O mercado de ações europeu acabou sendo parcialmente atingido nesta sexta-feira, 10 de março, com a crise financeira iniciada na véspera nos Estados Unidos, após o Silicon Valley Bank, focado no setor de tecnologia, anunciar uma perda de US$ 1,8 bilhão na venda da carteira de títulos.

O impacto gerado pela venda de US$ 52,4 bilhões em ações de bancos americanos no desdobramento da crise acabou respingando em bancos tradicionais europeus.

Mas o temor de um contágio mais amplo no sistema financeiro do continente foi afastado pelo fato de os bancos europeus, que vêm obtendo lucros elevados devido à alta taxa de juros, estarem mais protegidos contra perdas em suas carteiras de títulos.

As perdas no dia, no entanto, foram significativas para bancos tradicionais do continente. O Deutsche Bank foi o mais atingido, com queda de 8% no valor de suas ações. O Société Générale, HSBC e Barclays registraram queda de ações de 6%, 4% e 3%, respectivamente.

O índice Stoxx Europe 600 Banks, que acompanha 42 grandes bancos europeus, incluindo os do Reino Unido, caiu mais de 4% na manhã de sexta-feira, antes de se recuperar ligeiramente. O índice FTSE 100 (UKX), da Bolsa de Londres, também registrou queda, de 1,4%.

Bonança dos juros

Os bancos têm sido um dos setores de melhor desempenho na Europa, com ações subindo 20% nos últimos seis meses, fruto do aumento das taxas de juros – pois seus lucros aumentam com a diferença entre o que pagam em taxas de depósito e o que ganham com os empréstimos.

No mercado mais amplo, o maior temor estava num possível impacto da crise nos EUA sobre o valor baixo dos títulos mantidos pelos bancos europeus – que compraram esses papéis a um preço mais elevado, quando as taxas de juros estavam baixas.

Caso os bancos europeus fossem obrigados a vender esses títulos para fazer caixa agora, numa cotação desfavorável, o prejuízo seria certo.

Ao longo dia, porém, analistas e investidores avaliaram que as quedas das ações na sexta-feira foram pontuais, sem repercussão a médio prazo.

A conclusão é de que a queda no valor dos títulos detidos pelos bancos não chega a ser necessariamente um problema, a menos que essas instituições sejam forçadas a vendê-los. Esse risco é maior em bancos fortemente expostos ao setor de tecnologia, como o SVB.

Na Ásia, a Bolsa de Hong Kong liderou as perdas na região, caindo 3%, seguida da Bolsa de Xangai (1,4%) e de Seul (1%).

O índice Nikkei da Bolsa de Tóquio fechou em queda de 1,7%. A ironia é que o tema juros pesou mais no resultado do que o efeito SVB. Isso porque o Banco Central do Japão (BoJ) decidiu manter suas taxas de juros ultrabaixas inalteradas: -0,1% ao ano.