Dona da Riachuelo, a Guararapes foi uma das últimas varejistas de moda listadas na B3 a divulgar, na noite de quarta-feira, 19 de março, seu balanço do quarto trimestre e do ano de 2024. E, perto de fechar essa temporada, alguns números se destacaram na coleção apresentada pelo grupo.
Com um lucro líquido de R$ 235,1 milhões, a empresa reverteu o prejuízo de R$ 34,2 milhões apurado em 2023. Além de registrar um Ebitda recorde de R$ 1,48 bilhão, alta de 44,7%, reduzir sua dívida líquida, de R$ 1,06 bilhão para R$ 499 milhões, e de chegar a uma alavancagem de 0,4 vez.
Há dois anos, quando André Farber assumiu como CEO da Guararapes – o primeiro não formado nas fileiras do grupo – a alavancagem era de 2,5 vezes, o que dá uma dimensão das mudanças na companhia desde então. E abre espaço para que a empresa costure novas medidas.
“Foi um ano forte para a Riachuelo, que voltou a mostrar o seu brilho”, diz Farber, ao NeoFeed. “Mas ainda estamos no meio desse ciclo de transformação, com alavancas em execução, e acho que fizemos 20% do que podemos entregar.”
Com maior foco na Riachuelo – a operação inclui ainda as marcas Casa Riachuelo, Carter’s e Fanlab -, a varejista quer aprimorar a experiência dos consumidores para avançar mais alguns dígitos nessa conta. Isso vai se traduzir nos investimentos e ajustes em áreas como fabricação, produto e canais.
Nessa última prateleira, a prioridade estará no que Farber chama de clusterização das lojas. Na prática, esse termo vai envolver iniciativas para atender de forma mais segmentada, adequada e precisa os diferentes perfis de clientes e bolsos que consomem seus produtos.
Entre outras medidas, essa estratégia vai incluir a definição de precificações diferenciadas para cada cluster de lojas, bem como do sortimento de produtos que abastece determinados grupos de pontos de venda. E passa, inclusive, pela criação de coleções.
“Nós entendemos que temos a necessidade de criar, por exemplo, coleções específicas de moda feminina mais adequadas à baixa renda, algo que, até então, não fazíamos”, explica Farber. “E também vemos muito potencial para melhorar as coleções de alta renda.”
De acordo com Miguel Cafruni, CFO da Guararapes, esse olhar mais apurado para a segmentação também deve se estender com outra frente que vem sendo trabalhada pela companhia nos últimos dois anos: o reforço da integração entre o varejo e os demais braços da empresa.
“Isso pode incluir a própria Midway, nossa financeira”, afirma Cafruni. “Há regiões, cidades, bairros com poderes econômicos e demandas diferentes em termos de serviços financeiros, crédito, parcelamentos e incentivos como cashback.”
Esse maior apetite não se transfere, porém, para a abertura de lojas. Em 2024, a Guararapes adicionou 16 unidades à sua base, chegando a um total de 425 unidades. Para 2025, não há um número fechado, mas o plano é manter esse mesmo ritmo.
“Ainda estamos muito centrados em melhorar a operação que temos hoje”, afirma Farber. “Mas já começamos uma retomada mais forte da expansão no horizonte de 2026. Esse é um upside claro para o futuro.”
Já a fábrica da companhia, instalada em Natal (RN) e considerada pelo CEO como um dos ativos que trazem diferenciação para a empresa na comparação com seus pares, seguirá como um dos principais destinos dos investimentos. A ideia é concentrar mais volume do total produzido “dentro de casa”.
“Queremos crescer o conteúdo de moda na nossa fábrica para ter mais reatividade, velocidade, aumentar as margens e ter menos rupturas”, explica Farber. Em 2024, a planta produziu 41 milhões de peças, alta anual de 33%. “No ano, nós tivemos 50% do portfólio de moda produzido na nossa fábrica.”
Com participação em todas essas iniciativas - da produção às lojas -, a tecnologia será um terceiro pilar dessa estratégia. Para viabilizar esses ajustes finos nas operações, a Guararapes está ampliando a aposta em recursos como inteligência artificial, machine learning, dados e o uso de redes neurais.
Enquanto refina esses recursos e dados, a varejista contabiliza outros indicadores do seu balanço. No quarto trimestre de 2024, a receita líquida cresceu 10,8%, para R$ 3,02 bilhões. Já a receita líquida anual teve um salto de 9,5%, para R$ 9,6 bilhões.
As ações da Guararapes fecharam o pregão de quarta, 19, na B3 com alta de 4,53%, cotadas a R$ 7,84, dando à companhia um valor de mercado de R$ 3,9 bilhões. Em 2025, os papéis registram uma valorização de 26,6%.