As portas estão se fechando na Hypera Pharma para qualquer iniciativa que resulte em fusão ou aquisição. A forma da companhia se proteger de possíveis ofertas hostis foi a criação de um acordo acionário com a Votorantim, anunciado na noite de segunda-feira, 7 de julho, que garantiu um bloco de controle com 53% de participação acionária da empresa.
Relatório do BTG Pactual, divulgado na terça-feira, 8 de julho, aponta a movimentação como uma oportunidade da companhia para mudar de vez o foco e concentrar ações no planejamento para retomada de crescimento.
“Com os principais acionistas alinhados, fusões e aquisições devem sair do radar. Sem distrações à vista, a equipe de gestão poderá focar integralmente no plano de reestruturação da empresa”, dizem os analistas Samuel Alves e Maria Resende.
“A Hypera agora está totalmente voltada à execução desse turnaround, à melhoria das tendências de fluxo de caixa livre e à consolidação de iniciativas para acelerar o crescimento do sell-out [venda direta ao consumidor] e melhorar as margens operacionais”, afirma o documento do BTG.
A empresa vem de um resultado financeiro ruim nos primeiros meses de 2025. No primeiro trimestre deste ano, a companhia registrou receita líquida de R$ 1,08 bilhão, queda de 40,8% sobre o mesmo período do ano anterior (R$ 1,82 bilhão).
A farmacêutica reportou, entre janeiro e março, prejuízo de R$ 138,8 milhões, revertendo lucro de R$ 391,5 milhões alcançado no primeiro trimestre de 2024. O Ebitda foi de R$ 148,5 milhões, contra R$ 647,8 milhões dos primeiros três meses do ano anterior.
Para os analistas do BTG, iniciativas da empresa adotadas após a divulgação do balanço do primeiro trimestre já começam a dar resultado, principalmente nas ações para aumento no volume de vendas.
“Tornamo-nos mais construtivos em relação à Hypera após os ajustes no primeiro trimestre nas políticas comerciais e no capital de giro. Com o capital de giro se aproximando dos níveis-alvo, todas as atenções devem se voltar para as tendências de sell-out como principal métrica para acompanhar o desempenho da companhia”, diz o banco.
Os analistas do BTG completam: “Se o turnaround da Hypera ocorrer conforme o planejado — com o crescimento do sell-out retornando em breve aos níveis do setor e margens sustentavelmente de volta a 35% —, há um potencial de valorização inspirador frente ao valor de mercado atual.”
Bye, Bye EMS?
A decisão de formar um bloco de controle tranca a porta, neste momento, para a EMS avançar sobre o controle da Hypera. Além da Votorantim, que detém 11% das ações, o acordo também envolve o fundador da farmacêutica, João Alves de Queiroz Filho (27,3%), o family office mexicano Maiorem AS (14,7%) e Alvaro Stainfeld Link (0,1%). A união terá validade de 10 anos e, a partir de agora, a venda de ações vinculadas ao acordo deverá ser feita em bloco.
“O novo bloco de controle fortalecerá ainda mais a governança corporativa e o processo de tomada de decisões estratégicas, contribuindo com a geração de valor para a companhia e seus acionistas”, diz a companhia, em fato relevante divulgado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
No ano passado, a EMS adotou uma política agressiva para justamente tentar fortalecer sua posição na companhia, em um movimento que foi freado pelo Conselho de Administração da Hypera, ao rejeitar, em outubro, a proposta da concorrente. Logo depois, a empresa retirou a proposta de fusão com a Hypera.
Em março deste ano, a Votorantim mais que dobrou sua participação na empresa, quando saltou de 5% para os atuais 11%. Queiroz Filho também aumentou sua posição, chegando ao índice atual de 27,3%. O fundo Perenne, veículos de investimentos de Carlos Sanchez, presidente do Conselho do Grupo NC (controlador da EMS), tem 6% de participação da Hypera.
No acumulado de 2025, as ações da Hypera na B3 registram valorização de 54,2%. No pregão desta terça-feira, os papéis operavam em queda de 1% por volta de 12h. A companhia farmacêutica está avaliada em R$ 17,5 bilhões.
Procurada pelo NeoFeed para comentar a estratégia, a Hypera não se manifestou.