Avaliada em € 14,9 bilhões e dona de bandeiras como a Ticket, a francesa Edenred já tinha uma ampla presença no Brasil quando decidiu estender suas fronteiras no País. Em junho de 2022, o grupo lançou a Punto, operação que marcou sua entrada no mercado local de adquirência.
Na época, a chamada guerra das maquininhas, baseada em taxas agressivas em troca de ganho de market share, já deixara de ditar as regras do setor. O que não significa que, cessado esse fogo cruzado, a disputa nesse front esteja pacificada, dado que muitos players sobreviveram a essas batalhas.
Um dos nomes mais recentes da leva de empresas que invadiu o segmento nos últimos anos, a Punto já escolheu qual espaço quer ocupar e como vai avançar nessa nova trincheira. Para ganhar escala, o plano é utilizar as armas que já estão em seus “próprios domínios”.
“Não temos a agressividade de ser a maior adquirente nem ter o maior faturamento do setor”, diz Cristiane Nogueira, diretora-geral da Punto, em entrevista ao NeoFeed. “Por isso, não vamos para o mar aberto. Nossa prioridade é mergulhar na base de clientes da própria Edenred.”
O fato de se restringir a esse aquário não limita o poder de fogo do negócio. Com operações que vão do seu mercado tradicional de benefícios, com a Ticket, a ofertas em segmentos como frotas e mobilidade, a Edenred tem 690 mil estabelecimentos que usam ao menos um pedaço desse portfólio no País.
Para efeito de comparação, a Cielo, uma das líderes do mercado de adquirência, fechou o segundo trimestre de 2023 com uma base de 958 mil estabelecimentos em sua base, queda de 5,7% sobre igual período, um ano antes.
Ainda distante desses números, a Punto revelou ao NeoFeed alguns dados da operação em pouco mais de um ano desde o seu lançamento. Nesse intervalo, sua rede inclui mais de 20 mil estabelecimentos, com uma base instalada de mais de 25 mil máquinas e um volume total de 51 milhões de transações.
“Somos agnósticos na captura”, ressalta Nogueira, sobre o fato de o equipamento da Punto aceitar pagamentos das principais bandeiras do mercado. Entre elas, Visa, Mastercard e Elo. “Mas, em outra ponta, vamos nos concentrar nos ramos onde somos especialistas.”
Como a Punto, da Edenred, quer ganhar escala na adquirência
Em seu primeiro ano “nas ruas”, o gás inicial da Punto veio do foco em postos de gasolina, que, hoje, respondem por cerca de 14 mil estabelecimentos cadastrados. Agora, o plano é dar mais atenção e velocidade na conversão de clientes da Edenred em outros setores.
O segmento de alimentação, com restaurantes e supermercados, inaugurou essa fila recentemente, com um projeto-piloto que abrangeu mil clientes e que começa a ganhar tração. Assim como as farmácias, clínicas de saúde e lojas de material de construção.
A presença e o portfólio das demais marcas da Edenred nesses segmentos não são o único componente da Punto para reforçar sua oferta e converter essa base. Assim como outros players do setor, a empresa também investe em parcerias – cujos nomes não foram revelados – em áreas como software de gestão.
“Em postos, por exemplo, onde existe muita fragmentação, tivemos que trabalhar em cima de quase 40 parceiros de conciliação”, diz Nogueira. “Temos buscado cada vez mais parceiros com produtos e serviços complementares para concentrar todas as necessidades daquele setor na nossa máquina.”
Com uma equipe de mais de 130 profissionais, a empresa também está encorpando seu portfólio com soluções criadas dentro de casa. A primeira é um aplicativo lançado em julho, onde os estabelecimentos conseguem, entre outros recursos, monitorar as vendas e contas a receber em tempo real.
Nos próximos meses, a Punto também vai oferecer soluções como o chamado Tap to Phone. O conceito, que transforma os celulares em máquinas de pagamento, é uma das novas tendências do setor e já vem sendo adotado por nomes como Stone, Cielo, Mercado Pago e CloudWalk.
Ao mesmo tempo, a companhia está atuando como um hub de digitalização no desenvolvimento de ferramentas que dialogam com outras operações da Edenred. Em um exemplo, suas máquinas capturam transações via QR Code da Ticket Log, a marca de gestão de frotas e de mobilidade do grupo.
M&As à vista?
Em um contexto mais amplo dessa interação, o lançamento da Punto se insere num direcionamento global divulgado pela Edenred no fim de 2022. Entre outros pontos, o plano, batizado de Beyond, envolve justamente a ambição de expandir a operação em negócios adjacentes.
No Brasil, um dos elementos adicionais é o fato de que o mercado de benefícios, carro-chefe do grupo, está passando por uma série de mudanças que promete redesenhar a competição nesse espaço nos próximos anos.
Com essa pegada de ir além do seu negócio tradicional, a meta da Edenred é chegar a um patamar de receita global de € 5 bilhões em 2030, ante € 2 bilhões em 2022. Para isso, a empresa tem cerca de € 2 bilhões no caixa que podem ser destinados para fusões e aquisições.
Uma pequena parcela, não revelada, dessa cifra bilionária já foi acessada pela Punto no Brasil. No fim do ano passado, a companhia incorporou a Sysdata, empresa de meios de pagamento com sede em Belém (PA) e que já mantinha uma parceria de anos com a Edenred. E outros acordos não estão descartados.
“Não estamos restritos ao ecossistema da Edenred”, ressalta Nogueira. “Se fizer sentido e permitir acelerar nosso crescimento, podemos buscar qualquer modelo. Seja uma parceria, uma aquisição ou mesmo uma joint venture.”