Depois de apresentar um polêmico pedido de recuperação judicial em maio, a Light decidiu mudar a estratégia, diante da resistência dos credores com os termos apresentados e em meio às discussões a respeito da renovação da concessão de distribuição de energia no Rio de Janeiro com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Em vez de seguir pelo caminho da recuperação judicial, o conselho de administração aprovou um plano para acelerar a saída do processo, segundo fontes ouvidas pelo NeoFeed familiarizadas com a intenção do board. E, dentre os eventos e etapas traçados, a mais importante é um acordo com os principais credores da empresa para dar uma solução aos R$ 11 bilhões em dívidas que a companhia possui.

Resistentes à forma como o processo vem sendo conduzido, questionando desde a legalidade do pedido de recuperação judicial, a falta de canais de comunicação e até uma suposta truculência na maneira como são tratados, diversos grupos de credores foram pegos de surpresa com as notícias a respeito do suposto plano da Light, que pipocaram pelo noticiário na terça-feira, 5 de setembro.

Mas após analisarem as informações que saíram pela mídia, muitos estão em compasso de espera, aguardando que a intenção seja oficializada e que a companhia apresente os termos de um acordo.

“Estamos acompanhando de perto e esperando algo oficial sobre o assunto nos autos da recuperação judicial”, diz Carlos Ximenes, advogado do escritório Castro Barros e que representa um grupo de debenturistas com R$ 1,4 bilhão em créditos com a Light. “Quando ela oficializar o plano, teremos uma ideia do que se trata, mas, por enquanto, nada muda.”

Além do grupo representado por Ximenes, a Light tem ainda credores como um grupo de bondholders, que detêm cerca de US$ 600 milhões em papéis da geradora e da distribuidora, representado pelo banco de investimento Moelis e pela banca de advogados Pinheiro Neto.

Outro grupo reúne detentores de debêntures de oito emissões que representam R$ 5 bilhões em crédito a receber, como gestoras e fundos de previdência, e tem como representantes os escritórios Lefosse e FCDG Advogados.

Dificilmente essa movimentação deve levar a uma melhora da relação entre Light e credores, nem deve acelerar as negociações, segundo os depoimentos de fontes ligadas a grupos de credores ouvidas pelo NeoFeed.

Para uma delas, que pediu para não ser identificada, o fato de não ter havido uma comunicação oficial a respeito do tema, nem algum tipo de contato da empresa e seus representantes, foi interpretado como uma ação “midiática e política”.

“Parece uma coisa meio voluntariosa para dar satisfação ao mercado e colocar pressão nos credores”, diz a fonte. “Acho impossível esse negócio acabar neste ano, é algo que deve se estender para o ano que vem, porque não estamos perto de um acordo ou de receber algo aceitável.”

Uma tese comum entre alguns dos grupos de credores é que o vazamento da notícia de que a Light quer fechar um acordo com os credores foi uma sinalização para a Aneel, que está avaliando a renovação da concessão do braço de distribuição, que atende consumidores em 31 municípios do Rio de Janeiro. O atual contrato vence em 2026 e a companhia quer antecipar o processo.

Em julho, a autarquia emitiu um termo de intimação para a distribuidora apresentar um plano de ações que assegurem a sustentabilidade econômico-financeira da concessão, com cronograma das ações a serem tomadas. “A Light foi pressionada a mostrar como se tornará sustentável financeiramente se está brigando com os credores”, diz uma das fontes.

Os credores, no entanto, dizem que o processo nada andou desde que o plano de recuperação judicial ficou conhecido, em julho deste ano. “O processo está muito ruim, com engajamento baixíssimo, com uma administração disfuncional, ruído entre diretoria e conselho”, diz uma das fontes.

Com a troca da diretoria e do conselho após o empresário Nelson Tanure se tornar o principal acionista da Light em julho – a WNT, gestora ligada a ele, tem 30% do capital social – e a chegada da BR Partners como assessora financeira da empresa, a interlocução deu uma melhorada, mas não foi suficiente para avançar nas negociações, segundo uma das fontes.

Uma das fontes diz que representantes da Light sinalizaram com alguns pontos, como a capitalização podendo ser de R$ 1,5 bilhão a R$ 2 bilhões, com parte sendo feita pelos acionistas e outra pelos credores, com conversa da dívida em equity no limite de 50%.

Mas o que todos os credores esperam mesmo é que a Light de fato se engaje em conversas e deixe de passar informações pela imprensa. “O que nós esperamos efetivamente é que a companhia fale menos e faça mais, engajando todos em conversas construtivas”, diz uma das fontes. “Por enquanto, o que se tem  é somente espuma.”

As ações da Light fecharam o pregão desta quarta-feira, dia 6 de setembro, com queda de 8,79%, a R$ 5,60. No acumulado do ano, elas registram alta de 20,9%, levando o valor de mercado a R$ 2,1 bilhões.

Procurada pelo NeoFeed, a Light não se manifestou sobre o assunto.