A revolução imposta à medicina pelo novo coronavírus segue em curso. A biofarmacêutica americana Moderna anunciou nesta terça-feira, 13 de dezembro, que sua vacina contra o SARS-CoV-2 se revelou eficaz também contra o melanoma, o mais agressivo dos tumores de pele.
O imunizante Spikevax reduziu em 44% os riscos de recidiva e morte pela doença. Com a notícia, as ações da companhia de biotecnologia fecharam o pregão de hoje na Nasdaq com alta de 19,63%, cotadas a US$ 197,54, dando à empresa um valor de mercado de US$ 75,8 bilhões.
“Agora, somos uma empresa de oncologia”, destacou Stéphane Bancel, CEO da biofarmacêutica, em entrevista ao portal americano Business Insider. “E podemos ser uma das maiores companhias de oncologia no futuro.”
Sediada na cidade de Cambridge, a Moderna já tinha cerca de dez anos de história, quando, em 2020, ganhou os holofotes como a fabricante da mais tecnológica das vacinas contra a Covid-19, baseada em RNA mensageiro – ou simplesmente mRNA.
Graças ao feito, a empresa de biotecnologia viu seu valor de mercado explodir. No fim fevereiro de 2020, quando a Covid-19 começava a avançar pelo mundo, a empresa estava avaliada em US$ 9,5 bilhões. A empresa fechou aquele ano com um valuation acima de US$ 40 bilhões e, em setembro de 2021, alcançou o seu pico, ao ser avaliada em US$ 181 bilhões.
Com esse patamar, a Moderna, até então, uma empresa praticamente desconhecida, se viu ao lado de gigantes globais e tradicionais da indústria farmacêutica, como a GlaxoSmithKline e a Sanofi.
Com o controle da crise sanitária, veio, porém, a dúvida: e agora, para onde vai a Moderna? Entre outros fatores, esse é um dos componentes por trás da queda acumulada de mais de 22% na cotação das ações da companhia em 2022.
Na busca pela evolução da sua operação, a biofarmacêutica foi testar sua tecnologia de mRNA contra o câncer. E, ao que tudo indica, a partir dos resultados colhidos até o momento, está ganhando fôlego para um novo salto no mercado.
Como parte dessa estratégia, no início do ano, a empresa renovou a parceria com o laboratório Merck Sharp & Dhome (MSD), referência em medicamentos oncológicos, iniciada em 2016. No acordo, a MSD desembolsou cerca de US$ 250 milhões para a Moderna.
“Essa colaboração de longo prazo combinando a experiência da Merck em imuno-oncologia com a tecnologia pioneira de mRNA da Moderna levou a uma nova abordagem de vacina sob medida”, disse o médico Eliav Barr, vice-presidente sênior e chefe de desenvolvimento clínico global do Merck Research Laboratoires.
Ainda em fase 2, o estudo com a Spikevax avaliou a eficácia da vacina em conjunto com o imunoterápico Keytruda, da MSD. Foram acompanhados 157 pacientes graves, em estágios avançados de melanoma. Todos foram submetidos à extração cirúrgica do câncer. Em seguida, o grupo foi dividido em dois.
O primeiro foi tratado apenas com a terapia padrão contra a doença, à base do remédio da MSD. O segundo, além do medicamento, recebeu também a vacina da Moderna. Desse grupo, vieram os resultados anunciados hoje.
“Isso pode ser tão grande quanto o Keytruda ou até maior”, afirmou o CEO da Moderma. Nos primeiros nove meses de 2022, o medicamento da MSD movimentou US$ 15, 5 bilhões, em vendas.
A vacina de mRNA “ensina” às células de defesa do organismo a identificar e atacar as células cancerosas. Esse mecanismo de ação é o mesmo usado pela Pfizer/BioNTech, em seu imunizante contra o SARS-CoV-2.Aliás, cerca de dois meses atrás, a Moderna entrou com um processo contra violação de patente contra a Pfizer/BioNTech.
Apesar do entusiasmo em torno da combinação da Spikevax com a Keytruda, Os resultados ainda não foram apresentados em uma revista científica ou um congresso – o que, na medicina, funciona como uma chancela para os estudos clínicos.
Além disso, muitos medicamentos que se revelam promissores na fase dois dos estudos clínicos, decepcionam na última etapa de avaliação. E ainda que esses resultados sejam comprovados, até que o medicamento seja autorizado pelas autoridades sanitárias e estejam disponíveis no mercado, ainda vai levar muito tempo.
Mas, Bancel, CEO da biofarmacêutica, ontem era pura animação. Contou que estava se sentindo como em janeiro de 2020, quando a vacina da Moderna se revelou eficaz contra o SARS-CoV-2. “É a mesma coisa para mim, mas o inimigo agora é o câncer”, comemorou. “Sabemos que a tecnologia funciona.”