Enquanto XP e BTG Pactual recorrem aos agentes autônomos para surfar a onda de investidores pessoa física na B3 e acabam estimulando a chegada de novas plataformas ao mercado, uma abordagem mais direta - sem assessores e "na raça" - também tem se mostrado bem-sucedida.
A Clear, corretora que pertence à XP e se especializou em atender o chamado "day trader", capta os clientes diretamente por meio da sua plataforma e chegou em 2021 a um ritmo de 80 mil novas contas por mês.
A companhia não divulga qual é o número total de investidores nem o montante sob custódia, mas afirma que dobrou a quantidade de usuários em relação ao início de 2019 e hoje conta com um a cada quatro CPFs cadastrados na B3, que, por sua vez, se aproxima de uma base de 4 milhões de pessoas físicas.
A corretora, porém, não está na sozinha na disputa direta pelos novos CPFs que diariamente passam a fazer parte da Bolsa. A Toro, adquirida pelo Santander e a Warren também são corretoras que apostam no autoatendimento e trabalham com clientes que investem em renda variável.
Até mesmo corretoras que historicamente são ligadas à renda fixa estão se aventurando na captação de investidores mais arrojados, como a Easynvest, comprada pelo Nubank no ano passado.
"Com o avanço do número de pessoas falando sobre investimentos nas redes sociais, tem havido uma evolução muito grande no aprendizado e no conhecimento das pessoas físicas, por meio de influenciadores, que contam com bastante capacidade de análise", afirma Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear.
Apesar do avanço dos juros, que tiram atratividade da renda variável, Indech ainda vê um alto potencial de crescimento para o número de pessoas que investem em ações. "Com 4 milhões de CPFs cadastrados, estamos apenas no começo, se comparamos com o tamanho da população economicamente ativa no Brasil", afirma o estrategista-chefe da Clear.
Para ele, a receita para atrair pessoas que estão fora do mercado é investir em uma combinação de custo baixo com educação financeira. O primeiro ponto contou com uma contribuição da própria Clear quando a corretora decidiu zerar a taxa de corretagem em 2018, dando início a movimentos similares em outras plataformas. O segundo ponto, por sua vez, é um processo contínuo e tem a rede social como palco fundamental.
Além dos juros altos serem uma barreira, o estrategista-chefe ressalta que o Brasil é historicamente marcado pela alta volatilidade, o que afasta investidores mais conservadores, mas destaca que hoje há um "gigantesco" leque de opções para que se invista no exterior.
"Temos cerca de 700 BDRs negociados no mercado nacional. Há também os ETFs. E a B3 tem trabalhado em novas possibilidades", comenta.