o mercado financeiro finalmente olha para o esporte como investimento - e não apenas como vitrine de marca - e gestoras da Faria Lima começam a estruturar operações sofisticadas para clubes tradicionais.
É nesse cenário que nasce a Quartam Sports Capital, primeira gestora de investimentos do Grupo Sisu, um conglomerado que há duas décadas atua nas entranhas do esporte brasileiro, desde a organização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas Rio 2016 até projetos de sócio-torcedor e patrocínios para dezenas de clubes.
"A grande visão é entender como um player do mercado esportivo pode se posicionar quando o mercado financeiro está olhando para o esporte como um ativo", diz Rafael Pedreira, managing director da Quartam Sports Capital, ao NeoFeed.
“Esse futebol finance não é mais só uma plataforma de comunicação, é uma classe de ativo", complementa o executivo, que era diretor de portfólio na Slat Ventures, mas passou por multinacionais do esporte como Umbro, Fila e ITW Sport.
De largada, a Quartam está estruturando dois veículos complementares. O primeiro é um Fundo de Investimento em Participações (FIP) de R$ 100 milhões a R$ 130 milhões para investir em 10 a 12 empresas do ecossistema esportivo - não necessariamente clubes de futebol.
"Pode ser uma sport tech, pode ser uma liga, pode ser até uma SAF formadora", afirma Pedreira. "Mas não vamos entrar nunca em uma SAF do Corinthians, do Fluminense, etc. Estamos olhando um mid-low market de empresas que precisam de apoio financeiro e capital intelectual."

O fundo já tem 45 empresas no pipeline de análise. E a expectativa é fechar dois ou três investimentos já no primeiro trimestre de 2026.
O foco inicial está em empresas com receita entre R$ 1 milhão e R$ 50 milhões, o que é considerado o ponto ideal onde capital financeiro combinado com capital intelectual pode gerar valor real.
"Queremos ser o elo entre o mercado financeiro e o mercado esportivo", diz Pedreira. "Fazer a due diligence e o valuation adequados do esporte, que é um pouco diferente do mercado tradicional."
O segundo veículo é um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) de R$ 80 milhões, que está em fase de estruturação e vai ser anunciado nas próximas semanas, assim que saírem as aprovações do órgão regulador.
A ideia é antecipar recebíveis de clubes e entidades esportivas, em um modelo semelhante ao que a Galápagos Capital desenvolveu para o São Paulo FC.
Como uma holding de sport business, o Grupo Sisu opera dentro dos clubes, gerencia projetos de sócio-torcedor e patrocínios por meio de suas marcas Golden Goal, Fëng, Tinmo e SportInsider e conhece bem os fluxos de caixas dessas operações.
Por trás da Quartam está a tese de que clubes e empresas do esporte têm receitas previsíveis (direitos de TV, patrocínios, dia de jogo) que, com governança adequada, se tornam ativos financeiros sólidos.
Não será o crescimento exponencial de uma startup de tecnologia, mas é um negócio recorrente e cada vez mais profissional. “Tem muita receita previsível, quase garantida. É revenue recorrente", afirma Pedreira.