Em maio de 2022, a JSL anunciou a compra da logtech Truckpad, em uma operação avaliada em R$ 10 milhões. Esse foi mais um dos acordos dentro da via inorgânica que a empresa de logística e transporte do grupo Simpar começou a percorrer depois de abrir capital, dois anos antes.

Na época da aquisição, o CEO da empresa, Ramon Alcaraz, disse ao NeoFeed que, até então, a JSL estava andando em um “fusquinha” no que diz respeito à digitalização. E que a chegada da Truckpad era como se a empresa ganhasse um BMW para acelerar essa jornada.

Prestes a completar um ano dessa analogia, a companhia ainda tem um bom chão para que ela se torne realidade. Mas, na visão do executivo, a empresa já avançou algumas casas nessa direção.

“Para ficar na mesma montadora, o fusquinha virou um Golf”, brinca Alcaraz, em entrevista ao NeoFeed. “Uma questão é o desempenho da Truckpad, que vai muito bem, obrigado. Outra é o fato de que temos conseguido andar mais rápido em alguns projetos da JSL.”

Nesse segundo caminho, um dos principais frutos dessa associação, até o momento, é um projeto-piloto batizado de Torre Ativa. Na prática, a iniciativa busca validar uma plataforma que conecta as demandas de cargas de clientes com caminhoneiros autônomos disponíveis para atender aquele frete.

“Do ponto de vista de tecnologia, é um modelo semelhante ao que a Uber propõe”, explica Alcaraz. “O transporte de cargas no Brasil ainda se assemelha aos táxis de antigamente. Nossa ideia é sair do analógico para uma logística digital.”

Essa orientação inclui mais similaridades com o formato proposto pela Uber e outros aplicativos de transporte. Entre elas, a possibilidade de encaixar novas cargas no percurso de volta de um determinado destino. Quando, em boa parte das vezes, o caminhão está vazio.

“A ideia é otimizar o transporte de carga em geral”, observa o executivo. “E juntar as três pontas: o cliente da origem, o cliente do destino e a disponibilidade dos caminhoneiros autônomos.”

O projeto começou a ser testado em outubro de 2022, em todo o País. A princípio, ele envolve um único cliente da JSL, de nome não revelado. O plano é começar a escalar a iniciativa nos próximos meses, o que passa, inclusive, pela oferta além dos limites da JSL.

“Estamos investindo um bom tempo para desenvolver esse projeto com a Truckpad em duas frentes”, diz Guilherme Sampaio, CFO da JSL. “O primeiro tem a JSL e seus clientes como principais usuários. E, depois disso, essa plataforma pode ser vendida para outras empresas.”

Por seu caráter ainda bastante embrionário, a plataforma não será, segundo Sampaio, algo que transformará os números da JSL no curto prazo. “Ao mesmo tempo, o plano é criar o fundamento para que vai ser a transformação do transporte de carga”, observa o CFO.

Enquanto isso, no curto prazo, a empresa enxerga um cenário desafiador para 2023. Mas se apoia em alguns números reportados no primeiro trimestre do ano como um motor para atravessar esse período, a princípio, mais conturbado.

Um dos principais indicadores destacados foi o volume total de contratos firmados entre janeiro e março, de R$ 605 milhões, com prazo médio de 35 meses. Antes, em 2022, a JSL encerrou essa linha com um patamar de R$ 6 bilhões em novos acordos.

Ramon Alcaraz, CEO da JSL

“Estamos conseguindo fazer a precificação correta nesses contratos, adequada a uma nova realidade de aumento dos insumos”, diz Alcaraz. “E, ao mesmo tempo, estamos renegociando contratos anteriores, nos quais ainda não tínhamos esse contexto.”

Ao ressaltar que o fato de o grupo ter uma boa diversificação de atuação por segmento, o executivo destaca alguns dos setores nos quais enxerga mais potencial e resiliência para seguir sustentando essa demanda.

Entre esses mercados, ele aponta o transporte ligado a commodities para exportação, em indústrias como mineração, papel e celulose. Além de segmentos como grãos, químicos e combustíveis, que estiveram no centro da compra, em março, da IC Transportes, por R$ 587 milhões, consolidando a maior aquisição entre os sete acordos feitos pela empresa desde o seu IPO.

No trimestre, a JSL reportou uma receita de R$ 1,56 bilhão, o que representou uma alta de 20,6% sobre igual período, um ano antes. O Ebitda, por sua vez, avançou 39,5%, para R$ 306,1 milhões. Já a margem Ebitda cresceu três pontos percentuais nesse intervalo, para 20,3%.

Em contrapartida, o lucro líquido recuou 18,9%, para R$ 26,8 milhões. A companhia atribuiu parte desse desempenho ao impacto da depreciação de ativos já adquiridos, cujos contratos ainda estão em fase de implantação. E com início de geração de receita prevista para os próximos trimestres.

Já a alavancagem, medida pela relação dívida líquida versus Ebitda, foi de 3,25 vezes, praticamente no mesmo patamar do índice de 3,17 vezes registrado no quarto trimestre do ano passado.

As ações da JSL fecharam o pregão desta quinta-feira, 27 de abril, em queda de 2,46%, cotadas a R$ 7,13. No acumulado do ano, porém, os papéis têm uma valorização de 29,4%. A empresa está avaliada em R$ 2 bilhões.