Ao lado da J&F e da Adnoc, estatal de petróleo de Abu Dhabi, a brasileira Unipar se firmou, nos últimos meses, como uma das protagonistas na novela da aquisição da Braskem. O interesse veio do fato de enxergar no ativo uma peça estratégica em seu plano de dobrar de tamanho nos próximos dez anos.

Além das negociações travadas nos bastidores, nesse páreo, a cartada oficial da petroquímica, maior produtora de cloro e soda e segunda maior produtora de PVC na América do Sul, veio à tona no fim de junho, com uma proposta não-vinculante de R$ 10 bilhões, cujo prazo venceu duas semanas depois.

Nesta quinta-feira, no episódio mais recente desse negócio, a Braskem informou ter recebido uma nova proposta, no valor de R$ 10,5 bilhões, encampada agora pela Adnoc. E, na trilha desse movimento, a Unipar decidiu sair de cena nessa disputa.

“Não faremos uma nova proposta pela Braskem”, diz Mauricio Russomanno, CEO da Unipar, ao NeoFeed. “Tínhamos uma proposta na mesa, por uma circunstância daquele momento, associada a um valor, a uma tese e a uma lógica. Teríamos que refazer todo esse processo. Então, decidimos buscar outras oportunidades.”

A desistência nesse processo não muda, porém, a ambição da companhia de duplicar sua operação em uma década. Tampouco altera a disposição da empresa no campo dos M&As e o papel que o crescimento inorgânico terá nessa jornada.

“Fazer um M&A nunca é uma tarefa simples. Muitas coisas precisam se encaixar para um acordo dar certo”, observa o executivo. “Mas, sem dúvida, precisamos continuar e vamos nos engajar em outros projetos.”

Ele ressalta que eventuais acordos podem abranger tanto ativos no Brasil como em outras geografias. Entre outros fatores, a tese inclui ainda a busca por empresas industriais, de capital intensivo e que tenha, preferencialmente, negócios B2B.

A necessidade de buscar alternativas não está limitada a essa esfera. No decorrer de 2023, uma série de fatores, como a queda na demanda na construção civil e na indústria em geral fez com que os preços das commodities recuassem e afetassem a demanda por PVC e soda.

Nesse contexto, os negócios no setor de saneamento têm sido uma válvula de escape para contrabalancear o momento mais restrito nas outras frentes. E, muito além de uma defesa diante desse cenário, Russomanno ressalta o potencial da área, na esteira do marco legal aprovado em 2020.

“Muitas empresas que ganharam licitações e conseguiram financiamento para adicionar capacidade nas regiões em que o saneamento vai crescer estão começando suas obras”, afirma. “E se nós não adicionarmos capacidade agora, não vamos conseguir acompanhar essa demanda.”

Parte desse ganho de escala no setor está embutido na fábrica em construção em Camaçari, na Bahia. Com um investimento de cerca de R$ 140 milhões e uma estrutura modular, que será transportada para o local, a unidade está com 90% da sua montagem realizada.

Além de Camaçari, uma demonstração mais recente de que os tempos mais conturbados em seu mercado não vão colocar um pé no freio dos investimentos da Unipar foi dado no fim de setembro. E com um aporte bilionário.

A fábrica da Unipar em Cubatão (SP)

A empresa anunciou um investimento de mais de R$ 1 bilhão na modernização de sua fábrica em Cubatão (SP). Entre outros elementos, o projeto envolve a troca das tecnologias de mercúrio e diafragma para a produção de cloro e soda. E já reserva espaço para novas expansões.

“Estamos dando sequência à nossa estratégia e ao nosso plano, seja com expansões, novos projetos e produtos, seja com aquisições”, diz o CEO. “Com essas iniciativas e Cubatão, 2024 será o ano em que mais vamos investir na história da companhia.”

Parte do fôlego e da segurança para seguir nessa trilha foi reforçado em outubro com uma emissão de debêntures de R$ 750 milhões. Os recursos serão usados para alongar dívidas com vencimentos em 2024 e 2025, e reforçar a estrutura de capital da companhia.

Terceiro trimestre

Enquanto isso, a Unipar ainda lida com os efeitos do mercado menos favorável. A empresa fechou o terceiro trimestre de 2023 com um lucro líquido de R$ 190,7 milhões, um desempenho 3,5% inferior ao reportado em igual período de 2022. Mas com alta de 2,4% sobre o segundo trimestre desse ano.

Em base anual, a receita líquida de R$ 1,36 bilhão recuou 29,6%. Já em relação ao segundo trimestre de 2023, houve um crescimento de 3,5%. Já o Ebtida de R$ 282,5 milhões representou uma queda anual de 56,7% e uma retração, contra abril a junho de 2023, de 23,7%.

A companhia encerrou o trimestre com uma dívida líquida negativa de R$ 263,4 milhões, contra a dívida líquida negativa de R$ 191,8 milhões registrada um ano antes.

As ações preferenciais classe B da Unipar fecharam o pregão dessa quinta cotadas em R$ 73,26, uma ligeira alta de 0,44%. A empresa está avaliada em R$ 7,4 bilhões e seus papéis acumulam uma desvalorização de 16,7%.