A Hypera Pharma informou, em teleconferência com investidores e analistas, que está preparada para lançar no mercado vários produtos que vão ter sua patente vencida até 2030, em um mercado que poder gerar R$ 10 bilhões.
No ano que vem, a expectativa é pela produção do genérico do Ozempic, fabricado pela dinamarquesa Novo Nordisk, e que deixará de ser exclusivo no País a partir de abril de 2026.
“Já sabemos que existem players com pedido de registro na Anvisa. Estamos trabalhando para lançar assim que cair a patente e otimistas com este produto a partir do ano que vem”, afirmou Breno Oliveira, CEO da Hypera, durante a teleconferência, no fim da manhã desta sexta-feira, 21 de março.
A empresa anunciou recentemente um pipeline com 50 novos produtos, principalmente com novas apresentações de produtos consolidados, como o Buscopan, que hoje é a principal família de medicamentos da empresa, com cerca de R$ 500 milhões de receita em sell-out (venda direta ao consumidor).
Do portfólio atual da companhia, 15% dos itens produzidos são de medicamentos genéricos, enquanto 85% integram as categorias de produtos OTC (fora do balcão) e isentos de prescrição médica.
Política de capital de giro
Ao adotar uma política de otimização de capital de giro para reduzir o volume de estoques dos grandes clientes, a Hypera Pharma viu sua receita líquida cair 6% em 2024, saindo de R$ 7,9 bilhões em 2023 para atuais R$ 7,4 bilhões.
O impacto dessa estratégia também atingiu o lucro líquido da companhia, que alcançou R$ 1,33 bilhão no ano passado, queda de 19,3% sobre 2023. O Ebtida, que registrou R$ 2,1 bilhões em 2024, também sofreu queda, com desvalorização de 23,8%.
“Esse movimento está sendo bastante doloroso a curto prazo, mas trará benefícios para e empresa a partir dos próximos meses”, disse Oliveira.
A expectativa é de que os resultados do primeiro e segundo trimestre de 2025 também sejam afetados pela prática da diminuição do fluxo de estoque e de prazo de vendas às varejistas, que atualmente está em 70 dias. A estimativa é de chegar a 60 dias em abril.
“Esses trimestres ainda serão impactados por esse efeito, mas acredito que a partir do terceiro trimestre teremos um resultado um pouco mais próximo do que esperamos daqui para a frente”, afirmou Oliveira. A empresa afirma, no entanto, que não há chance de desabastecimento de produtos da companhia, mesmo com a redução de estoques.
“O ajuste que estamos fazendo agora é até maior do que fizemos no quarto trimestre de 2024. As despesas crescem, mas teremos vendas menores no curto prazo por conta de nosso processo. A tendência do primeiro trimestre será ainda mais acentuada”, afirmou o CEO da companhia.
As explicações apresentadas pelos executivos da companhia para queda do faturamento parecem ter sido relativamente bem aceitas pelo mercado financeiro. Até às 13h desta sexta-feira, 21 de março, as ações da B3 apresentavam valorização de 6%.
O quarto trimestre, como aponta o executivo, registrou uma queda ainda forte do que foi observado em todo o ano, o que mostra a tendência de piora do cenário financeiro nos próximos meses. Entre outubro e dezembro, a queda na receita líquida foi de 18,2%.
Bloco contra ofertas hostis
No ano passado, a rival EMS, líder em medicamentos genéricos no País, adotou uma política agressiva para tentar fortalecer sua posição acionária na Hypera, movimento freado pelo Conselho de Administração, que em outubro do ano passado rejeitou a proposta da empresa.
No início de março, a Votorantim mais do que dobrou sua participação societária da Hypera, passando de 5% para 11%. O fundador da empresa, José Alves de Queiroz Filho, também aumentou recentemente sua participação na companhia, e hoje tem 27,3%. O fundo mexicano de investimento Maiorem tem 14,7%. O fundo Perenne, ligado ao fundador da EMS, Carlos Sanchez, conta com 6% de participação.
Juntos, Votorantim, Queiroz Filho e Maiorem têm 53%, o que garante proteção da companhia para possíveis ofertas hostis. No início da semana, o trio divulgou que estava celebrando um acordo de voto, para a assembleia geral da companhia, que será no 25 de abril.
Junto com o balanço de 2024, a empresa também divulgou uma política de pagamento de R$ 184 milhões em juros sobre capital próprio aos acionistas da empresa.
Relatório produzido pelos analistas Samuel Alves e Yan Cesquim, do banco BTG Pactual, mostra que o fraco desempenho da farmacêutica foi ainda pior do que os analistas previam.
“Tendo em conta o processo de otimização do capital de giro (que conduziu a um fraco sell-in [venda para distribuidores]), já tínhamos baixado consideravelmente as nossas expectativas para o 4º trimestre. Mas os números registados acabaram por ser piores do que as nossas expectativas.”
Nesse sentido, os especialistas indicam um cenário neutro para os papéis da empresa. “O processo de recuperação para melhorar o capital de giro levou a um resultado fraco esperado no quarto trimestre. Mas, agora, todos os olhos se voltam para as tendências de liquidação para rastrear o desempenho da empresa após a otimização do capital de giro”, escreveram os analistas.