As ações da BRF abriram o pregão de quarta-feira, 31 de maio, em um forte rali. Por volta das 10h20, os papéis registravam alta de 14,31% na B3, cotadas a R$ 8,31, dando à empresa um valor de mercado superior a R$ 8,7 bilhões.

O impulso para essa escalada veio à tona cerca de duas horas antes. Em fato relevante, a companhia anunciou que o fundo saudita Salic e a Marfrig, que já controla a operação, se comprometeram a investir em um potencial aumento de capital da operação, via uma oferta primária de ações.

Em um eventual follow on, o Salic e a Marfrig irão subscrever até 250 milhões de ações cada, sob a condição do preço dos novos papéis não exceder R$ 9. Esses termos representariam um aporte de até R$ 4,5 bilhões e um prêmio de 23,7% sobre a cotação do papel no encerramento do pregão de ontem, de R$ 7,27 (às 13h o papel continuava em alta de 9,2%, aos R$ 7,94).

A BRF informou ainda que seu Conselho de Administração aprovou a contratação de um assessor financeiro para estudar as alternativas para a realização da oferta. O board também deu o sinal verde para a convocação de uma assembleia geral extraordinária para deliberar sobre o aumento de capital.

Caso seja concretizado, o movimento traduzirá um novo avanço da Marfrig na operação. A empresa de Marcos Molina começou a comprar ações da BRF em 2021 e, atualmente, é a sua maior acionista, com uma fatia de 33,2%. O Salic, por sua vez, controla a Minerva, com uma participação de 30,55%.

Em paralelo, uma potencial nova oferta aconteceria apenas pouco mais de um ano após o último follow on realizado pela BRF, em fevereiro de 2022, quando a empresa captou R$ 5,4 bilhões.

O curto intervalo entre esses dois processos e as altas cifras envolvidas têm como pano de fundo o capítulo mais recente do histórico conturbado e de sucessivas reestruturações da BRF, desde a sua criação, em 2009, a partir da fusão entre a Sadia e a Perdigão.

Essa trajetória incluiu episódios como Abilio Diniz, com o apoio da gestora Tarpon, assumindo a presidência do board e as rédeas da operação, em 2013, com a promessa de capturar, de fato, o valor embutido na tese da unificação das duas marcas e dobrar o seu valor de mercado da companhia.

Entre idas e vindas, trocas de CEOs, disputas entre acionistas e equívocos na gestão, o plano naufragou e, em 2021, nove anos depois, o empresário deixou o quadro de acionistas da BRF ao vender sua participação justamente para a Marfrig.

Com a nova controladora, um dos passos recentes em mais uma tentativa de turnaround da BRF foi a nomeação, em agosto de 2022, de Miguel Gularte, ex-CEO da Marfrig, para assumir o comando da operação e recuperar a confiança do mercado.

Alguns indicadores mais recentes mostram, no entanto, que o executivo e a empresa ainda tem um árduo caminho pela frente. A começar pela alavancagem da operação. A BRF encerrou o primeiro trimestre de 2023 com uma dívida líquida de R$ 15,2 bilhões e uma relação dívida líquida/Ebitda de 3,35 vezes.

Entre outros pontos de atenção, a empresa reportou um prejuízo líquido de R$ 1,02 bilhão, acima das projeções de analistas. Já o Ebitda ajustado de R$ 607 milhões no período ficou 20% abaixo das estimativas do mercado.

Nesse contexto, em outro movimento em busca de melhorar sua estrutura de capital, a BRF anunciou em fevereiro a contratação do Santander como assessor financeiro no processo de desinvestimento da sua operação de pet food.

As ações da BRF, no ano, acumulam uma desvalorização superior a 5%.