Um cenário de quedas expressivas e em sequência nas bolsas de valores de Ásia, Europa e Estados Unidos ilustrou o pânico e o tombo que tomou conta dos mercados no último dia 5 de agosto. Duas semanas depois, porém, aquela forte tempestade, ao que tudo indica, já ganhou ares de bonança.

Esse é, ao menos, o tom adotado pelo Deutsche Bank em uma nota enviada a clientes na segunda-feira, 19 de agosto, citada em reportagem do Financial Times. Segundo a instituição, os investidores voltaram a “depositar suas fichas” em ações, em um contexto de rápida recuperação da confiança.

Tal percepção é sustentada por dados compilados pelo banco alemão. Eles mostram que os investidores que reduziram a exposição a ações durante o “surto” de volatilidade no início do mês voltaram a aumentar drasticamente suas participações no mercado de capitais.

Como uma medida dessa retomada, o Deutsche Bank ressaltou que a exposição dos investidores discricionários “saltou acentuadamente” na semana passada, recuperando-se totalmente da fuga da semana retrasada e alcançando volumes “novamente acima da média novamente”.

Nesse caso, o banco observou, na nota, que uma boa parcela dos recursos teve como destino opções de índice e ações de empresas “megacap” de tecnologia, vistas como cíclicas e defensivas.

Em outra ponta, o Deutsche Bank destacou que os portfólios que seguem tendências, incluindo nessa seara os fundos de “controle de volatilidade”, também registraram um aumento significativo em sua exposição a ações, embora suas posições ainda estejam “bem aquém das máximas históricas”.

Há duas semanas, a queda generalizada explicada pelos temores crescentes de uma recessão nos Estados Unidos, desencadeou, entre outros efeitos, uma queda de 12,4% no índice Nikkei, no pior desempenho da bolsa de valores do Japão desde o crash de 1987.

Ao mesmo tempo, esses impactos se alastraram por outros mercados globais e foram marcados ainda por questões como uma forte correção nas ações, em particular, os papéis de empresas tecnologia, especialmente nos Estados Unidos.

O banco alemão ressalta, no entanto, que os mercados globais de ações registraram na semana passada seu melhor desempenho desde novembro, à medida que os Estados Unidos divulgaram uma série de indicadores econômicos mais fortes, reduzindo as preocupações acerca de uma recessão.

"Mesmo os pessimistas permanentes teriam lutado muito para encontrar algo que justificasse os recentes temores de recessão na série de dados divulgada na semana passada", afirmou Neil Shearing, economista-chefe da Capital Economics, ao Financial Times.

Quem também engrossou esse coro mais otimista foi o Bank of America, que, a partir de uma pesquisa ressaltou que os investidores de crédito esperam “esmagadoramente” um “pouso suave” para a economia americana.

Segundo o BofA, três em cada quatro entrevistados esperam agora que a inflação dos Estados Unidos desacelere sem que isso implique em uma recessão. A pesquisa foi realizada na semana passada, com 48 clientes de bancos, seguradoras, fundos de pensão, gestores de ativos e fundos de hedge.

“As turbulências deste mês nos mercados serviram apenas para reforçar a convicção do investidor em um ambiente macroeconômico Goldilocks”, destacou o Bank of America, em uma referência justamente ao termo que caracteriza uma queda na inflação sem um grande recuo na economia.

Se bull market é a tradução para otimismo dos investidores, então o momento é favorável ao touro na bolsa de valores.