Bruno Henriques tinha quatro anos de iFood quando embarcou com a família para uma volta ao mundo, em 2022. Quatro meses depois, ele encerrou o sabático e voltou à antiga casa. Seu novo roteiro? Estruturar a operação que alimentaria os restaurantes desse ecossistema com ofertas financeiras.
Em junho de 2023, sob a liderança do executivo, a fintech ganhou nome – iFood Pago – e corpo. Hoje, a operação tem 200 mil contas ativas – de um total de 450 mil restaurantes cadastrados no iFood – e já concedeu R$ 2,83 bilhões em crédito a 67 mil estabelecimentos.
Após avançar em sua proposta de se firmar como a “fintech dos restaurantes”, a plataforma começa agora a enveredar por uma nova fronteira: as ofertas para os consumidores do ecossistema do iFood, por meio dos primeiros testes nas frentes de venda parcelada e Buy Now Pay Later.
“Sempre soubemos que o dia que quiséssemos ligar a máquina para emitir algum produto financeiro B2C, faríamos rápido”, afirma Bruno Henriques, CEO do iFood Pago e COO do iFood, ao NeoFeed. “A pergunta era: seríamos mais um ou geraríamos valor do outro lado da mesa?”
Ele observa que a fintech investiu tempo para entender onde estaria o seu espaço no segmento e como poderia se diferenciar em relação a tantas outras ofertas financeiras no mercado voltadas a esse público.
“O que percebemos é que existe, sim, uma oportunidade. Esse consumidor compra várias vezes conosco, mas, no fim do mês, o dinheiro acaba. Simples assim”, diz. “E eu posso ser a ponte para ele consumir. E eu quero que ele consuma dentro do iFood, que é o meu negócio principal.”
As pistas sobre essa nova direção já tinham sido dadas em agosto deste ano, quando o iFood anunciou o plano de investir R$ 17 bilhões no ano fiscal que se encerra em março de 2026. Na oportunidade, a empresa sinalizou que o iFood Pago e a incursão no B2C seriam um dos destinos desse aporte.
Nesse novo caldeirão, um dos ingredientes é o Buy Now Pay Later, o famoso – e antigo – crediário, com algumas atualizações. O modelo vem sendo testado desde agosto com cerca de 100 mil usuários do iFood, a partir de uma percepção identificada nos padrões de consumo da plataforma.
“O que a gente observa é que, do dia 15 ao dia 30, há uma oportunidade enorme de ajudar o consumidor a botar comida na mesa”, diz Henriques. “Por isso, estamos investindo nessa tese. Posso dar um microcrédito de R$ 50, R$ 100, para que ele faça a compra de mercado e me pague no mês seguinte.”
Até o momento, o tíquete médio dessas operações está na faixa de R$ 50 a R$ 60, com parcelas de 15, 30 e 45 dias. Um dos próximos passos será incorporar o portfólio da Koin, fintech especializada nesse formato que foi adquirida em 2020 pela Decolar, outra operação da Prosus, controladora do iFood.
“A Koin vai ser o braço que vai fazer esse produto escalar ao longo de 2026”, afirma o executivo. “É o nosso primeiro produto B2C de crédito. Eu vou financiar primeiro a comida. Depois, estabeleço um relacionamento com esse cliente e posso conceder R$ 3 mil, R$ 4 mil para ele. E para outras categorias.”
Ele ressalta, porém, que o iFood Pago não vai conceder “dinheiro por dinheiro”. Ou seja, novos produtos B2C só estarão na mesa se estiverem conectados com o ecossistema do iFood. Esse é o caso de outro formato em testes na fintech: as vendas parceladas.
Essa opção está sendo ofertada no checkout do iFood, por meio dos cartões de crédito parceiros disponíveis na plataforma. A quantidade de parcelas depende de cada bandeira e, em menos de dois meses, o modelo já registrou um total de 500 mil pedidos no aplicativo.
Nesse primeiro momento, em linha com a abordagem de ecossistema, as categorias que estão sendo testadas nesse primeiro momento são as de mercados e farmácias. Para 2026, o plano é começar a estender essa alternativa também para as refeições.
“Essa tese começou muito focada em groceries, que é onde temos as compras de tíquete médio mais alto e que representam hoje em torno de 3% a 4% das vendas do iFood”, diz Henriques. “Isso está se expandindo e, aos poucos, vamos encontrar quais são os outros casos de uso desse parcelamento.”
Outras fronteiras
Apesar de adotar um tom comedido, o executivo observa que é possível “sonhar grande” quando questionado sobre o potencial das ofertas B2C da fintech. E cita alguns números do iFood que traduzem o tamanho da oportunidade à frente.
Nos números mais recentes, relativos a outubro, a plataforma contabilizou, entre outros dados, 160 milhões de pedidos e uma base de 60 milhões de clientes. Desse total, 13 milhões são assinantes do Clube iFood, programa de fidelidade da marca.
Com um portfólio que, no B2B, ainda inclui ofertas como conta digital, crédito, o iFood Benefícios e a Maquinona – que combina máquina de pagamentos e CRM – o iFood Pago também contabiliza outros números. Entre eles, um volume de crédito pré-aprovado de R$ 8,56 bilhões para mais de 91 mil clientes.
De olho em acrescentar novos dígitos – e produtos - a essa conta, Henriques não revela detalhes. Mas diz que a fintech está criando o iFood Pay, plataforma de pagamentos que será bastante atrelada ao Pix.
Henriques projeta que a fintech vai fechar o ano fiscal de 2026, em março, com uma receita de R$ 2,5 bilhões, contra R$ 1,2 bilhão no exercício fiscal de 2025 – no período, o iFood faturou aproximadamente R$ 7 bilhões. E já prevê explorar novas fronteiras.