Após a virada de página com a tentativa frustrada da OPA da família Dubrule, o Grupo Toky, fusão de Tok&Stok e Mobly, apresentou o balanço do primeiro trimestre do ano com receita líquida combinada de R$ 381,4 milhões e Ebitda de R$ 53,1 milhões.
Como os dados financeiros da Tok&Stok não eram públicos há 12 meses, não é possível fazer comparação. Mas antes da união das marcas de móveis e decorações, a Mobly havia apresentado uma queima de caixa de R$ 3,6 milhões no primeiro trimestre de 2024.
“Nesse período, a gente conseguiu acelerar bastante as sinergias e agora é possível dizer que estamos tratando de uma empresa única, mesmo com a independência de cada uma das marcas”, diz Victor Noda, CEO do Grupo Toky e cofundador da Mobly, em entrevista ao NeoFeed.
Nos primeiros três meses do ano, a Tok&Stok alcançou um crescimento de 4% em receita, enquanto a Mobly caiu 12,2%. No consolidado do grupo, a alta na receita líquida foi de 163,2%.
“No caso da Mobly, era esperado. Desde setembro, a gente reduziu 30% em marketing, já que percebemos que estávamos performando bem, mesmo com menos investimentos nessa área”, diz o CEO. “Hoje, o momento da empresa é de mais rentabilidade.”
Para Marcelo Marques, diretor financeiro e de relações com investidores, o crescimento da Tok&Stok só foi possível a partir de toda estrutura oferecida pela Mobly.
“É um caso de estratégia. A Mobly chegou com uma gestão mais eficiente e ajudou a cortar gastos da Tok&Stok, que tinha custos inchados. Juntando as duas, a margem cresce”, diz Marques.
Na avaliação do presidente da companhia, a tendência é de que, nos próximos meses, Mobly passe a crescer mais do que a Tok&Stok, principalmente a partir do terceiro trimestre. “A empresa tem uma concentração maior de online, que é um mercado que cresce mais, além de um grande espaço para abertura de novas lojas.”
Com 17 lojas físicas, a Mobly tem hoje quase 70% de sua receita oriunda dos canais digitais. Deste total, metade vem do site da empresa e outra parte de marketplace. Já a Tok&Stok, que possui hoje 50 unidades físicas, o faturamento do online representa só 15% - e, até aqui, sem nenhuma presença em plataformas de marketplace. A proposta, agora, é justamente equilibrar as fatias da receita.
A explicação para o avanço do Ebitda no primeiro trimestre está justamente no plano de sinergia e redução de custos, a partir da efetiva junção da operação das companhias, em novembro do ano passado.
“Em um trimestre, a gente já alcançou quase 50% a mais do que todo o ano passado nessa linha, o que mostra a eficiência que alcançamos. Tivemos ganhos com ajustes de melhor precificação e avanço de quase dois pontos percentuais com um frete mais eficiente. Ainda há muita coisa a fazer, mas estamos conseguindo arrumar a casa”, diz o CEO da Toky.
Segundo Marques, o resultado ficará ainda mais claro nos próximos trimestres, já que o resultado ainda está ‘poluído’ com custos a partir da união das operações, como mudança no quadro de funcionários e revisão de contratos.
“O segundo trimestre é o de menos vendas de móveis no ano. Ainda assim, na comparação ano a ano, a gente espera um resultado bem superior ao de 2024”, diz o CFO.
Ainda que com o resultado satisfatório no trimestre, o grupo Toky continua com o desafio de reverter o prejuízo do negócio, que foi de R$ 39,3 milhões. No primeiro trimestre de 2024, a Mobly havia reportado prejuízo de R$ 21,3 milhões.
“O importante para a gente é que a operação hoje é rentável. A expectativa é de que o prejuízo siga por alguns anos, por causa da dívida. Mas a pergunta que fazemos é se estamos gerando fluxo de caixa para pagar essa conta. E, hoje, a resposta é sim”, afirma Noda.
Redução em logística e fornecedores
No plano de redução de custos, a iniciativa está dividida em três fases. A primeira foi relacionada a custos rápidos, como duplicidade de funções e de contratos. A segunda, que é a atual, está relacionada ao entendimento do modelo de compra com fornecedores e de logística.
“Estivemos na China para conversar com empresas. A Tok&Stok tinha 180 fornecedores cadastrados daquele país, às vezes com compras de um único produto a cada dois anos. Não fazia sentido”, diz Marques. “Achamos que dá para trabalhar com menos de 25% desse volume.”
A terceira fase da sinergia, segundo o CFO, é direcionada a processo de mudanças no sistema operacional, que devem se estender até o segundo semestre de 2026.
“Isso significa que, no ano que vem, ainda não teremos um ano de cruzeiro. A expectativa é de que toda a sinergia esteja concluída em 2027”, afirma Marques. “De qualquer forma, a filosofia de apenas uma empresa já existe.”
Até janeiro de 2026, a companhia encerrará as operações do centro de distribuição da Tok&Stok, de 60 mil metros quadrados, que fica em Extrema, Minas Gerais. Tudo ficará concentrado no CD da Mobly, em Cajamar.
Em junho deste ano, o segmento de móveis já será direcionado para o espaço logístico na Grande São Paulo (a Mobly tem outros dois centros, em Santa Catarina e no Espírito Santo. Somente com essa mudança, a economia anual projetada é de R$ 30 milhões.
Outra iniciativa será em instalar outlets da Tok&Stok em lojas da Mobly, para otimizar espaço, como ocorreu recentemente na unidade que fica na Rodovia Anchieta. Há um plano de mais duas operações semelhantes ainda em 2025.
Opa frustrada
Para o diretor-presidente do Grupo Toky, o desgaste provocado pelo movimento da família Dubrule, fundadora da Tok&Stok, que, junto com a Home24, controladora da holding, tentou mudar o estatuto da companhia, chegou a afetar o resultado da empresa.
“Era uma OPA inviável e muito prejudicial para os minoritários e isso ficou provado na assembleia que rejeitou a retirada do poison pill. Ficou bem clara essa mensagem ao mercado”, diz Noda. “Agora podemos voltar a focar 100% no resultado da companhia.”
Marque complementa: “Estava uma bagunça na Tok&Stok e a melhor resposta é o balanço do primeiro trimestre. O resultado poderia ter sido melhor se não tivéssemos perdido tanto tempo com isso. Eles nos atacaram pessoalmente e ainda pretendemos buscar esse ressarcimento na Justiça.”
No acumulado de 2025, as ações do Grupo Toky na B3 registram desvalorização de 35,33%. No dia 3 de junho, o ticker mudará de MBL3 para TOKY3. A companhia tem valor de mercado de R$ 119 milhões.