A Ambipar entrou com um pedido de tutela cautelar em caráter antecedente na Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) para evitar um possível rombo financeiro de quase R$ 11 bilhões, decorrente da ameaça de vencimento antecipado de dívidas por parte dos credores.

A informação consta no documento enviado ao Tribunal, obtido pelo NeoFeed. Nele, a empresa argumenta que todos os contratos financeiros contêm cláusulas de vencimento cruzado, o que acarreta um “gravíssimo risco de insolvência imediata”.

A medida foi aprovada pela Justiça, que aprovou a proteção pelo prazo de 30 dias, com a possibilidade de renovação por mais 30 dias. O juiz Leonardo de Castro Gomes também apontou quatro administradores judiciais para acompanhar o processo.

A Ambipar anunciou ao mercado nesta quinta-feira, 25 de setembro, que ajuizou a tutela cautelar, medida conhecida no mercado como preparatória para uma recuperação judicial, por conta de uma recente operação envolvendo green bonds, que “geraram consequências financeiras negativas, em razão de variação na cotação e negociação de seus valores mobiliários”. A entrada do pedido foi antecipada pelo site Pipeline.

A notícia caiu como uma bomba no mercado. As ações da Ambipar registravam queda de 53% por volta das 13h na B3, cotadas a R$ 5,40, dando à empresa um valor de mercado de R$ 9,01 bilhões. Em 2025, os papéis acumulam uma desvalorização de 58,4%.

Segundo o pedido feito pela Ambipar, assinado pelos escritórios Galdino Advogados e Salomão Advogados, a operação em questão é um empréstimo de US$ 35 milhões firmado com o Deutsche Bank, instituição com quem tem um total de US$ 550 milhões em débitos.

A empresa firmou três contratos de derivativos no dia 18 de setembro, na modalidade swap, como dação em pagamento de títulos emitidos pela empresa no exterior, no caso, os green bonds.

De acordo com a petição, o Deutsche Bank, “sem qualquer respaldo contratual”, está exigindo o aporte de garantias adicionais, “com base não apenas na diferença negativa das taxas fixadas nos contratos de swap, mas também nas desvalorizações dos PIK Bonds [títulos de dívida da empresa] no mercado exterior”.

Por conta disso, o Deutsche Bank passou a exigir da Ambipar o aporte de garantias “em valores muito superiores aos que seriam exigíveis, o que já gerou nos últimos dias um dispêndio de caixa significativo, da ordem de mais de R$ 200 milhões”.

A Ambipar destacou ainda que o Deutsche Bank exige o pagamento do próximo aporte de garantia, que venceria hoje, um montante de quase R$ 60 milhões, sob pena de vencimento automático e antecipado da dívida de US$ 550 milhões.

A Ambipar diz que recorreu ao pedido de tutela cautelar diante da dificuldade de se obter em curto prazo um acordo com todos os seus credores relevantes “para que não adotem tais medidas [vencimento antecipado]”, considerando as cláusulas de vencimento cruzado de suas dívidas. O processo aponta que o Santander entrou em contato com a empresa para exigir o pagamento de US$ 119 milhões em dívidas.

Os títulos de dívida da Ambipar vinham em queda no mercado exterior nos últimos dias, diante de preocupações a respeito de movimentações em sua administração e na dívida.

Na segunda-feira à noite, 22 de setembro, a companhia anunciou uma emissão de R$ 3 bilhões em debêntures para recomprar títulos em circulação, movimentação que acendeu o sinal de alerta.

A operação vem num momento em que a Ambipar passa por uma reestruturação de sua administração. No mesmo dia em que anunciou a emissão, a companhia informou que o conselho de administração aprovou a saída de João Piran De Arruda do cargo de diretor financeiro.