A aceleração da inflação e as perspectivas de um cenário competitivo mais duro no mercado de cerveja fizeram com que os analistas de Santander e Citi decidissem por rebaixar a recomendação para as ações da Ambev.

O Santander rebaixou a recomendação para Ambev a neutro e o preço-alvo de R$ 16 para R$ 12. O Citi também cortou a recomendação para neutro e diminuiu o preço-alvo para as ações de R$ 14,50 para R$ 11,80.

“Apesar da impressionante execução demonstrada ao longo dos últimos cinco anos – marcada por inovações como a BEEZ e o Zé Delivery, o bem-sucedido portfólio de premium que resultou em ganhos de mercado nos últimos 12 meses e um Ebitda com uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) – os desafios estão aumentando”, diz trecho do relatório do Citi.

Nos dois relatórios, a questão da inflação ganhou destaque. Para os analistas Guilherme Palhares e Laura Hirata, todas as divisões devem apresentar queda de margens diante da depreciação do real, o aumento dos preços do alumínio e da mão de obra. A situação deve ser particularmente pesada em cervejas.

“Estimamos que as perspectivas para os custos unitários da divisão de cerveja Brasil, geralmente anunciado junto com os resultados do quarto trimestre, apontem para um aumento de 8% na comparação anual”, diz trecho do relatório.

Os analistas do Citi, liderados por Renata Cabral, calculam que a margem Ebitda deve recuar 0,5 ponto percentual, para 30,7%, por conta da valorização do dólar e pressões inflacionárias vinda do lado das commodities.

“A forte exposição ao alumínio (45% do custo variável do segmento de cerveja e 20% da parte de bebidas não alcoólicas), juntamente com a exposição à resina PET são dois dos principais fatores em nosso radar, o que deve ter efeitos negativos nas margens da Ambev neste ano”, diz trecho do relatório.

Outro ponto destacado é a questão da competição. O Santander citou que a Heineken começou os trabalhos para construir uma nova unidade. A fábrica deve expandir a capacidade da rival da Ambev em cerca de 10%, segundo o relatório.

Esse aumento de capacidade viria em um momento em que o mercado brasileiro deve ter um aumento de 1% no volume vendido, com a Petrópolis desacelerando a produção enquanto lida com as consequências de seu pedido de recuperação judicial. O cenário dificulta repassar os custos da inflação aos preços dos produtos.

Os analistas do Citi apontam ainda para as notícias de que a J&F poderia adquirir a Petrópolis. Para eles, o movimento representaria um “risco credível” para a posição da Ambev, ao tornar o mercado mais “fragmentado e competitivo”.

A questão da inflação e o cenário competitivo acabam ofuscando as ações da Ambev, que operam com desconto em relação aos seus pares internacionais – as ações são negociadas a um P/E de 11 vezes, um desconto de 12% ante a concorrência.

Por volta das 11h42, as ações da Ambev caíam 1,60%, a R$ 11,07. Em 12 meses, os papéis da empresa se desvalorizavam-se 17,1%, levando o valor de mercado a R$ 174,4 bilhões.