As ações da Hapvida registram nesta quinta-feira, 13 de novembro, o pior desempenho desde sua abertura de capital, em 2018, com perda de mais de R$ 7 bilhões em valor de mercado, após a empresa divulgar resultados muito abaixo do esperado, levando analistas a revisarem projeções e investidores a abandonarem a tese.

Por volta das 16h15, os papéis da operadora de saúde verticalizada caíam 46,90%, a R$ 17,36 — maior queda intradiária desde 9 de maio de 2023, quando as ações recuaram 33,56%, após a empresa anunciar a intenção de realizar um aumento de capital, segundo levantamento da consultoria Elos Ayta a pedido do NeoFeed. No ano, as ações da Hapvida registram queda de 43,1%, levando o valor de mercado a R$ 9,3 bilhões.

O volume financeiro está bastante elevado, indicando que a paciência de muitos investidores chegou ao fim. Nos últimos 30 dias, o volume financeiro médio movimentado nas ações foi de R$ 131,7 milhões. No pregão de hoje está em R$ 1,36 bilhão. O total de negócios movimentados é de pouco menos de 12 mil. Hoje está acima de 70 mil negócios.

O estopim foi o balanço do terceiro trimestre, que veio repleto de pontos críticos. O prejuízo líquido melhorou em 20% em base anual, para R$ 57 milhões, enquanto a média das estimativas apontava para um lucro de R$ 253 milhões, segundo a Bloomberg. Em termos ajustados, o lucro subiu 4,1%, para R$ 337,7 milhões.

Em relatório, os analistas do J.P. Morgan atribuíram o resultado fraco a fatores operacionais, como o menor número de novos clientes, tíquete médio abaixo do previsto, alta da sinistralidade e impactos do inverno mais rigoroso, que elevou casos de viroses.

Isso resultou num Ebitda ajustado de R$ 746,4 milhões, queda de 2,1% em relação ao ano anterior, sendo que o valor seria R$ 613,3 milhões. A média das projeções de analistas consultados pela Bloomberg apontava para R$ 864 milhões.

Diante dos resultados e da expectativa de que os desafios persistam em 2026, o J.P. Morgan rebaixou a recomendação das ações de “compra” para “neutra” e cortou o preço-alvo de R$ 52 para R$ 39.

Os analistas destacaram que os investimentos realizados pela Hapvida para melhorar suas operações ainda não geram retorno, enquanto a Amil começa a se consolidar como concorrente relevante em São Paulo.

“A empresa não está colhendo os frutos dos investimentos, ao menos por enquanto, já que as novas adesões seguem limitadas, com alta taxa de cancelamento e preços restritos”, diz o relatório.

Essa é a mesma avaliação de um gestor ouvido pelo NeoFeed, que pediu para não ser identificado. "A Hapvida prometeu dezenas de bilhões de reais de sinergias e não entrega nada", afirmou, destacando que não tem mais posição na empresa.

Outro ponto recorrente nas análises é a queima de caixa de R$ 52 milhões. O BTG Pactual apontou que o número representa forte reversão em relação ao terceiro trimestre de 2024, resultado de Ebitda fraco, maiores desembolsos com ressarcimentos ao SUS e pagamentos acumulados de contas médicas e fornecedores.

O BTG cortou o preço-alvo das ações de R$ 67 para R$ 50 e reduziu a estimativa de lucro ajustado para 2025 em 18%, para R$ 1 bilhão, e do Ebitda ajustado em 10%, para R$ 3,4 bilhões. Embora tenha mantido a recomendação de compra, reconheceu perda de confiança na companhia.

Apesar de avanços na gestão jurídica nos primeiros trimestres, o BTG avalia que a Hapvida ainda enfrenta muitos desafios, evidenciados pelo balanço recente.

“Diferente do que o consenso vinha assumindo, achamos difícil esperar margens muito superiores às atuais no próximo ano, já que boa parte dos desafios observados deve persistir, como custos das novas unidades hospitalares e despesas com vendas, administrativas e gerais”, afirma o relatório.

A Ativa Investimentos também destacou impactos negativos no top line, como maior competitividade, menor demanda por planos de adesão e inadimplência, que pressionaram a adição de beneficiários.

A receita líquida consolidada foi de R$ 7,8 bilhões, alta de 6% em relação ao ano anterior, mas abaixo dos R$ 8,1 bilhões estimados pela Ativa. A margem bruta ficou em 21,2%, queda de 2,1 pontos percentuais ante o terceiro trimestre de 2024 e 5,1 pontos abaixo da estimativa da plataforma.