Depois de fechar 2022 em um tom bastante negativo, com o balanço do quarto trimestre resultando numa perda de valor de mercado equivalente ao valuation combinado de OdontoPrev e Dasa, a Hapvida vem apresentando sinais de melhora em seu quadro de saúde (financeira) no primeiro trimestre.
Por meio de um maior controle sobre custos e despesas, recomposição de preços e iniciativas de verticalização de produtos e atendimentos, a operadora de saúde verticalizada apresentou sinais vitais considerados positivos pelo mercado.
Ela conseguiu reverter a queima de caixa vista no quarto trimestre e a sinistralidade caixa, dois pontos que preocupavam os investidores. No primeiro trimestre, a companhia apresentou fluxo de caixa livre de R$ 404 milhões, revertendo o consumo de R$ 223,6 milhões do quarto trimestre de 2022.
Com um quadro melhor, mas que ainda inspira cuidados, a diretoria da Hapvida destacou na teleconferência de resultados, realizada na terça-feira, dia 16 de maio, que a prioridade neste ano é recompor as margens da companhia, duramente afetada pela inflação médica. Mesmo que isto provoque alguns efeitos colaterais.
“Estamos absolutamente focados no plano apresentado neste ano, para realizar os reajustes necessários para reequilibrar os contratos, aprofundar as iniciativas de redução de sinistros, aprofundar a verticalização e de integração dos ativos”, afirmou Jorge Pinheiro, CEO da Hapvida. “Estamos escrevendo 2023 de forma equilibrada e diligente.”
Neste sentido, a companhia vai seguir reajustando os preços de seus planos. No primeiro trimestre, o tíquete médio consolidado subiu 8,3% em relação ao mesmo período de 2022. E a expectativa é de fechar o ano com um reajuste médio de 15%, segundo Maurício Teixeira, CFO da Hapvida.
Ele contou que a companhia começou a implementar o novo patamar de preços mais intensamente em fevereiro, afirmando que os efeitos da primeira safra de reajustes devem ser vistos a partir de maio.
Questionado sobre um possível efeito negativo sobre a base de usuários, ele reconheceu que o movimento pode prejudicar uma expansão mais robusta no número de usuários. No primeiro trimestre, por conta de efeitos sazonais, a companhia apresentou uma redução líquida de 7,0 mil beneficiários em planos de saúde
“Estamos cientes destes efeitos e talvez o crescimento orgânico não seja tão forte neste ano”, afirmou Teixeira. “Nós estamos privilegiando a otimização do nosso portfólio.”
Hapvida: M&As e follow-on
O apetite por M&As, bastante intenso na Hapvida nos últimos anos, é outro “efeito colateral" da estratégia de priorizar a recomposição de margens. Segundo Pinheiro, o foco é integrar e privilegiar os ativos que a companhia possui, considerando os movimentos de aquisição feitos tanto por Hapvida como Notre Dame Intermédica nos últimos anos, que resultaram em mais de 2 mil leitos ociosos.
O plano de investir cerca de R$ 400 milhões deve destinar recursos na finalização de projetos existentes, segundo o CEO. “Temos feito um trabalho intenso no sentido de privilegiar o que temos de melhor”, afirmou.
O capex previsto faz parte da estratégia da Hapvida de privilegiar a geração de caixa em 2023, segundo Teixeira. Ainda a respeito do posicionamento financeiro, o CFO destacou a redução da alavancagem financeira entre os trimestres, de 2,45 vezes para 2,30 vezes.
Segundo ele, o follow-on de R$ 1 bilhão, feito em abril, a operação de sale & leaseback (venda seguida pela locação de imóveis à própria empresa) de R$ 1,25 bilhão em março, além da venda do braço de serviços de emergência vão ajudar a companhia a atravessar o período de juros altos no País.
“Todo os movimentos que fizemos de reforço de caixa foi para fazer frente aos vencimentos de dívida até o ano que vem”, afirmou Teixeira. “Não temos urgência em realizar novos movimento de reperfilamento e alongamento de dívida.”
A Hapvida fechou o primeiro trimestre com um prejuízo de R$ 341,6 milhões, alta de 25,4% em base anual. A receita somou R$ 6,7 bilhões, aumento de 12,8%, enquanto o Ebitda ajustado somou R$ 634,5 milhões, expansão de 63,5%.
Por volta das 14h, as ações da Hapvida subiam 9,52%, a R$ 3,45. No acumulado do ano, elas registram queda de 32%, levando o valor de mercado a R$ 26,4 bilhões.