O departamento de relações com investidores da Lojas Americanas não tinha publicado o comunicado-bomba na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que informava existir um descasamento contábil de R$ 20 bilhões e as renúncias de Sergio Rial, CEO, e de André Covre, CFO, na noite de quarta-feira, 11, quando uma movimentação atípica da ação da rede varejista saltou aos olhos, segundo apuração do NeoFeed.

A suspeita ganhou mais força porque a operação aconteceu no apagar das luzes do pregão, pouco após às 17h: a ordem de uma put (venda à descoberto do papel) de 917.100 ações usando a plataforma da XP. Em poucos minutos, uma única ordem com um volume nove vezes superior à media negociada no mesmo dia.

Esse foi o volume conseguido na contraparte, pois o pedido era de 1,2 milhão de ações.

Até às 18h32, quando a central de sistemas da CVM disponibilizou publicamente o documento oficial da empresa, não havia motivos para essa movimentação atípica com a ação da Americanas. Ou não deveria existir.

O valor da operação de R$ 331.922 jogava a ação para a casa dos R$ 2,77. Para um papel que fechou o dia cotado a R$ 12, a desvalorização passava dos 75%.

“A expectativa é um lucro de 15 vezes esse valor”, diz uma fonte de mercado, citando a possibilidade de um retorno de mais de R$ 5 milhões em uma noite.

Para os tubarões de mercado, alguns milhões a mais na carteira podem não fazer muita diferença. Mas no caso de um investidor pessoa física, esse retorno é condizente com qualquer vídeo distribuído nas redes sociais que vende o sonho da riqueza instantânea no mercado de capitais.

“Foi tudo muito atípico, o horário... É difícil julgar, mas tem indícios de uso de informação privilegiada”, diz um operador de mercado.

“É difícil demais, sempre tem um bizu. Agora é prove que é verdade”, diz outro profissional.

Até o fechamento desse texto não foi possível saber se a posição foi zerada e o lucro da operação embolsado.

O mercado espera que, agora, a CVM entre com a lupa e garanta que a equidade entre os investidores não foi afetada. Já há procedimentos administrativos correndo na autarquia federal sobre o caso.

Informação privilegiada? No mercado financeiro, muitas vezes o que parece realmente é.