A farmacêutica francesa Sanofi recebeu oito propostas de interessados na compra da sua unidade de medicamentos genéricos Medley. O valor ficou entre US$ 420 milhões e US$ 450 milhões.

As interessadas são Aché, Althaia, Cimed, EMS, Eurofarma, Hypera, Torrent e União Química, conforme revelou com exclusividade o NeoFeed no fim de outubro.

Agora, seis candidatas irão para a segunda fase para, aí sim, definir o novo dono, em uma nova rodada de negociação. Os nomes que seguirão na disputa serão informados pela Sanofi até a sexta-feira, 19 de dezembro.

O NeoFeed apurou que os documentos com os planos de compra foram enviados às 10h de quarta-feira, 10 de dezembro, por e-mail, para os representantes do banco de investimentos Lazard, que assessora a Sanofi no processo de venda da Medley.

No texto, as empresas tiveram que informar qual valor pretendem pagar pela Medley e qual é a equação financeira necessária para confirmar a oferta. Nesta primeira fase, a nota de corte para entrar na short list será financeira.

A avaliação da Sanofi, segundo fontes do setor, é que não há razão para outro critério de seleção neste momento, pois todos os concorrentes são considerados possíveis “bons compradores”.

“A base está qualificada. Até mesmo as companhias menores conseguiram buscar garantias em bancos para seguir no deal”, afirma uma fonte a par do negócio.

Antes de receber os documentos oficiais, os executivos da Sanofi já haviam conversado com as interessadas para entender se estariam dispostas em seguir, de fato, no negócio e se teriam viabilidade financeira para isso. E recebeu respostas positivas de todas elas.

A Cimed, por exemplo, confirmou na proposta que tem como principal parceiro o fundo soberano de Singapura (GIC), que em março deste ano comprou fatia minoritária da empresa de João Adibe Marques. Ao NeoFeed, o CEO revelou que “iria até o fim” para comprar a Medley.

No caso da Althaia, que tem como fundador Jairo Yamamoto, que foi CEO da Medley por 19 anos, a empresa confirmou que obteve aval financeiro para sustentar a possível compra - o mercado fala na participação de um fundo, que entraria como sócio.

A EMS, dentre o grupo dos interessados, é uma das poucas que não têm dívidas. Por isso, a tendência é que ela use cerca de 75% de recursos próprios no negócio e busque os 25% restantes em bancos.

Até mesmo as que teriam mais dificuldades financeiras, com dívidas em seus balanços, conseguiram mostrar caminhos à Sanofi para suportar a operação. Neste caso, as propostas devem ser em um nível mais “pé-no-chão” e menos agressivo do ponto de vista da disputa.

Mais disputado que o previsto

Executivos do mercado farmacêutico a par do assunto disseram ao NeoFeed que a Sanofi já avisou às concorrentes de que o deal está mais disputado do que o imaginado inicialmente. Por isso, a perspectiva é de que o valor final seja maior do que foi apresentado nesta primeira etapa.

A perspectiva é que o preço, na última etapa, chegue a algo próximo de US$ 550 milhões, ainda assim um valor que representa quase metade do US$ 1 bilhão que inicialmente a empresa francesa queria receber na venda.

Com a revelação dos concorrentes que irão para a próxima fase, a Sanofi também irá dar mais detalhes do cronograma, que incluirá uma fase de due diligence. As candidatas poderão contratar uma auditoria externa para levantar todas as informações da unidade brasileira de genéricos da Sanofi.

Ainda que a última fase não seja na forma de disputa aberta, a expectativa dos executivos das empresas é que a Sanofi faça uma espécie de leilão, sem que as candidatas saibam o preço oficial dos concorrentes, mas busque entender a disposição em elevar as propostas.

Inicialmente, o plano era de que o vencedor fosse anunciado em março, mas, segundo apurou o NeoFeed, a maior probabilidade é que o fim do negócio ocorra no meio de fevereiro.

A perspectiva é que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) demore quase um ano para dar o aval na compra, o que significará que a nova dona possivelmente assumirá de fato a Medley no início de 2027.

Nos esclarecimentos às empresas, a Sanofi informou que o Ebitda da Medley em 2025 deve ficar um pouco abaixo de R$ 200 milhões, e a receita, perto de R$ 1,3 bilhão. A empresa francesa comprou a Medley em 2019, da família Negrão, por R$ 1,5 bilhão.

“A Sanofi está muito confortável com os números do ano, o que deve agilizar o fim da negociação. Dificilmente será necessário fazer alguma mudança nas informações já passadas às empresas”, confirma uma fonte do setor.

No pano de fundo da disputa pela Medley está o bilionário mercado de medicamentos genéricos no Brasil. Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (PróGenéricos) mostram que o setor faturou R$ 20,4 bilhões em 2024.

A tendência é de fechar 2025 com crescimento de 7% e representar, até o ano que vem, 40,7% de todo o volume de medicamentos vendidos nas farmácias do Brasil. Em média, são vendidas 2,5 bilhões de caixas de genéricos por ano.

Em nota, a EMS disse que “confirma seu interesse pelo negócio”, sem apresentar mais detalhes. A Cimed afirmou que “segue em processo de avaliação do ativo e mantém seu interesse no negócio”. A Althaia não respondeu.

Também procurada pelo NeoFeed, a Sanofi informou que “está avançando em sua transformação global para se tornar uma líder biofarmacêutica impulsionada por P&D, potencializada por IA, com foco em medicamentos e vacinas inovadores.”

A empresa também lembrou, na nota, que consolidou, em julho de 2025, o processo de independência da Medley, com a nomeação de Lucia Rossato como diretora-geral.

“O objetivo do processo de independência é liberar todo o potencial da Medley como líder no mercado de genéricos, com maior autonomia para inovar, crescer e responder rapidamente às demandas do setor”, completa a empresa, sem entrar em detalhes sobre o processo de venda.