Na sexta-feira passada, um tema começou a ser ventilado, aqui e ali, na rede social LinkedIn. E, no decorrer do fim de semana, o burburinho ganhou força. A série de mensagens postadas e compartilhadas convergia para um ponto: uma onda de demissões na operação brasileira da consultoria PwC.
O NeoFeed apurou que os cortes na PwC compreenderam mais de 600 funcionários. O número representa cerca 12% do quadro total do grupo, que conta com 5 mil profissionais na operação brasileira.
Além do número de demissões e de o fato de ser uma das chamadas “big four” na área de auditoria e consultoria, ao lado de KPMG, Deloitte e EY, uma questão chamou ainda mais a atenção. A PwC foi uma das empresas que encamparam o movimento Não Demita.
Lançado no início de abril, na esteira dos primeiros impactos da Covid-19, o movimento foi idealizado por 40 companhias que se comprometeram a não demitir nenhum de seus funcionários pelos dois meses seguintes. Ao lado da PwC, figuraram nomes como Itaú Unibanco, Bradesco, Renner e BRF. Desde então, diversas outras empresas aderiram à iniciativa.
Juntamente com as demissões anunciadas, Ao menos duas regionais, Cuiabá (MT) e Sorocaba (SP), tiveram suas operações encerradas. Procurada, a PWC não se manifestou até o fechamento desta reportagem.
As demissões teriam começado entre os cargos mais seniores, entre meados de junho e o início de julho. O cenário de cortes iminente fez com que algumas pessoas do alto escalão se adiantassem e tomassem a decisão de deixar a empresa. “Eu resolvi sair por discordar dessa decisão e de quantas pessoas ela envolveria”, diz um desses graúdos executivos.
Boa parte dos cortes, no entanto, foi anunciada na quinta-feira, 9 de julho, no nível do staff da operação, e compreenderam praticamente todas as unidades da empresa, em especial, as áreas de consultoria e de tax. O segmento menos impactado foi a área de auditoria.
“Aparentemente, não houve um critério para os desligamentos”, diz uma das pessoas demitidas. “A lista tem desde pessoas e até sócios com mais de 20 anos na empresa até profissionais que estava há um ano na operação.”
A mesma fonte diz que, a princípio, um dos motivos por trás do corte expressivo é a inadimplência de parte dos clientes, a partir do avanço da pandemia. E, ao mesmo tempo, a dificuldade de trazer novas empresas para a carteira nesse período.
“Na conversa que tive com um dos sócios, há cerca de um mês, ele me disse que a empresa estava com apenas 75% da meta batida”, diz. “Até então, antes da crise, as áreas vinham trabalhando acima das metas”, acrescenta.
“O discurso interno, meio velado, é de as coisas estão, momentaneamente difíceis, e por isso as demissões”, afirma um ex-executivo da PwC, que ainda tem contatos entre os sócios. “Mas até para contrapor, outras integrantes das big four, como a EY, estão em ritmo de contratação.”
Internamente, já havia uma expectativa entre as equipes sobre essa decisão. “As equipes das regionais de Cuiabá e Sorocaba já haviam sido avisadas do fechamento desses escritórios”, afirma um dos profissionais. “Mas nós não achávamos que isso teria um efeito em toda a operação no País, como estamos vendo.”
Outro ex-funcionário conta que, em abril, quando a empresa anunciou que era uma das idealizadoras e signatárias do movimento Não Demita, houve um alívio entre os funcionários. “Mas logo na sequência, fomos informados que todos os gerentes teriam jornada e salários reduzidos em 50%, nos termos da Medida Provisória 936, o que trouxe uma certa desconfiança”, observa.
O clima ganhou contornos mais críticos no início de junho, quando os mesmos profissionais foram informados que a inclusão na MP estava revogada. “Ficamos 24 horas no escuro. Depois, o sócio líder de cada área falou com algumas das pessoas que tinham recebido a nova mensagem, sinalizando que elas estariam na mira de um desligamento”, acrescenta.
“Quando o prazo do Não Demita foi encerrado, todo mundo ligou uma luz de alerta”, afirma mais um profissional que deixou de integrar o quadro da PwC na quinta-feira. “Na sequência, a empresa revogou a questão da MP e, aos poucos, fomos tendo notícia da saída de alguns sócios.”
Segundo os ex-funcionários ouvidos pelo NeoFeed, até o momento, a empresa não revelou se essas pessoas terão alguma condição especial atrelada à demissão. A única informação é de que esses profissionais terão a opção de contar com o plano de saúde até o início de novembro, custeado pela companhia.
Entre aqueles que deixaram a empresa, há quem agradeça os anos passados na companhia. “Eu entendo a decisão da empresa. No início da pandemia, ninguém tinha ideia de que teria toda essa extensão”, diz uma das fontes.
Ao mesmo tempo, outros profissionais têm críticas ao modo como a empresa conduziu o processo. E cita o longo processo seletivo da empresa para reforçar essa visão. “Somos instigados a estudar sobre os valores da PwC, entre eles, o principal, cuidar das pessoas”, afirma. “E justamente nessa questão, eles deixaram a desejar nesse momento.”
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