Em meio ao crescente volume de preocupações em torno de uma possível bolha para o setor de inteligência artificial (IA), a gigante de tecnologia Oracle sofreu um baque que pode atrapalhar os planos de desenvolvimento da companhia.
A Blue Owl Capital, maior parceira da Oracle na implementação de data centers, decidiu cancelar aporte de US$ 10 bilhões, destinado ao desenvolvimento de um megacentro de dados de 1 gigawatt (GW) planejado para atender à OpenAI, em Michigan.
O anúncio derrubou as ações da companhia. Na Nyse, os papéis da Oracle operavam em queda de 6% por volta de 17h40 (horário de Brasília). Avaliada em US$ 510 bilhões, a empresa acumula valorização de 6,5% em 2025.
A decisão da investidora tem relação com as crescentes preocupações do grupo de software quanto ao aumento de sua dívida e gastos com IA. A Blue Owl normalmente cria uma empresa de propósito específico (SPE), que detém a propriedade do data center e o aluga à Oracle.
A empresa de capital privado tem sido o principal financiador dos maiores projetos de data centers da Oracle nos Estados Unidos, no modelo de investimento próprio no projeto e depois captando recursos para a construção.
O rompimento das negociações de financiamento com a Blue Owl deixa em dúvida todo o financiamento da unidade de Michigan, já que a Oracle ainda não fechou acordo com um novo investidor, segundo pessoas próximas ao assunto.
A Blackstone manteve conversas para entrar como parceira financeira, mas ainda não assinou um acordo para investir no centro de dados da Oracle, disseram as fontes.
A turbulência no financiamento aponta para crescentes tensões na estratégia de infraestrutura de IA da Oracle. O grupo, fundado por Larry Ellison, embarcou em uma onda de gastos com data centers de IA nos últimos meses e recorreu aos mercados de dívida para aumentar sua capacidade, assustando investidores e gerando preocupação entre agências de classificação de risco e analistas.
Pessoas próximas ao acordo disseram que os credores pressionaram por termos de leasing e dívida mais rigorosos em meio à mudança de sentimento do mercado em relação aos enormes gastos com IA.
Isso inclui os próprios compromissos da Oracle e os crescentes níveis de endividamento. Como resultado, o acordo se mostrou menos atraente financeiramente para a Blue Owl do que seus projetos anteriores, segundo algumas fontes.
A Blue Owl também estava preocupada com a possibilidade de atrasos no empreendimento em Michigan, que está sendo construído pela incorporadora Related Digital. Blackstone e Blue Owl não quiseram comentar.
“Nossa parceira de desenvolvimento, Related Digital, selecionou a melhor parceira de capital próprio dentre um grupo competitivo de opções, que neste caso não foi a Blue Owl. As negociações finais para o acordo de participação acionária estão avançando conforme o cronograma e o planejado”, diz a Oracle, ao Financial Times.
A Related Digital afirmou: “Este é um projeto excepcional que despertou grande interesse de parceiros investidores. Avaliamos todas as nossas opções e selecionamos nosso parceiro investidor preferido por sua experiência incomparável na área.”
A incorporadora se recusou a divulgar o nome do parceiro de capital do projeto. Uma pessoa próxima à empresa afirmou que ela está nos “estágios finais de due diligence” com o investidor.
A Oracle está construindo o centro de dados em uma área agrícola no município de Saline, como parte de um acordo de US$ 300 bilhões com a OpenAI para fornecer 4,5 GW de poder computacional nos próximos cinco anos.
O projeto enfrentou problemas desde o seu lançamento, em agosto, incluindo o veto inicial das autoridades locais em aprovar um pedido de rezoneamento para permitir a construção no local, o que resultou em um processo judicial.
O caso foi posteriormente resolvido, permitindo que a construção comece no primeiro trimestre do próximo ano.
Uma fonte ouvida pelo FT, familiarizada com a estrutura dos contratos da Oracle com credores e operadores de data centers, afirmou que a empresa enfrenta condições mais difíceis em seus financiamentos do que concorrentes como Amazon e Microsoft.
Em novembro, a Oracle apresentava cerca de US$ 105 bilhões em dívida líquida, incluindo obrigações em arrendamento, um aumento 34,6% em relação aos US$ 78 bilhões registrados no mesmo período do ano anterior.
Valor chegará a cerca de US$ 290 bilhões até 2028. A Oracle vendeu US$ 18 bilhões em títulos em setembro e está em negociações para levantar US$ 38 bilhões em financiamento de dívida por meio de americanos.