A Itaúsa, holding de investimentos cujo portfólio reúne Itaú Unibanco, Alpargatas, Dexco, CCR, Aegea, Copa Energia e NTS, está adotando um tom mais comedido e cauteloso na hora de fazer novos investimentos.
“Estamos sempre olhando oportunidades e temos várias propostas e estudos de non-disclosure agreement assinados”, disse Alfredo Setubal, CEO da Itaúsa. “Mas o momento é mais desafiador e eu vejo uma certa dificuldade de fazer novos investimentos no curto e médio prazo.”
A declaração foi feita durante o Panorama Itaúsa, com um balanço sobre o ano de 2024 e as perspectivas à frente da holding de investimentos.
Para justificar, a princípio, esse pé no freio, Setubal citou, em especial, o ciclo de nova alta na taxa básica de juros, ao lado do risco Brasil elevado e a inflação alta, além de um panorama de incertezas internacionais e locais.
“Não estamos fechados para novas oportunidades, mas esse ambiente limita muito a criação de valor”, afirmou Setubal. “Com essa taxa de juros precisaríamos ter retornos muito altos nesse momento para justificar o risco.”
Por outro lado, Setubal ressaltou a gestão ativa do que a Itaúsa tem dentro de casa, citando, além dos dois investimentos-base da holding – Itaú Unibanco e Dexco -, os demais ativos incorporados em um ciclo iniciado em 2017, bem como os desinvestimentos feitos no período, em especial, da XP.
“Apesar de todas as dificuldades no Brasil, fomos capazes de encontrar investimentos que deram retornos muito altos para a companhia e para os acionistas”, disse. “Então, estamos encerrando esse primeiro ciclo de investimentos e desinvestimentos com um portfólio muito sólido.”
Nesse balanço, Setubal destacou o segmento de infraestrutura, em particular, como um setor que tem atraído cada vez mais o interesse e os aportes da holding. E onde a Itaúsa enxerga grandes perspectivas de crescimento nos próximos anos.
Durante o evento, a empresa usou os ativos não-listados em bolsa nesse segmento, assim como do setor de energia, para traduzir parte do retorno que a Itaúsa contabilizou nesse ciclo de investimentos iniciado há sete anos.
Segundo o grupo, na NTS, que atua com o transporte de gás natural e que deu o pontapé nesse ciclo, o payback do investimento veio em quatro anos, antes do prazo inicialmente estimado. A empresa já destinou R$ 1,9 bilhão em dividendos para a Itaúsa, quase três vezes o valor investido em 2017.
Em outra métrica, o total shareholder return (TSR), que leva em conta os dividendos recebidos e a valorização do ativo, o retorno da NTS em sete anos foi de 403%. Já na Copa Energia, de distribuição de GLP, esse índice foi de 155%.
Desde o investimento feito na operação, em 2020, a Copa Energia também contabilizou um crescimento, em média, de 42% em seu Ebitda. Nesse mesmo indicador, a Aegea, de saneamento, registrou uma taxa média de 54%.
Em um olhar mais amplo, Priscila Grecco, CFO da Itaúsa, observou que o total shareholder return da holding nos últimos dez anos foi de 273%. Ela ressaltou, porém, que a ação do grupo está sendo negociada com um desconto de 21% em relação ao valor do seu portfólio.
“Se olharmos o preço de tela, em outubro, o valor desse portfólio estava sendo precificado pelo mercado em R$ 109 bilhões”, afirmou Grecco. “E só a participação que detemos no Itaú Unibanco está valendo mais que a Itaúsa como um todo.”
Ao apontar que o desconto está acima do patamar considerado justo, a CFO citou novamente que a holding tem três ativos não-listados, com um histórico de crescimento bastante expressivo e retornos diferenciados, que não estão sendo precificados nessa “conta” do mercado.
Setubal comentou também que, com o desempenho acima do esperado das investidas, a expectativa é de que a Itaúsa distribua dividendos adicionais no início de 2024, “acima do mínimo esperado”.
Ao mesmo tempo, na noite da segunda-feira, 11 de novembro, a Itaúsa anunciou que seu Conselho de Administração aprovou um aumento de capital social de R$ 7 bilhões, por meio da capitalização de reservas em lucros com bonificação de 5% em ações para investidores.
Segundo o comunicado divulgado pela empresa, a bonificação será feita na proporção de cinco novas ações para cada 100 ações da mesma espécie, considerando a posição acionária final do próximo dia 2 de dezembro.
O anúncio acompanhou a apresentação do balanço da holding no terceiro trimestre de 2024. No período, a Itaúsa apurou um lucro líquido recorrente de R$ 3,88 bilhões, alta de 13,4% sobre o mesmo intervalo de 2023.
A empresa fechou o trimestre com um patrimônio líquido de R$ 86,4 bilhões, um crescimento de 8,4%. Já o ROE recorrente sobre o patrimônio líquido médio ficou em 18,3%, contra o índice de 17,5% registrado um ano antes.
Já o resultado recorrente das empresas investidas foi de R$ 4,07 bilhões, um crescimento em base anual de 16%. Enquanto o valor de mercado do portfólio veio no patamar de R$ 142,4 bilhões, um salto de 29,8%, e a receita avançou 26,6%, para R$ 2,24 bilhões.
Em outro indicador, a Itaúsa encerrou o trimestre com um endividamento líquido de R$ 939 milhões, uma queda na comparação anual de 45,6%. A alavancagem, por sua vez, ficou em 0,7%, contra 1,6% um ano antes.
As ações preferenciais da Itaúsa registravam ligeira queda de 0,19% por volta das 12h20 na B3, cotadas a R$ 10,63. No acumulado de 2024, porém, os papéis têm alta de 2,5%. A companhia está avaliada em R$ 109,7 bilhões.